segunda-feira, abril 10, 2017

SETE DOCUMENTÁRIOS BRASILEIROS























É a mesma ladainha sempre que escrevo sobre vários filmes na mesma postagem: não estou dando conta de escrever sobre os vários títulos vistos por mim ao longo de alguns anos. E eles só se multiplicam, embora eu esteja vendo menos do que gostaria. Há tantas lacunas a preencher, tantos filmes americanos clássicos e modernos, tantos filmes europeus das mais variadas épocas e dos mais variados gêneros. Asiáticos, então, nem se fala. E brasileiros também. Então, como já demorei um bocado para escrever sobre alguns documentários brasileiros (e alguns desses eu gostei bastante), resolvi incluir tudo aqui, tecendo comentários rápidos e rasteiros, para ao menos deixar registrado.

ESPAÇO ALÉM - MARINA ABRAMOVIC E O BRASIL (The Space in Between – Marina Abramovic and Brazil)

Na época que estive em São Paulo aproveitei para ver este filme que jamais passou no circuito fortalezense: ESPAÇO ALÉM – MARINA ABRAMOVIC E O BRASIL (2016), de Marco Del Fiol. Deixei de ver uma obra rara do cinema mudo (pois em São Paulo, com freqüência, há sempre muita coisa acontecendo e para cinéfilos é o lugar brasileiro ideal), aproveitei para ver este filme que estava bem-cotado na então existente Liga dos Blogues Cinematográficos. Acontece que acabei achando o filme um tanto chato e nem mesmo gostei da Marina Abramovic, que aqui parece estar fingindo entrar de cabeça em cada religião e cultura exótica brasileira que conhece. Neste filme, ela viaja por diversos lugares místicos do Brasil, pesquisando comunidades espirituais. Ela entra em contato com os rituais do Vale do Amanhecer, o xamanismo na Chapada Diamantina, o candomblé na Bahia, as curas do médium João de Deus e os cristais de Minas Gerais. Não sei se por causa do horário (começo da tarde), mas acabei dando umas cochiladas durante o filme.

WAITING FOR B.

Visto no festival For Rainbow do ano passado, WAITING FOR B. (2015), de Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel, acompanha grupos de fãs da cantora Beyoncé que, em 2013, acamparam no Morumbi durante dois meses para guardar os melhores lugares para ver a cantora. Um dos méritos do filme é que ele acaba se tornando um estudo sobre pessoas marginalizadas e que querem fazer por merecer o seu lugar ao sol. Composta principalmente por pobres, negros e homossexuais, esse grupo que se forma durante esse período, com o tempo passa a se sentir como uma família. O que eu acho que faltou no filme foi esse amor e essa aproximação que os diretores disseram que sentiram pelos personagens. A montagem acabou não beneficiando os personagens, de tão fragmentada que ficou.

ENTRE OS HOMENS DE BEM

Não sei se haverá outra oportunidade de ver ENTRE OS HOMENS DE BEM (2016), de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini, no cinema. Até o momento, que eu saiba, não há previsão de estreia. Mas é um filme urgente em tempos em que cada vez mais a direita fascista domina o país e se mostra dona da vasta maioria do Congresso Nacional. Jean Wyllys, militante da causa LGBT, é um dos homens mais odiados pela direita lá de Brasília e do Brasil inteiro por seu posicionamento honesto, mas que mexe com o ninho de víboras daquele lugar. Aliás, é preciso ter sangue de barata pra trabalhar ali, hein. Ou muita força para aguentar o tranco e continuar o bom combate.

MARTÍRIO

Quando termina a sessão de MARTÍRIO (2016), de Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho e Tita, o que mais fica na gente é um sentimento de impotência, de que de nada mais adianta fazer para evitar o fim da existência daqueles poucos índios que lutam pela sobrevivência de si mesmos e de suas famílias. O filme apresenta uma análise da violência sofrida pela tribo Guarani Kaiowá, que, mesmo sendo uma das maiores populações indígenas do Brasil, não consegue espaço para viver nas terras do centro-oeste brasileiro, correndo risco de morrerem assassinados pelos grandes proprietários de terras. A recomendação é que o público não se assuste com a relativamente longa duração do filme. Cada cena é de fundamental importância. E sofrer um pouco com aquele povo talvez seja necessário para tirar a gente de nossa bolha.

DIVINAS DIVAS

A ideia é melhor do que a concretização. E um documentário acaba funcionando bem ou mal por pura obra do acaso. DIVINAS DIVAS (2016), de Leandra Leal, é um desses casos. A ideia foi ótima e a realização foi feita com amor, mas as personagens (Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios), todas transexuais que lotaram teatros na década de 1970, acabam não parecendo tão interessantes assim dentro do recorte do filme. Talvez as perguntas não tenham sido boas o suficiente para que elas falassem algo mais inspirador. De todo modo, é um bom retrato dessas pessoas que um dia alcançaram a glória e que hoje vivem quase esquecidas. As histórias ficam, assim como algumas cenas memoráveis, como a longeva história de amor de um homem por uma delas.

O FUTEBOL

Outro dos documentários mais interessantes dos últimos anos, O FUTEBOL (2015), de Sergio Oksman, deveria ser mais visto, mas infelizmente o problema de distribuição acaba por impedir que mais pessoas possam ter contado com esse filme, que fala sobre a difícil relação entre um filho (o realizador) e o pai carrancudo. Como pano de fundo, a Copa do Mundo de 2014 e cada jogo que acontece. É uma obra inteligente pelas opções que toma (muitas delas graças à dificuldade que o pai coloca para assistir um jogo com o filho), e aqui o acaso conta pontos a favor do resultado final, por mais triste que seja.

JONAS E O CIRCO SEM LONA

Mais um documentário que aposta nos riscos, JONAS E O CIRCO SEM LONA (2015, foto), de Paula Gomes, acompanha a vida de um garoto de 13 anos de idade, o Jonas do título, que é filho e neto de artistas de circo. Ele tem o seu próprio circo improvisado e que é frequentado pelos moradores do bairro onde mora, em uma cidadezinha do interior da Bahia. Ele faz questão de cuidar de cada detalhe desse seu pequeno circo de brincadeira, mas que ele leva muito a sério. Pena que os amigos acabam se afastando e o circo vai morrendo aos poucos, junto com a dificuldade que Jonas tem em em gostar da escola e de estudar. Para ele, tudo aquilo é inútil. A mãe quer que ele estude e faz o possível para que ele não se desvie do caminho que ela acredita ser o melhor para o garoto. Interessante a intervenção da diretora Paula Gomes, bem como a angústia de Jonas, que acredita que o filme sobre sua vida não vai dar certo. É um belo filme.

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