domingo, julho 23, 2017

EM RITMO DE FUGA (Baby Driver)

Talvez nem os fãs mais entusiastas de Edgar Wright prevessem a delícia que é EM RITMO DE FUGA (2017), este thriller de ação com muita música e muito amor, que aquece o coração e deixa o espectador com a adrenalina a mil, com suas sequências de perseguição e outras situações de perigo. A força de Wright na direção já se mostra no prólogo, que nos apresenta a um dos trabalhos do grupo de que faz parte o motorista de fuga Baby, vivido por Ansel Elgort.

Na sequência inicial, ao som de "Belbottoms", da Jon Spencer Blues Explosion, sem nenhum diálogo, o coração já bate mais forte, ao ritmo da canção devidamente escolhida por aquele sujeito com cara de bom rapaz. É cinema com C maiúsculo, com a habilidade que principalmente o gênero "ação" da melhor categoria é capaz de criar. Claro que há o débito com a música, que está sempre ali atuando como adjuvante na criação das cenas empolgantes, mas que mal há nisso, não é verdade?

Até porque o uso da música no filme é muito inteligente e nada óbvio. Mesmo quando ouvimos uma canção mais famosa, como "Easy", dos Commodores, ela é tão bem encaixada, dentro do estado de espírito do personagem, além de a canção por si só ser de uma beleza que enche os nossos corações, que a tal dívida que o filme tem com a música se torna peça essencial e não uma muleta. Aliás, mais perto do fim de EM RITMO DE FUGA, vamos ver o quanto esse prazer pela canção é também compartilhado por nós, espectadores.

E que beleza que é o diálogo (minimalista) de Baby com a garçonete encantadora vivida por Lily James, de nome Debora, hein? Eles conversam sobre ter uma canção com seus nomes. Há pelo menos duas com o nome dela, enquanto que, para ele, há infinitas possibilidades. E eis que estamos também entregues ao encanto da paixão que surge entre aquele belo e jovem casal nos momentos em que eles estão juntos. Nem em CINDERELA Lily James esteve tão encantadora.

E temos também o humor característico da obra de Edgar Wright. Ele comparece em diversos momentos, seja nos diálogos espertos dos diversos personagens, inclusive daqueles caras barra-pesada que ingressam na gangue dos assaltos (caso dos personagens de Jamie Foxx, de Jon Hamm e do chefão vivido por Kevin Spacey).

Porém, do mesmo modo com que Wright sabe nos deixar a maior parte do tempo com um sorriso de orelha a orelha e dar umas boas risadas de vez em quando, ele também sabe lidar com os momentos mais sombrios. Afinal, estamos diante de um filme de assalto com tensão, como FOGO CONTRA FOGO, de Michael Mann, ou MORTALMENTE PERIGOSA, de Joseph H. Lewis, e não um filme de assalto leve, tipo ONZE HOMENS E UM SEGREDO, de Steven Soderbergh. Por isso sabemos que o perigo está sempre por perto.

O fato de Baby ser um refém das chantagens do chefão Doc (Spacey) é um elemento que faz com que nos coloquemos em seu lugar. Ele está prestes a deixar aquele mundo do crime. E o seu sonho ganha forma na conversa com Debra, sobre querer sair daquele lugar e ganhar a estrada, ouvindo música. E para que melhor sonho do que encontrar a felicidade pegando a estrada com a pessoa amada? Mas sabemos que esse sonho não vai ser tão fácil de ser concretizado.

Tudo isso, incluindo as dificuldades dos nossos heróis e as várias cenas de perseguição, sendo uma delas a pé, fazem parte do prazer que sentimos em ver EM RITMO DE FUGA, um filme que traz uma injeção de ânimo tão grande em nosso espírito que, ao sair da sessão, dá vontade de dançar, ouvir música, correr (com o carro ou com as pernas mesmo), enfim, viver. E viver inclusive para poder ter o privilégio de rever EM RITMO DE FUGA. De preferência no cinema, novamente.

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