domingo, março 05, 2017
TRAINSPOTTING – SEM LIMITES (Trainspotting)
Cerca de 20 anos já se passaram da vez em que me dirigi ao saudoso Cine Fortaleza para ver o incensado TRAINSPOTTING – SEM LIMITES (1996). A época foi uma das mais interessantes pra mim, ainda em fase de descobertas no campo da música, mas já um bocado habituado com o cinema contemporâneo, embora o filtro limitado do circuito daquele tempo em Fortaleza reduzisse bastante a quantidade e a qualidade dos filmes vistos no cinema.
TRAINSPOTTING foi recebido com tanto entusiasmo pela crítica, principalmente pela crítica mais pop, que já cheguei no cinema pronto para ver uma obra-prima. E, nesse sentido, acabei me decepcionando um pouco. E já percebendo que Danny Boyle não era nenhum mestre da nova geração, ou mesmo um autor, embora ele tenha conseguido, de lá pra cá, dirigir outros trabalhos interessantes ao longo dos anos. Mas é até possível dizer que seu filme mais marcante é mesmo TRAINSPOTTING, principalmente visto em retrospecto e percebendo o quanto ele continua fresco e pungente.
É um filme que se destaca pela força de algumas cenas em separado, pelo ótimo conjunto de personagens e pela trilha sonora que alterna clássicos do rock com canções da época. Já começar com "Lust for life", do Iggy Pop, já ajuda bastante a gente a gostar do filme. Das canções da época, gosto muito de ouvir ao fundo "2:1", do Elastica, e me lembrar do quanto eu gostava dessa banda de meninas.
Ver o filme é também rever a juventude de alguns personagens e eu adorei a Diane, personagem de Kelly Macdonald, debutando no cinema. Tão linda. E ainda há uma boa cena de sexo dela com o Ewan McGregor. Aliás, não é bem uma cena em si, mas uma colagem de cenas deles e dos outros personagens também envolvidos com sexo após irem uma festa, depois de terem largado por um tempo a heroína.
E é curioso como TRAINSPOTTING consegue olhar a droga com certo romantismo, ao mesmo tempo em que a vê como algo terrível e extremamente perigoso. "É muito melhor do que sexo", um dos personagens diz. E deve ser mesmo, embora as consequências do uso sejam brutais ou mesmo fatais. A cena do bebê da jovem viciada é perturbadora, por mais que o filme tente tratar quase tudo de maneira mais leve. E é por esse caminho espinhoso que o filme trafega com elegância.
Não se trata de um filme de plot. Não há uma história em si que resuma o filme. São histórias soltas dos mesmos personagens, jovens que se acostumaram a viver uma vida desregrada e pouco se importando com as responsabilidades, pelo amor à droga. A mesma droga que eles sabem que deve ser deixada de lado, sob o risco de perder o pouco que lhes resta de vida. Ou seja, é um tema bastante sério que é tratado de maneira bem humorada.
A cena mais marcante envolve um supositório que é entregue a Renton (McGregor), para que ele possa dar início ao processo de desintoxicação da heroína. Acontece que no meio do caminho ele sente uma necessidade imensa de usar o toalete. E o toalete que ele encontra é o mais feio e o mais fedido do mundo, conforme sua própria descrição, que, aliás, denuncia um pouco as origens literárias da obra adaptada. Uma vez que ele faz o número dois ele percebe que o supositório foi junto. E entra literalmente no sanitário para recuperá-lo. Se a cena é descrita de tal forma no romance de Irvine Welsh, palmas para Boyle, que soube tão bem transpô-la para as telas.
O diretor, o roteirista e o elenco principal estão de volta para uma sequência, T2 – TRAINSPOTTING, previsto para estrear ainda este mês no Brasil, e o principal motivador para que eu revisse o primeiro TRAINSPOTTING. Desejo sorte a todos os envolvidos. Até porque, se eles ganham, nós ganhamos também com o sucesso do novo filme.
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