terça-feira, maio 12, 2020

CUJO

Quando eu era criança (ou pré-adolescente) via e revia nas sessões noturnas na televisão um filme sobre um cachorro demoníaco que assombra uma família suburbana chamado CÃO DO DIABO, dirigido por Curtis Harrington. Na época, eu não era um cinéfilo e nem assistia a todos os tipos de filmes. Mas sentia uma atração por filmes de horror e este filme talvez tenha sido o primeiro a me aproximar do gênero. Lembro que eu e minha irmã ficávamos assistindo e nossos pais insistindo para que fôssemos dormir logo, pois estava tarde.

A lembrança disso veio recentemente, quando tive a oportunidade de ver CUJO (1983), de Lewis Teague, que surgiu no cardápio da Netflix recentemente, e em ótima qualidade de imagem e som. O filme é inacreditável como um exemplar de tensão crescente e de como uma ideia aparentemente ridícula - um amigável cão S. Benardo é mordido por morcegos e passa a matar as pessoas em sua volta - pode resultar em um filme mais do que eficiente.

Na verdade, a ideia vem de um romance de Stephen King. Desde que Brian De Palma levou CARRIE  - A ESTRANHA para o cinema, no final da década de 1970, o número de obras do escritor adaptadas para as telas cresceu muito. Só no ano de 1983, além de CUJO, tivemos dois filmes de diretores consagrados adaptados do romancista best-seller: NA HORA DA ZONA MORTA, de David Cronenberg, e CHRISTINE - O CARRO ASSASSINO, de John Carpenter. Ou seja, King era mestre em pegar ideias aparentemente fora dos padrões da realidade mais pé no chão e transformá-las em algo realmente assustador.

A fim de dar suporte ao suspense e ao terror que tomariam a segunda metade do filme, a narrativa de CUJO nos aproxima de uma família que está passando por problemas derivados de um caso extraconjugal. A esposa, vivida pela bela Dee Wallace (que havia trabalhado em E.T. - O EXTRATERRESTRE, de Steven Spielberg), está preocupada com seu casamento, por estar indo pra cama com outro homem que mora nas proximidades e que inclusive frequenta sua casa. Com sentimento de culpa, até por perceber o quanto seu marido (Daniel Hugh-Kelly, veterano de telenovelas americanas) é carinhoso consigo e com o filho pequeno, ela está prestes a encerrar a relação.

Em paralelo, vamos acompanhando a evolução do cão Cujo, o S. Bernardo do título, que aos poucos vai sendo dominado pela raiva, a ponto de atacar e matar o próprio dono. Toda essa preparação é necessária para que nos importemos com os personagens, especialmente a mulher e o filho. Aliás, o menino (Danny Pintauro) entrega uma interpretação tão impressionante que fiquei me perguntando qual teria sido o método para a atuação, e se ele não teria ficado, de alguma maneira, traumatizado após as filmagens.

Lewis Teague dá um show de direção nas cenas de ataque do cachorro ao carro, inclusive com tomadas que mostram o interior do veículo por todos os lados, acentuando uma situação de se estar acuado. E de aproximar o espectador do medo que aquela mulher e aquele garotinho de seis anos estão passando.

Há algo de bastante moralista na trajetória de sofrimento da mulher. Afinal, ela tinha cometido adultério. Esse tipo de coisa era bastante comum nos filmes de horror da década de 1980, especialmente os slashers, mas depois fiquei me perguntando se também era comum na literatura de horror, já que Stephen King foi o grande idealizador de tudo. Isso não sei responder, mas com certeza não tira em nada o mérito do filme. Apenas traz à tona um tipo de pensamento que pode representar uma espécie de "verdade" aceita pela sociedade da época.

+ TRÊS FILMES

MEGATUBARÃO (The Meg)

Como diversão despretensiosa com cara de filme B, mas com orçamento de filme A, e momentos absurdos, é um filme até bem legal. Embora a gente saiba que vai esquecer dele em questão de dias. Ou será que não? No mais, efeitos bons, elenco internacional bem legal (gostei muito da atriz Bingbing Li, lindíssima) e o Rainn Wilson será o eterno Dwight. Jason Stathan convence como grande herói em registro de humor. Direção: Jon Turteltaub. Ano: 2018.

ILHA DOS CACHORROS (Isle of Dogs)

Não sou exatamente um fã de Wes Anderson, mas é sempre um prazer visual poder ver a perfeição com que ele situa seus personagens. Há espaço para a melancolia, mas interessante como isso nunca chegou a me comover. Talvez porque esse elemento é mostrado de uma maneira tão singular. O lance das vozes de atores e atrizes famosos na animação é outro ponto muito positivo. Ano: 2018.

PERIGO PRÓXIMO (Better Watch Out)

Bela surpresa, tanto por ser um filme que passaria batido por mim se não fosse a dica de um amigo, quanto pelo próprio plot em si. É melhor ver sem saber nada a respeito. Na trama, uma noite antes do Natal, casal sai e deixa seu filho de 12 anos com uma jovem babá (Olivia DeJonge), afinal a casa da família fica numa rua calma de subúrbio, num bairro considerado seguro. O menino logo tenta conquistar o amor da babá até que eles se deparam com estranhos invadindo a casa. Direção: Chris Peckover. Ano: 2016.

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