terça-feira, março 21, 2017
O FILHO DAS TREVAS (The Resurrected)
Uma das coisas que eu mais curto fazer é ler uma obra literária e em seguida poder acompanhar sua adaptação para o cinema. Às vezes funciona fazer o contrário também, mas corre-se o risco de mentalizar o ator ou atriz na hora de pensar o personagem, e talvez isso não seja muito bom. De todo modo, eu lembro de uma experiência dessas muito positiva, que foi quando li O Cemitério, de Stephen King, só depois de ter visto o a adaptação, CEMITÉRIO MALDITO, de Mary Lambert. Ler o romance foi uma experiência fantástica. Talvez seja o meu favorito do gênero horror. Ou quase.
Nunca tinha lido nada de H.P. Lovecraft e quando passei em uma livraria gigante nos Estados Unidos anos atrás não resisti e comprei o tijolão contendo, em papel bíblia, a obra completa do escritor. Todos os seus contos. Como estava com um DVD de O FILHO DAS TREVAS (1991) para ver já fazia um tempão, escolhi para ler logo, ainda que por muito custo, pois o conto fica ainda mais nebuloso em inglês, até porque eu meio que perdi o hábito de ler obras literárias em inglês. Aliás, quase não tenho lido ficção, por não estar sabendo mais organizar meu tempo ou minha cabeça. Aos trancos e barrancos consegui terminar "O Caso de Charles Dexter Ward", que até tem uma versão traduzida lançada pela LP&M. Trata-se do conto mais longo de Lovecraft. Praticamente uma novela.
Essa história de Lovecraft é bem interessante, pois quase nada é "mostrado". Muita coisa é sugerida pelo que as pessoas pensam que está acontecendo e há muita informação obtida de documentos ou de depoimentos de outras pessoas. É tudo muito misterioso. O que o diretor Dan O'Bannon fez em O FILHO DAS TREVAS foi transformar uma história de horror em algo próximo de um film noir, embora não fuja daquilo que tanto foi seu forte, o horror com gore e efeitos especiais mais orgânicos, que era o que costumávamos ver com frequência nos exemplares de gênero produzidos nos anos 1970 e 1980.
O’Bannon, que fez roteiros de alguns filmes fundamentais do gênero, e que estreou na direção com a ótima comédia de terror A VOLTA DOS MORTOS-VIVOS (1985), um dos melhores filmes de zumbis já feito, aqui atualiza a história de Dexter Ward, esse homem misterioso que ousou mexer com forças malignas. O filme começa com a esposa (Jane Sibbett) se apresentando para um detetive (John Terry) e contando o pouco que sabe do marido desaparecido (Chris Sarandon) e depois aos poucos novos dados vão surgindo, como o fato de o sujeito estar traficando ossos de cadáveres humanos, entre outras coisas bizarras, que se encaminharão para contatos com entidades macabras.
A cara de filme B está presente tanto no modo como o diretor conduz sua trama, quanto nos efeitos especiais, que para os dias de hoje são um tanto datados, mas que é um representante de peso de uma época em que gigantes do cinema trilharam o caminho do horror, sendo que alguns deles chegaram a dirigir roteiros ou histórias de O'Bannon, como John Carpenter, Ridley Scott, Tobe Hooper e Paul Verhoeven. Pena Dan O'Bannon não ter seguido carreira como cineasta depois deste filme, que hoje é tido até como obscuro e um tanto esquecido.
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