terça-feira, dezembro 26, 2017

O REI DO SHOW (The Greatest Showman)

A cota de filmes musicais bem que poderia ser maior, levando em consideração o sucesso de LA LA LAND - CANTANDO ESTAÇÕES. E eis que aparece um filme que está se autopromovendo com os nomes de dois músicos que compuseram as letras do filme de Damien Chazelle. Mas acontece que Benj Pasek and Justin Paul não fizeram as belas canções do filme de Chazelle, apenas as letras. E isso faz alguma diferença, pois as canções de O REI DO SHOW (2017), por mais que sejam grudentas, não são nada especiais. Ainda assim, não dá para negar a bela produção do filme do estreante Michael Gracey.

Também não incomoda tanto a história simples. Em geral, as histórias de musicais são simples mesmo. O que importa é o modo como essa história é contada a partir de um bom conjunto de canções que deveriam emocionar. Mas, por mais que as mentes por trás de O REI DO SHOW tenham preferido um tipo de sonoridade que se aproxima da música pop contemporânea, eles acabaram se inspirando no que de pior há nessa música pop. Ou seja, o que vemos é aquele tipo de música que se costuma ser vista em programas de calouros, desses que valorizam mais a extensão vocal do que qualquer outra coisa.

Além do mais, a cafonice dá o tom em O REI DO SHOW, que conta uma história até bastante curiosa, que é a da trajetória de P.T. Barnum, vivido por Hugh Jackman. Ele foi um sujeito que veio de família muito pobre, mas que era apaixonado por uma menina rica de sua cidade. Ele cresce, consegue se estabelecer financeiramente e leva a garota (Michelle Williams) consigo, para desgosto do pai da moça.

A ideia de construir um circo com pessoas singulares, que eram vistas como aberrações por boa parte da população da cidade, veio quando ele viu um anão atravessando a rua. O curioso é que hoje em dia tratar desse tema é até um pouco tabu, já que vender essas pessoas pelos seus "defeitos" ou singularidades não é tido com bons olhos, como pudemos ver em filmes que mostram a exploração perversa de tipos físicos, como VÊNUS NEGRA e HOMEM-ELEFANTE.

Até os animais, que hoje não são mais utilizados em circos, são praticamente escondidos do filme. São assuntos delicados, mas que são abordados até de maneira esperta, como mostrar essas pessoas como sendo especiais, no melhor sentido da palavra, além de dignas de aplausos, mesmo não sendo muito bem-vistas pelo crítico de teatro que teima em alfinetar o espetáculo de Barnum. Há algumas subtramas até que boas, como a da paixão do ator de teatro vivido por Zac Efron (que deveria se concentrar apenas em comédias mesmo) pela trapezista (Zendaya), mas a mais importante das subtramas mesmo é a que envolve a mulher que é considerada a melhor cantora da Europa, Jenny Lynd, vivida por uma deslubrante Rebecca Ferguson.

A atriz, aliás, está tão atraente e cheia de brilho que nem precisa se esforçar muito para parecer mais interessante do que a esposa de Barnum - o que aconteceu com Michelle Williams, que vive estampando agora um sorriso sem graça? Ela sempre foi assim ou foi piorando? Acontece que o filme também estraga o perigo do adultério, de Barnum ter um caso com essa mulher bela. Há um pouco (muito pouco) de tensão no ar, mas o filme prefere brincar com clichês manjados. As canções, em vez de ajudar, entrecortando as cenas dramáticas, acabam por estragar ainda mais.

De todo modo, O REI DO SHOW deve conseguir chamar a atenção de boa parte do público, além de ter conseguido uma vaga fácil no Globo de Ouro, devido ao aspecto musical. O filme ganhou indicações nas categorias de melhor filme (comédia ou musical), melhor ator (comédia ou musical) para Hugh Jackman e melhor canção para "This is me".

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