A vida é uma caixinha de surpresas. Estava eu na minha rotina de ir para a escola, para casa e para o cinema, e de ver filmes em casa, de ler o quanto posso, quando recebo o convite de Amanda Aouad, atual vice-presidente da Abraccine, para que eu integrasse o júri do Fest Aruanda, em João Pessoa-PB, um festival de que ouvir falar muito bem por alguns anos, mas que não estaria presente no meu radar, até pelo fato de meu trabalho como crítico de cinema estar ainda mais independente, por assim dizer, sendo o meu veículo principal de trabalho o Diário de um Cinéfilo. O que não quer dizer que eu não esteja aberto para os festivais fora de minha cidade, embora tenha que driblar uma série de obstáculos para ir até eles, levando em consideração que sou professor da rede pública. Ter trabalhado nas eleições e dispor de algumas folgas ajudou muito a me ausentar do trabalho que é meu verdadeiro ganha-pão, para ter a honra de acompanhar o festival.
Chegar a uma cidade diferente da nossa e com a pouca presença de pessoas conhecidas, como é o caso deste evento, é uma atividade bem empolgante, pelo grau de imprevisibilidade. Na quinta-feira de manhã, logo que chego ao aeroporto do Recife, rola um apagão no 4G da Vivo e fico sem me comunicar com os organizadores. Ainda bem que consegui encontrar o rapaz que me levaria para João Pessoa. E então foi só alegria. Fomos pegar uma outra pessoa em Recife que iria ao festival e foi ótimo para mim fazer esse passeio, ouvindo histórias das duas cidades, sua geografia, sua cultura. Quando dizem que viajar é como ler um livro, eu diria que a comparação tem um quê de verdade.
No mais, gostei bastante das instalações do Hotel Caiçara, que fica perto da orla (praia de Tambaú). Depois de um almoço na cobertura que traz uma visão de um dos mais bonitos céus que eu já vi, e de descansar um pouco para a noite de abertura do festival, chega a hora de partir com um grupo em direção ao Manaíra Shopping. O festival acontece numa sala gigante da Cinépolis (a MacroXE), o que pra mim é novidade em se tratando de festivais. Em geral, acompanho esse tipo de evento em salas mais independentes ou cinemas de rua. Mas o pessoal do Fest Aruanda soube usar muito bem a estrutura a seu favor. Até porque dispõem de excelente som e imagem, além de um espaço muito bom para as apresentações.
Depois de um coquetel que funcionou como uma maneira de conhecermos pessoas e de nos apresentarmos, o evento começa com VTs de pessoas que passaram pelo festival (a crítica de cinema Flávia Guerra), que passarão (Toni Tornado), que não poderão comparecer (Murilo Benício), que têm o festival como uma espécie de mãe (os atores Mayana Neiva e Luiz Carlos Vasconcelos), entre outros. Enquanto isso, a música escolhida para as vinhetas é “Cavaleiro de Aruanda”, em clara alusão ao nome do festival. Aruanda é tanto o céu dos orixás quanto um marco do cinema brasileiro e paraibano, o curta homônimo de Linduarte Noronha. Isso, aliás, diz muito também do quanto a sociedade paraibana vem abraçando a cultura negra, especialmente quando os dois homenageados do festival são Zezé Motta e Toni Tornado, que ilustram a capa do evento.
A noite de abertura rendeu muitas emoções e um claro sentimento de gratidão a Lúcio Vilar, o idealizador do festival. Ficou muito claro também o orgulho que o pessoal sente da cultura paraibana, e o quanto o evento se expande para cidades do interior. Há também uma transparência muito grande em relação aos patrocinadores do festival, tanto de empresas privadas quanto de públicas, como é o caso da Cagepa, a companhia de água do estado. É como se estivéssemos vendo o encontro especial de uma grande família que se reúne para celebrar suas vitórias, como o acordo com uma universidade em San Diego, na Califórnia, ou o sucesso do streaming dedicado a filmes paraibanos. O clima positivo do momento político atual também ajudou a tornar o evento particularmente feliz. Enfim, é fácil compreender porque tantos críticos de cinema fazem questão de participar do Fest Aruanda. Quem veio quer vir de novo. Aliás, desde já, deixo meus parabéns ao crítico Amilton Pinheiro, o curador do festival, embora o evento mal tenha começado.
Antes da homenagem a Zezé Motta, uma das maiores atrizes do cinema brasileiro, além da teledramaturgia e de ser também cantora, fomos apresentados ao teaser do curta-metragem MEU PAI, ELIÉZER ROLIM, de Minna Miná. As breves imagens nos apresentam ao professor e cineasta do título.
Em seguida, foi exibido o curta A VIDA SIMPLES DE JURANDY MOURA, sobre o poeta, crítico e cineasta. O documentário, dirigido por Lúcio Vilar e Marcus Vilar, possui uma carga afetiva comovente, sem falar no quanto nos deixa interessados pela obra do autor, tanto a poesia, quanto seus curtas, que inclusive sofreram pressão da ditadura por mostrarem a realidade miserável da sociedade paraibana da época. Seu filme mais famoso é PADRE ZÉ ESTENDE A MÃO (1972) e seu celebrado livro de poemas chama-se A Vida Simples.
Quando Zezé Motta desce ao palco traz um discurso bem sucinto e diz preferir cantar uma canção para o momento. Canta à capela “A Missão”, de Paulo César Pinheiro e João Nogueira. Um momento lindo para encerrar a noite, antes de iniciarem a exibição de XICA DA SILVA, de Cacá Diegues. A noite acabou com um jantar numa barraca em Tambaú, com um pessoal muito legal da crítica e de gestão de eventos de cinema: Orlando Margarido, Gilson Packer, Flávia Miranda e Thiago Stivaletti.
Quando Zezé Motta desce ao palco traz um discurso bem sucinto e diz preferir cantar uma canção para o momento. Canta à capela “A Missão”, de Paulo César Pinheiro e João Nogueira. Um momento lindo para encerrar a noite, antes de iniciarem a exibição de XICA DA SILVA, de Cacá Diegues. A noite acabou com um jantar numa barraca em Tambaú, com um pessoal muito legal da crítica e de gestão de eventos de cinema: Orlando Margarido, Gilson Packer, Flávia Miranda e Thiago Stivaletti.
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