sexta-feira, junho 30, 2017

FILHOS E AMANTES


Confesso que meu principal interesse em rever FILHOS E AMANTES (1981) era ter a chance de novamente apreciar a beleza de Lúcia Veríssimo, que tão pouco cinema fez. Na época da realização deste filme de Francisco Ramalho Jr. ela não era tão conhecida e por isso seu nome aparece apenas como terceiro nos créditos, logo após o título e logo após os nomes de Denise Dumont e Nicole Puzzi. A Nicole, por mais brilhante que seja, inclusive, nem tem um papel tão marcante, mas justamente por ter fama maior foi a única que apareceu no cartaz. Lembrando que foi em um filme com Nicole Puzzi, o ótimo ARIELLA, de John Herbert, que Lúcia primeiro apareceu no cinema, creditada com outro nome. (Corrijam-me, por favor, se a informação não proceder.)

Curiosamente, as três atrizes, principalmente Nicole Puzzi, abrilhantaram filmes de Walter Hugo Khouri. Denise Dumont esteve na obra-prima EROS – O DEUS DO AMOR (1981) e Lúcia apareceu em cena muito especial de AS FERAS (1995/2001). Quanto a Nicole Puzzi, ela teve a honra de estar em quatro trabalhos do nosso maior cineasta, começando por O PRISIONEIRO DO SEXO (1978). Mas qual é o sentido de falar tanto assim de Khouri, senão o amor que temos por ele? Creio que o fato de FILHOS E AMANTES possuir muitas das características vistas no cinema mais psicológico de Khouri, embora mostre o sexo como algo muito mais livre e sem estar tão ancorado em angústias.

As angústias são sentidas por Silvia (Veríssimo), que está grávida do namorado Roberto (André de Biasi) e que teme contar a ele a notícia, para que isso não estrague as férias que eles passarão em uma casa de campo em Itatiaia, no sul do Rio de Janeiro. É inverno e quase sentimos o frio também, principalmente na cena em que os personagens vão tomar banho nus em uma cachoeira, e acabam por mexer com ciúmes, desejos e situações complicadas, o que é natural para pessoas tão jovens, belas e cheias de vida, mas ao mesmo tempo tão griladas.

As anfitriãs da casa são a simpática Marta (Denise Dumont) e a reservada Bebel (Nicole Puzzi). A casa acaba também recebendo outro casal em uma visita surpresa, um ex-namorado de Marta, Dinho (Hugo DellaSanta), e sua atual namorada Carminha (Rosina Malbouisson). Diria que por mais que a presença desses dois seja importante para tornar ainda mais interessante a ciranda amorosa que circulará ao longo do filme, é nas subtramas dos dois que o filme se perde um pouco. Principalmente quando tenta emular o estado de espírito lisérgico de Dinho, viciado em drogas injetáveis.

Essas situações perigosas e dolorosas da vida (inclua-se aí a questão do aborto, que é debatida sem tomar partido) contribui para o aprofundamento dos personagens. E nisso é muito bem-vinda a cena em que Silvia e Dinho conhecem um casal mais velho, vivido por Walmor Chagas e Renée de Vielmond. Ele está com câncer terminal e abraça os instantes de vida que lhe restam com muito prazer. O encontro com esse casal e os momentos especiais desse encontro trazem algo de muito positivo para nosso espírito, tornando os demais problemas até banais, e o gosto pela vida e pelos pequenos prazeres de fundamental importância.

Daí a cena de sexo entre Marta e Roberto ser tão bonita e tão representativa desse desapego com as coisas que não importam. A própria Denise Dumont está muito bem nesse papel de mulher disposta a se libertar das amarras que a sociedade às vezes impõe. "Não vamos misturar as coisas" e "eu tenho um carinho muito grande por você" são coisas que ela diz sorrindo para o encantado Roberto.

FILHOS E AMANTES pode até não ser um filme perfeito, mas cada vez que penso nele, mais fico encantado com algumas memórias que ele traz. Claro que a admiração pela beleza próxima à perfeição de Lúcia Veríssimo contribui bastante para o nosso constante interesse, mas sabemos que não é só isso, que Francisco Ramalho Jr. e seu belo elenco conseguiram fazer um trabalho que merece ser visto e revisto com prazer.

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