domingo, abril 18, 2021
TENSÃO E DESEJO
Entre os anos de 2012 a 2015, eu me animei bastante para ver os filmes de Alfredo Sternheim. Aqui no blog é possível ver textos meus sobre sete filmes do cineasta: PAIXÃO NA PRAIA (1971), ANJO LOIRO (1973), PUREZA PROIBIDA (1974), A HERANÇA DOS DEVASSOS (1979), CORPO DEVASSO (1980), VIOLÊNCIA NA CARNE (1981) e BRISAS DO AMOR (1982). Como Sternheim esteve vivo neste período (ele faleceu em 2018) e era um amigo no Facebook, pude ter a honra de apresentar os meus humildes textos a ele, uma pessoa muito acessível.
Seu livro, Alfredo Sternheim - Um Destino Insólito, lançado na Coleção Aplauso Cinema Brasil pela Imprensa Oficial, é um dos mais gostosos de ler, mas, ao mesmo tempo, é um dos que mais frustram quando queremos mais detalhes sobre os filmes, que são citados muito rapidamente. Peguei-o agora para ler algo a respeito de TENSÃO E DESEJO (1983) e obtive bem poucas informações. Mas tudo bem. Diferente dos outros livros do projeto, o seu é o que mais característica de autobiografia possui.
Um dia desses estava dando uma olhada na minha pilha de DVD-Rs e vendo o que tinha que podia ser repassado para o meu HD externo e que pudesse organizar em pastas. E vi que tinha uma cópia de TENSÃO E DESEJO, que marcou o fim da carreira de Sternheim no cinema “convencional”, antes de ele aderir à nova e triste realidade do sexo explícito que invadiu o cinema da Boca do Lixo. A cópia não é tão boa, mas ainda é melhor do que outras que vi por aí. Infelizmente, por mais atraente que seja o cinema brasileiro, temos que ter um pouco mais de boa vontade para ver essas cópias de qualidade muitas vezes sofrível.
É um filme que funciona como uma bela dobradinha com BRISAS DO AMOR. Ambos foram filmados na bela cidade litorânea de Mongaguá, ambos trazem Sandra Graffi e Luiz Carlos Braga no elenco, ambos possuem uma aproximação com a narrativa da Velha Hollywood, ambos costuram muito bem flashbacks em seu enredo. A diferença é que TENSÃO E DESEJO tem um clima mais parecido com o de um filme noir. Acompanhamos a jornada da professora vivida por Graffi, que, depois de ter sofrido bastante com a ruptura com o namorado, resolve deixar a capital e aceitar o emprego de professora numa cidadezinha no litoral.
Acontece que ela acaba sendo assediada e provocada por moradores do lugar logo que chega e testemunha também a hipocrisia daquela sociedade. O curioso é que o filme não fica velho para os padrões morais de hoje, já que trata temas muito atuais, o assédio e o machismo. A personagem de Graffi faz questão de fazer o que quiser da vida, usar a roupa que quiser, e se relacionar com quem quiser, mesmo que a pessoa seja uma prostituta (Zilda Mayo) ou um jornalista com tendências esquerdistas (Armando Tiraboschi).
Embora seja um filme de bastante nudez, as cenas de sexo ocorrem mais com naturalidade e elegância do que com intensidade erótica - ao contrário, por exemplo, de VIOLÊNCIA NA CARNE, curiosamente o filme dele de que mais gosto. Aqui há uma trama envolvendo um crime, a morte de uma mulher (Meiry Vieira), e a protagonista é considerada a principal suspeita.
Ainda assim, por mais que haja esse crime, o filme parece ter uma intensão muito maior de lidar com as relações entre seus personagens e explicitar a maldade, o preconceito e principalmente a hipocrisia da sociedade. Essa característica - de trazer uma maior complexidade moral de seus personagens frente a uma trama com elementos de suspense - já havia sido percebida em outros trabalhos do diretor, como PAIXÃO NA PRAIA e VIOLÊNCIA NA CARNE. E não há nada de errado com isso.
+ DOIS CURTAS BRASILEIROS
O REI DO CAGAÇO
Precursor do média SUPEROUTRO (1989), considerado por muitos sua obra-prima, Navarro já começa este seu trabalho em super-8 com uma imagem bem transgressora: um super close de um ânus em trabalho de evacuação generosa. Assim como vemos em SUPEROUTRO, o sujeito de O REI DO CAGAÇO (1977) também faz questão de jogar o seu produto no carro de um homem de classe média. Há também, rapidamente, a figura do maníaco que ataca os traseiros das mulheres com um canivete, e imagens que não têm uma intenção de contar uma história, funcionando mais como uma sucessão de cenas e palavras que procuram fazer algo que a própria geração do cinema marginal não foi capaz, brincando com os recursos pobres disponíveis.
REDENÇÃO
Sempre fico curioso com cada novo trabalho de Neville d'Almeida. Até por ele ter passado tanto tempo sem filmar e ter voltado com o ótimo A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ (2015). Aqui neste curta, codirigido por Joaquim Haickel, que eu só fui saber da existência graças a um fórum, ele apresenta a história de uma jovem com aparência de evangélica que se apresenta em um bordel pedindo emprego de cantora. Depois de mostrar o belo corpo, é aceita como a nova prostituta do estabelecimento. REDENÇÃO (2017) diz a que veio perto do final, mas é quando o filme mostra suas fragilidades e também sua vulgaridade (e não no sentido moral da coisa). Ainda assim, vale ver, especialmente quem for apreciador do trabalho de Neville. O filme foi rodado no Maranhão.
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