terça-feira, novembro 08, 2016

CRISIS IN SIX SCENES























É natural encarar CRISIS IN SIX SCENES (2016) como uma série fraca. Até para os padrões de Woody Allen ela parece aquém de seus trabalhos menos inspirados para cinema. Boatos rolaram que Allen havia ficado arrependido de ter topado participar desta série de televisão em streaming da Amazon, que ainda o ajudaria financeiramente na produção de seu mais recente longa CAFÉ SOCIETY (2016).

Dá pra notar facilmente que CRISIS IN SIX SCENES mais parece um filme dividido em seis episódios de 24 minutos do que uma série. Não há aqui uma separação tão explícita de blocos temáticos, nem ganchos. Nem mesmo título ele resolveu colocar nos episódios. Mas isso não chega a ser um problema. Ao contrário: para quem é fã do cineasta, é como se tivéssemos ganhado um bônus neste ano de 2016. E com a vantagem de ver Allen atuando novamente, coisa que ele tem evitado fazer há algum tempo.

No começo, temos a impressão de que Allen está um pouco enferrujado nos trejeitos que ele próprio criou e que serviriam de base para a criação de tantos outros alter-egos, em diversos outros filmes não protagonizados por ele. Em CRISIS.. ele é um escritor relativamente fracassado que tem uma vida pacata com a esposa, vivida pela amiga Elaine May, afastada do cinema desde a comédia TRAPACEIROS, que o próprio Allen dirigiu em 2000. A esposa é uma psicanalista especializada em terapias de casais.

A vida dos dois é virada do avesso quando surge, na calada da noite, uma foragida da polícia, Lennie Dale, vivida por Miley Cyrus. Lennie adentra a casa do casal às escondidas e acaba sendo bem recebida pela psicanalista, que a conhece dos noticiários e entende o fato de ela estar sendo caçada por causa de seus ideais revolucionários. A jovem vive em um país que está fervilhando de movimentos políticos – a história se passa na década de 1960 – e encontra abrigo naquela casa, ainda que sem o apoio do velho escritor, que sempre reclama que a garota está comendo toda sua comida da geladeira.

Os primeiros episódios são um tanto tediosos, com um ritmo que chega a desanimar até mesmo a quem é fã de Allen, mas, a partir da metade, CRISIS IN SIX SCENES fica muito divertida, ganha mais ritmo, até chegar a uma conclusão que redime os problemas iniciais e dá dignidade à série. Lembra um pouco filmes que Allen fez flertando com o gênero policial, como UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN (1993), inclusive com um episódio final com direito a aventuras perigosas do casal de velhinhos.

No começo, estranhamos um bocado a presença de Miley Cyrus. Sua caracterização destoa do restante do elenco. Mas, como ela interpreta uma espécie de fora-da-lei, até que isso é aceitável. Assim como também é compreensível o personagem do jovem protegido de Allen (John Magaro) se apaixonar por ela e querer seguir carreira de guerrilheiro em Cuba, mesmo estando noivo de uma belíssima e gentil garota (Rachel Brosnahan).

Muito da graça da série está nesse contraste entre o medo do personagem de Allen de ser pego pela polícia e de não gostar nada de estar ajudando uma comunista e o discurso da personagem de Cyrus, que acaba contaminando todos os demais ao redor, da esposa ao jovem apaixonado e, por tabela, um clube do livro frequentado por velhinhas. Entre mortos e feridos (na verdade, só há um ferido na história; ninguém morre), a série acaba se salvando por causa de uma conclusão satisfatória. Mas duvido muito que Allen queira repetir a experiência.

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