quarta-feira, abril 07, 2021

MTV AO VIVO - PATO FU NO MUSEU DE ARTE DE PAMPULHA



Recentemente, com as notícias de mortes de pessoas queridas, tinha dias que eu não conseguia fazer simplesmente nada. Em um desses dias, eu me peguei vendo uns vídeos do Pato Fu no YouTube. E chorei vendo o vídeo de "Me explica", no dia que soube da morte da Helen Lúcia e com o Santiago ainda lutando pela vida na UTI. "Me explica" nasceu inspirada no caso do acidente de Herbert Vianna, que o deixou na cadeira de rodas e trouxe a morte de sua esposa, mas é uma canção que pode muito bem ser aplicada a qualquer sentimento triste de ausência, à mágica da morte, esse estar seguido do não estar.

Depois de ver esse vídeo no computador percebi que não tinha em minha coleção o DVD do show - como pode, meu Deus? Eu tinha o CD apenas. Acabei conseguindo comprar no Mercado Livre e chegou hoje. No meio de tantas notícias ruins, foi o alento do dia, foi a alegria até, por mais que a banda, a partir deste disco, fosse tomar um caminho cada vez mais voltado à melancolia. Não que não houvesse já indícios disso desde Gol de Quem? (1995), mas é algo que foi aumentando com Televisão de Cachorro (1998) e com Isopor (1999).

Hoje foi apenas a segunda vez que eu vi MTV ao Vivo - Pato Fu no Museu de Arte de Pampulha (2002). A primeira foi justamente na MTV, em 2002. No momento do show, além da sofisticação dos novos arranjos para as faixas já conhecidas, percebi que esse tom mais depressivo estava mais presente, especialmente nas novas faixas, "Por perto", "Não mais", "Nada pra mim" e a já citada "Me explica", o único rock enérgico das quatro. As outras três são todas canções centradas muito no violão - no caso de "Nada pra mim", o teclado de Lulu Camargo é também fundamental.

Esse tom deprê abre a apresentação com "Tribunal de causas realmente pequenas", faixa retirada de Ruído Rosa (2001) e canção que é quase um hino da desesperança, muito em sintonia com os tempos sombrios em que vivemos hoje. Mas, para não ficar só na tristeza, a faixa aparece em conjunto com a raivosa "Licitação". Foi uma excelente maneira de começar o show.

Curiosamente, o CD traz uma ordem bem distinta das canções. As recém-citadas, por exemplo, não comparecem no disco. No CD a banda optou por começar com a nova versão de "Eu", que troca as guitarras pesadas pelos instrumentos acústicos dos ilustres convidados Hique Gomez e o saudoso Nico Nicolaiewsky. Assim, o uso do acordeon, do violino e do serrote, além do piano e do teclado (de Lulu Camargo) mostra que a banda se importava com seu público, ao querer de fato trazer um material completamente novo. Na verdade, eu até gostaria que a banda fosse dessas de lançar discos ao vivo de turnês, mas infelizmente não rolou até hoje um, a não ser os do projeto Música de Brinquedo.

Algumas versões ficaram incrivelmente lindas, como a de "Porque te vas", com Hique e Nico auxiliando nos vocais de Fernanda Takai. A propósito, como pode eu já estar no sexto parágrafo sobre o Pato Fu e não ter citado ainda a Fernanda? Por mais que John Ulhôa seja a mente da banda, o coração é a Fernanda. Aliás, talvez essa comparação seja totalmente absurda e Fernanda seja mais mente (até por ser virginiana) e o John mais coração. Não importa. O que importa é que Fernanda, com sua voz singular, cheia de doçura e até certa fragilidade, me traz uma emoção que nenhuma cantora de vozeirão é capaz de trazer.

E neste show ela transborda graça, seja quando dança nas canções mais agitadas, como "Porque te vas", "Vivo num morro" e "Made in Japan"; seja assustando os carolas em "Capetão 66.6 FM”; seja trazendo extrema delicadeza em faixas como "Canção pra você viver mais" e "Nada pra mim".

Quem não conhece o Pato Fu não tem ideia do quanto a banda é plural. E do quanto essa pluralidade em nenhum momento parece incoerente com o corpo de trabalho da banda. Como um exemplo da estranheza gostosa da banda, o que é aquela apresentação de "Rotomusic de Liquidificapum", hein?   

Outra coisa que eu vejo como muito positiva neste DVD é a apresentação breve que há entre uma série de músicas, com entrevistas e informações sobre as novas canções, sobre os entrevistados e sobre os próprios membros da banda.

E pensar que eu passei esses últimos 19 anos sem rever tudo isso... Gratidão imensa, John, Fernanda, Ricardo e Xande. Vocês são incríveis!

+ DOIS DVDS MUSICAIS

FERNANDA TAKAI - NA MEDIDA DO IMPOSSÍVEL: AO VIVO NO INHOTIM

Eu sei que querer que o registro em DVD do show Na Medida do Impossível fosse tão bom quanto ver ao vivo seria demais, mas eu fiquei um pouco desapontado com a falta das intervenções ou das palavras espirituosas de Fernanda durante os shows. Mas, uma vez que aceitamos a proposta mais limpa e pura de ter apenas as canções, está tudo de boa. A qualidade da imagem e a reprodução está de dar gosto. E algumas faixas ganham força, como a própria canção de início ("Partida"), que conta com a versão ao vivo como extra (de arrepiar). Não gostei dos novos arranjos para "Nada pra mim" e para "O ritmo da chuva". Mas me emocionei ao ouvir de novo "Liz", além de ter curtido muito a surpresa do DVD, que é "De onde vens", do Dorival Caymmi. Ah, só para deixar registrado: o show ao vivo (na Caixa Cultural) foi um dos melhores shows que eu vi na vida. E muita coisa que poderia estar neste registro em DVD e que eu senti falta foi coisa do primeiro disco solo da Fernanda Takai. Mas como eu sei que ela já havia trabalhado as canções do primeiro disco bastante, então dá pra aceitar de boa. Ano de lançamento: 2017.

TITÃS E XUTOS & PONTAPÉS - ROCK IN RIO AO VIVO

O show é curto, mas não é das melhores performances dos Titãs. Ao vivo eles são muito bons, mesmo na fase decadente. É legal conhecer um pouco do repertório da banda portuguesa que toca e canta com eles, mas às vezes as diferenças não ajudam muito. O que ajuda é o amor pelo rock e as paredes de guitarra distorcida o tempo inteiro (e os hits, que são vários). O ponto alto da noite nem é música deles: "Aluga-se", do Raul Seixas. Que na versão dos Titãs ficou animadora. Ano de lançamento: 2012.

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