terça-feira, abril 27, 2021

PRELÚDIO PARA MATAR (Profondo Rosso / Deep Red)



Passei uns dias meio triste e doente. Até achei que estava com Covid. Hoje fiz um teste e deu negativo. Talvez isso (o resultado negativo) tenha me animado um pouco e gerado um efeito positivo na minha mente e no meu corpo. Por isso estou aqui tentando escrever para o blog, aproveitando um pouco do entusiasmo surgido, para falar sobre um filme visto já há alguns meses, e que, por algum motivo, não queria que ficasse pra trás. Pelo menos não era essa a ideia quando comprei o BluRay Argento Essencial, que vem com dois filmes, PRELÚDIO PARA MATAR (1975) e SUSPIRIA (1977), provavelmente os dois títulos mais celebrados de Dario Argento, mestre do giallo e do horror italiano.

Revi PRELÚDIO PARA MATAR por ocasião da morte de Daria Nicolodi, em novembro do ano passado. Daria foi companheira de Argento, musa de alguns de seus filmes e mãe de Asia. Havia visto esse filme pela primeira vez há cerca de 18 anos em uma fita VHS que o amigo Fábio Ribeiro enviou pra mim junto com outros dois filmes do diretor (na moda de gravar em velocidade EP para caber mais coisas). Até hoje lhe sou grato pela generosidade de fazer essas gravações naquele período ainda de transição entre o analógico e o digital.

Rever mais recentemente em BluRay fez eu prestar mais atenção principalmente no som. O subwoofer brilha na música do Goblin na trilha sonora. Magistral. Às vezes cheguei até a me desligar da trama para ficar apreciando o som. Assim como as imagens oníricas. Por mais que haja uma trama com toques freudianos, a exemplo de PSICOSE, trata-se claramente de um giallo com aura de pesadelo. As imagens predominantemente escuras acentuam esse toque.

Para gostar de PRELÚDIO PARA MATAR é interessante deixar de lado preconceitos com interpretação ruim ou roteiro bem amarrado. O que importam aqui são a construção de clima, as investigações em ambientes sombrios, os ataques violentos do assassino misterioso e o enredo envolvendo uma criança, que acaba por remeter ao prelúdio de HALLOWEEN (a música de Carpenter também lembra muito a deste filme, assim como a questão do trauma de infância). Aliás, esse filme não influenciou apenas Carpenter, mas também De Palma e a franquia JOGOS MORTAIS.

E se é um filme que influenciou bastante, ele também foi claramente influenciado pelo suspense BLOW-UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO, de Michelangelo Antonioni, que também contou com Davis Hemmings como protagonista. Além do mais, ambos os filmes trazem artistas tentando solucionar um crime com o uso da memória, seja ela através de um negativo fotográfico, seja da mente humana.

Ambos os protagonistas (do Argento e do Antonioni) têm uma incerteza sobre o que realmente viram durante o momento do assassinato (ou imediatamente posterior). No caso de PRELÚDIO, a vítima é a médium Helga Ulmann, que aparece no início do filme sentindo a presença de um assassino em uma palestra. Ele teria supostamente vindo para observar as habilidades dela.

Marcus, o protagonista, um pianista de jazz, chega tarde demais para salvar Helga, mas, depois, assim como em BLOW-UP, acredita que viu alguma coisa muito importante para a investigação. Quando o filme volta a essa questão perto do final, com aquele corredor de quadros e um espelho, provoca bastante fascínio. Daria Nicolodi é a jornalista que se alia ao pianista para a resolução do caso, mas também correr muito perigo. É graças a ela que surgem alguns momentos de humor, momentos que parecem um pouco estranhos ao filme, como as cenas do acento do carro mais baixo para o passageiro.

A qualidade exagerada ou afetada do estilo do filme (que é comum a muitos outros gialli) pode desagradar a muitos, mas a mim me parece uma evolução natural do que era o suspense criminal iniciado por Hitchcock em PSICOSE e mais adiante em FRENESI. O que Argento faz de clássico aqui é resgatar o velho whodunit, mas com uma roupagem nova, seja pelo uso abundante de sangue (e da cor vermelha), seja pelas câmera subjetiva do ponto de vista do assassino, auxiliado pelo clima de pesadelo.

+ DOIS FILMES

MISTÉRIOS DE ALÉM-TÚMULO (Misterios de Ultratumba)

Este é o segundo filme do box Obras-Primas do Terror - Horror Mexicano que vejo. MISTÉRIOS DO ALÉM-TÚMULO (1959), de Fernando Méndez, não chega a ser tão empolgante quanto O ESPELHO DA BRUXA, de Chano Urueta, mas é impressionante em muitos aspectos. Sua trama, que a princípio tem um tom gótico sobrenatural até simples, com a promessa que um homem faz a outro de que o primeiro a morrer voltaria para contar ao amigo, vai se tornando mais complexa à medida que entram novos personagens, novas situações e novos interesses. Acho admirável que em 1959 o México já fizesse cinema de horror de maneira tão bem conduzida. E que bom que as cópias deste e de outros filmes estão muito bem preservadas, sinal de que é um país que, aparentemente, dá o devido valor às suas obras de arte. Melhor transição de cena de MISTÉRIOS DO ALÉM-TÚMULO: a forca seguida da cova. Muito bom.

OS INOCENTES (The Innocents)

Segunda vez que vi OS INOCENTES (1961), de Jack Clayton. A primeira foi num Corujão na Rede Globo, dublado e mutilado, já que se trata de um filme fotografado originalmente em scope. Provavelmente também cortaram a cena inicial pré-créditos, com vários segundos de tela preta. É um filme elegantíssimo e que influenciou OS OUTROS, de Alejandro Amenábar. Mas a trama é de certa forma mais simples na estrutura, embora mais complexa na psicologia dos personagens, especialmente da governanta vivida por Deborah Kerr, mas também das crianças. Há muitos méritos, como o fato de o filme demorar a usar elementos gráficos de fantasmagoria. E nas primeiras vezes que surgem, é tudo feito com silêncio, apostando mesmo na imagem e no arrepio. Foi a minha preparação para a minissérie A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY, de Mike Flanagan, inspirada no mesmo livro de Henry James. Pretendo ver outras versões, mesmo sabendo que não são melhores que esta.

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