Longa-metragem de estreia do alemão Patrick Vollrath, 7500 (2019) consegue montar uma história de muita tensão que se passa totalmente dentro da cabine de um avião atacado por terroristas. O fato de termos uma visão limitada acaba por tornar tudo ainda mais interessante. Em uma produção convencional teríamos toda a reviravolta com os passageiros sofrendo a pressão e o terror da situação (ataque físico dos terroristas, avião prestes a cair etc). Em vez disso, e até como forma de diminuir os custos de produção, temos uma obra que foge da vulgaridade.
E é também uma obra que se pretende realista. O ator que interpreta o capitão do avião é um verdadeiro piloto, e muito do ótimo desempenho de Joseph Gordon-Levitt se deve ao fato de ele ter aprendido com o profissional e ter criado certa intimidade com a cabine, com seus botões, alavancas, meios de comunicação etc. Para trazer este realismo, o filme até namora o documentário, se iniciando com imagens de câmeras de segurança de um aeroporto de Berlim, com uso do silêncio como trilha sonora.
E, de fato, Vollrath parece querer construir um thriller anti-hollywoodiano, no sentido de sair das convenções da maioria dos filmes de ataques ou sequestros em aviões. A câmera não é estática, mas permanece boa parte do tempo focada no personagem de Gordon-Levitt, como se houvesse uma terceira pessoa ali dentro da cabine como testemunha. E essa testemunha somos nós, os espectadores.
O filme é bem-sucedido especialmente em sua primeira metade, quando a tensão crescente nos mantém interessados e muito curiosos com o desenrolar da situação. Porém, quando vemos que há uma resolução acontecendo pouco depois da segunda metade da narrativa, vemos que o diretor e seu corroteirista não souberam desenvolver um desfecho satisfatório.
Enquanto os terroristas estão apenas, com exceção de um deles, do lado de fora da cabine, lutando para entrar, o medo e a tensão se manifestam de maneira bastante intensa. Inclusive, com as ameaças de morte a membros da tripulação e de passageiros se intensificando e se tornando ainda mais dramáticas.
Talvez a estrutura de filme B também funcionasse melhor se o diretor optasse por um projeto de duração ainda menor, com cerca de 70 minutos, por exemplo. Isso tornaria o filme, além de mais enxuto, muito mais eficiente na construção da tensão e da densidade dramática, já que a meia hora final quase leva tudo a perder. Ainda assim, 7500 é um thriller muito bem-vindo e mais um exemplo de filme feito por um novo time de cineastas que têm surgido nesta virada de década.
+ TRÊS FILMES
PROJETO FLÓRIDA (The Florida Project)
Que filme lindo!! Demorou um pouco pra me ganhar, mas quando me ganhou, encheu meu coração. Estava precisando de uma obra dessas. E a garotinha, que gigante que é a performance da menina Brooklynn Prince. O diretor Sean Baker se revela um dos novos grandes cineastas surgidos nos últimos anos, filmando com uma luz extraordinariamente linda, como se para esconder a escuridão da vida dos personagens. Ano: 2017.
O CASTELO DE VIDRO (The Glass Castle)
É o caso de filme que tem uma narrativa prejudicada por tentar se ligar demais à obra original. Ou talvez nem seja só esse o problema: algumas opções da direção são bem manjadas. O que conta pontos a favor são os dois personagens principais: o pai meio sem noção vivido pelo Woody Harrelson e a filha, vivida pela Brie Larson na fase adulta. Interpretações bem boas. Direção: Destin Daniel Cretton. Ano: 2017.
CHRISTINE
O filme já se torna interessante pela própria história mórbida, da âncora que se mata ao vivo e em cores. Sinto falta de mais impacto, mas talvez o filme queira ser mais sutil mesmo, mais respeitoso com a personagem. E Rebecca Hall está sensacional! Performance digna de Oscar. Direção: Antonio Campos. Ano: 2016.
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