sexta-feira, março 03, 2017

LOGAN























Ainda está para chegar um filme adaptado de um super-herói dos quadrinhos que consiga chegar ao posto de obra-prima, como já chegaram tantas obras de roteiristas e artistas famosos, principalmente a partir dos anos 1980, quando uma série de graphic novels de renome revolucionou os quadrinhos de super-heróis. Talvez isso aconteça porque o cinema sempre ficou à sombra de seu objeto de inspiração, ou talvez porque tenha faltado um grande realizador que assumisse tal empreitada, embora possamos nos lembrar com carinho do Hulk de Ang Lee, tão estranho quanto interessante.

Levando em consideração o currículo apenas mediano de James Mangold, LOGAN (2017) pode ser visto como um feito e tanto. Até porque Mangold foi o escalado também para dirigir o segundo filme solo de herói das garras de Adamantium, WOLVERINE - IMORTAL (2013) e o resultado não foi muito animador, embora seja muito superior ao horrível filme de origem do herói. A ideia de fazer um história mais realista e mais dura com seu personagem, agora um velho amargurado e alcoólatra, encontra ecos no melhor trabalho de Mangold, COP LAND (1997), estrelado por Sylvester Stallone.

Não é um filme perfeito como gostaríamos de ver e como boa parte da crítica do Festival de Berlim andou descrevendo, mas é sim uma realização de respeito, que talvez falhe pela falta de uma montagem mais eficiente. Também nota-se que o sentimento que o filme quer passar, tanto nas cenas de violência como nas da relação de Logan com a garotinha Laura, nem sempre funciona do ponto de vista da emoção. Parecem mais tentativas do que acertos.

Mas falemos das qualidades de LOGAN, este filme que se inspira na versão mais velha do personagem, apresentado pela primeira vez no arco de histórias "Old Man Logan", escrito por Mark Millar e desenhado por Steven McNiven em 2008-2009, e que se tornou um clássico. Mangold cria uma nova história a partir da ideia de um Wolverine velho e cansado, ambientando a trama em um mundo parecido com os dos filmes de Mad Max. Nesse mundo, os mutantes estão praticamente extintos e Logan (Hugh Jackman) acredita que só restam ele e o agora nonagenário Professor Charles Xavier (Patrick Stewart), além de um amigo da dupla, Caliban (Stephen Merchant).

A presença de Jackman como Wolverine foi fundamental em todos os filmes da franquia X-Men e sua despedida do papel de sua vida foi bastante digno, tendo arrancado uma performance memorável. O olhar cansado de Logan, que aparece como um motorista de limusine, mancando e cheio de cicatrizes e feridas que custam a cicatrizar já o distanciam daquele que foi visto como um ser quase imortal no passado.

Essa fragilidade do personagem o humaniza mais. Não é fácil ver Logan apanhando de um bando de homens comuns, mas ao mesmo tempo isso faz valer a desforra e a surpresa ao ver que, finalmente, colocaram as garras do homem para funcionar da maneira como deveria ser em um filme mais adulto, decepando cabeças, pernas, braços, matando seus inimigos impiedosamente.

A liberdade de poder trabalhar o personagem dessa forma pode ser vista por alguns como arriscada, mas foi feita graças ao sucesso gigantesco de DEADPOOL, que mostrou que havia sim um público ávido por filmes mais violentos de seus super-heróis, e com uma classificação indicativa para espectadores mais maduros. Depois de DEADPOOL, o projeto LOGAN ficou mais viável e tomou forma a ponto de se tornar um filme que pode ser assistido de maneira independente dos demais filmes da franquia X-Men e Wolverine.

LOGAN é também um filme sobre um homem que não aguenta mais o peso de seu passado, e que está disposto a dar cabo da própria vida, assim que possível. O que o impede é talvez o fato de ter que cuidar de Charles Xavier, que agora vive em um lugar escondido no meio do nada e tendo convulsões capazes de perturbar a mente de todos que estiverem por perto. Outro motivo para seguir vivendo aparece na figura da pequena Laura, a X-23 (Dafne Keen), nascida a partir do seu DNA, e que também passou por um processo semelhante ao seu, para ser uma máquina de matar. As cenas que mostram a pequena Laura atacando os seus desafetos chegam a ser empolgantes.

Talvez falte ao filme um vilão de peso (não custa lembrar que Boyd Holbrook conseguiu perder o protagonismo na série NARCOS para seu parceiro por falta de carisma), mas é melhor assim do que ter um vilão megalomaníaco e chato como o de X-MEN – APOCALIPSE. Além do mais, destoaria e muito das intenções mais realistas do filme, de sua vontade de ser algo próximo de um western misturado com uma sci-fi distópica. Nesse sentido, LOGAN foi bem-sucedido e será lembrado como um bom ou até mesmo ótimo exemplo por algum tempo.

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