sexta-feira, julho 21, 2017

DE CANÇÃO EM CANÇÃO (Song to Song)

Talvez o problema de Terrence Malick foi ter acertado a mão em A ÁRVORE DA VIDA (2011), em que ele usou talvez pela primeira vez o uso da câmera-chicote, que trabalha a aproximação e a rejeição ao mesmo tempo. É um tipo de efeito muito interessante, mas imagina só ver uma obra inteira feita dessa maneira, e com cortes rápidos, que impedem que quase nunca possamos ver imagens estáticas, a não ser quando a câmera está dentro de um barco, por exemplo, como na cena com Cate Blanchett.

O que a gente pode perceber também em DE CANÇÃO EM CANÇÃO (2017) é o quanto Malick passou de cineasta existencialista e religioso para um homem interessado nas coisas, digamos, mais mundanas. Ele aborda o amor, algo transcendental em qualquer forma que ele seja apresentado, mas o diretor está muito interessado em filmar rostos bonitos. Se em A ÁRVORE DA VIDA e também em AMOR PLENO (2012) Jessica Chastain e Olga Kurylenko parecem figuras angelicais, esse sentimento é deixado de lado no novo filme.

Ou ao menos, é diminuído consideravelmente, já que a personagem de Rooney Mara parece estar vivendo uma crise de consciência tremenda, ao estar com dois homens ao mesmo tempo, traindo o namorado vivido por Ryan Gosling pela personificação do cafajeste conquistador vivido por Michael Fassbender. Os dois atores, é bom dizer, funcionam muito bem dentro desses papéis. Não é uma má escolha no casting. Mas o excesso de voice over e de tentativa de dar profundidade às suas angústias acaba por tirar-lhes a voz.

Por causa disso é que uma cena que deveria ser impactante, envolvendo Natalie Portman, acaba não tendo força. Seria por culpa da edição, que tirou muito de sua personagem no enredo? Quem sabe. Mas o fato é que assistir a DE CANÇÃO EM CANÇÃO é até um desafio. Não é todo mundo que entra na sala e fica até o final. Muitos espectadores vão embora, coisa que aconteceu com A ÁRVORE DA VIDA também. Assim, é preciso entrar na sala esperando ver um filme de Terrence Malick. O Malick dos anos 2010, mais disposto a contar uma história de maneira fragmentada e com esse estilo que ficou mais parecendo um cacoete.

Há também frustração na questão da música, que é anunciada no título. Algumas das canções são muito boas, mas quando elas começam a tocar e o filme fica parecendo um belo trailer (como são belos os trailers dos filmes do Malick, hein?), essas mesmas canções são interrompidas, causando mais irritação. Tudo em prol de manter o mesmo flutuar em vai-vens da câmera do mexicano Emmanuel Lubeski. Aliás, uma das melhores coisas do filme e o que mais segura o espectador é a beleza das imagens que Lubeski capta. Mais do que o interesse pelos músicos (Patti Smith, Iggy Pop, Red Hot Chilli Peppers).

E aí temos a beleza do elenco. Cate Blanchett aparece pouco, mas poucas vezes ela apareceu de maneira tão deslumbrante como em DE CANÇÃO EM CANÇÃO. É até perdoável que Malick tenha se deixado inebriar pela beleza de seu elenco. Fazer cinema é muitas vezes registrar a beleza dos corpos jovens da melhor maneira possível, a fim de eternizá-los. Em alguns momentos, Malick quase se deixa levar pelo lado mais sensual, com personagens, principalmente as femininas, tocando ou tendo tocado o seu sexo com volúpia. E, nisso, vale destacar também uma cena de amor entre duas mulheres, o que só aumenta o sentimento de fascínio do diretor pela beleza sensual, ainda que seja uma beleza sempre branca, emoldura por filtros e por uma arquitetura sempre de riqueza material e envolta pelas coisas que o dinheiro pode comprar.

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