quinta-feira, abril 13, 2017

METROPOLITAN























Para alguns cinéfilos, a escolha do primeiro filme visto no ano se torna uma espécie de ritual complicado que se confunde com uma superstição. Passamos a acreditar que começar com um belo filme vai ser sinal de que começamos o ano com o pé direito. Daí não arriscamos muito: preferimos a revisão de uma obra de que gostamos muito ou uma obra já consagrada pela crítica. Claro que a vontade de ver tal filme também influencia na escolha. E eis que METROPOLITAN (1990), de Whit Stillman, foi o primeiro filme que vi em 2017.

Trata-se do primeiro de apenas cinco filmes desse cineasta americano que costuma agradar bastante no circuito indie. METROPOLITAN lembra um pouco os trabalhos de Woody Allen, principalmente aqueles feitos com mais esmero e cuidado, e a ciranda de amores tanto faz lembrar alguns filmes da década de 1980 (especialmente os de John Hughes) quanto os romances de Jane Austen. Aliás, há uma interessante discussão sobre uma obra específica de Austen entre dois personagens principais do filme, Tom (Edward Clements) e Audrey (Carolyn Farina).

Conversando sobre obras literárias preferidas, Audrey afirma que uma de suas obras preferidas de Austen é Mansfield Park, e Tom, agindo de maneira bem pouco educada, afirma que este livro é horrível, que é considerado ruim até pelos fãs da escritora etc. Mais tarde saberemos que ele sequer leu o livro; apenas uma crítica literária dele. Tom é desses caras que talvez acredite que ler um romance é perder tempo. E apesar de vermos o filme pelo seu ponto de vista na maior parte das vezes, não nos furtamos a considerá-lo um personagem de atitudes estúpidas.

Tom é um rapaz pobre que é convidado por uma turma de jovens ricos a fazer parte daquele clube. Audrey se apaixona por ele, mas ele ainda nutre uma paixão antiga por Serena (Ellia Thompson, que aparece muito pouco na história, mas é bastante citada). Por outro lado, um dos caras da turma é louco por Audrey, o que faz com que tudo pareça uma grande armação do destino. Seja para tornar a vida daquelas pessoas mais interessantes para nós ou torná-las mais miseráveis para eles.

Há uma espécie de anacronismo no filme. O comportamento deles parece de pessoas que vivem no século XIX, mas que pode muito bem ser contemporâneo, da virada dos anos 1980 para os 90, ou até dos anos 1950, já que eles se vestem de maneira bem elegante, de acordo com as convenções sociais requeridas pela classe a que pertencem – exceto Tom, que procura se adequar à turma, embora não disponha de roupas boas o suficiente para tal e acabe encontrando apoio em Nick (Chris Eigeman).

Trata-se de um filme que se preocupa mais com os personagens e a beleza dos diálogos (houve uma indicação ao Oscar de roteiro) do que com um plot, e isso talvez o torne mais especial para quem está à procura de filmes com personagens com profundidade, imperfeitos – nenhum deles parece dono da razão, todos têm defeitos. Também podemos destacar a beleza da fotografia granulada e da direção de arte discreta e bem cuidada.

Fiquei ainda mais interessado em ver METROPOLITAN – e outros filmes de Stillman – depois de ver no cinema o ótimo AMOR & AMIZADE (2016), esse sim uma adaptação de uma obra de Jane Austen. Uma pena que o cineasta filme tão pouco.

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