quarta-feira, novembro 09, 2016
17 CURTAS BRASILEIROS
Desde já peço desculpas aos realizadores dos curtas abaixo por falar tão rápida e rasteiramente de seus trabalhos. Culpem a minha falta de organização, o tempo complicado, a tendência a postergar as coisas, e principalmente a memória ruim, que é prejudicada ainda mais com o passar dos dias, dos meses, dos anos. Mas todos esses títulos, em sua maioria, vistos em festivais, merecem o nosso respeito. Vamos ver o que sai nesta postagem.
A OUTRA MARGEM
Nathália Tereza faz uma apropriação muito bonita do universo brega (música sertaneja e música romântica em geral) em A OUTRA MARGEM (2015), ao contar a história de um homem que passeia à noite em seu carro pelas ruas de Campo Grande. Ele escuta mensagens românticas no rádio e uma dessas mensagens se destaca. É a sua namorada falando. E ela se sente só. Um belo trabalho sensorial, sentimental, singular.
DÁ LICENÇA DE CONTAR
Um dos curtas mais interessantes e empolgantes do ano passado, DÁ LICENÇA DE CONTAR (2015), de Pedro Serrano, tem a ousadia de contar a história da saudosa maloca, aquela mesma da canção de Adoniran Barbosa, e colocando o artista dentro da obra. Adoniran é vivido por Paulo Miklos e o filme ainda conta com nomes como Gero Camilo e Gustavo Machado. O clima de samba paulista fica no ar e a inventividade do realizador chega a emocionar, principalmente pela utilização da narrativa da clássica canção.
O CORPO
Outro grande curta do ano passado, O CORPO (2015), de Lucas Cassales, é mais um exemplar de namoro com o gênero horror e suspense de nossa cinematografia contemporânea. A história se passa numa pequena fazenda no sul do país, onde é ensinado a um garotinho a matar uma galinha para o jantar. Mas adiante, o garoto encontra um corpo nu deixado numa trilha. É um filme que se acompanha quase como que num transe, e que possui simbolismos ricos ligados (ou desligados) da religiosidade.
QUANDO PAREI DE ME PREOCUPAR COM CANALHAS
Mais um curta estrelado por Paulo Miklos, desta vez também com a presença de Matheus Nachtergaele. QUANDO PAREI DE ME PREOCUPAR COM CANALHAS (2015), de Tiago Vieira, começa com uma discussão de bar sobre política, sobre questões ligadas ao ódio, ao amor e ao vira-casaca de se apoiar o Lula e o PT e tem até mesmo um taxista que diz que no tempo da ditadura é que era bom. Mas o curta é muito mais do que isso. Tem música boa, tem sensualidade, tem discussões éticas, discussão de relação. É até muita coisa boa junta para dar conta, mas isso não diminui a força do trabalho.
O TETO SOBRE NÓS
Neste curta gaúcho que passou na última edição do Cine Ceará, Bruno Carboni nos apresenta a um grupo de pessoas que mora em um prédio abandonado e que é forçado a deixar o lugar à força. O TETO SOBRE NÓS (2015) tem um jeitão meio lúgubre, fotografia escura, andamento lento e pesado, quase um horror realista e psicológico. Na trama, Anna tenta lidar com a notícia de ter que abandonar o lugar, enquanto se depara com um misterioso homem deitado em sua cama.
CIDADE NOVA
Produção cearense dirigida pelo gaúcho Diego Hoefel, aluno do curso de audiovisual do Porto Iracema das Artes, CIDADE NOVA (2015), foi exibido e premiado no Festival de Brasília. Conta a história de um rapaz que retorna para sua cidade, só para saber que ela não existe mais. Para mim, foi uma experiência pouco palpável, mas há algo de intrigante neste filme que traz sensações de não-pertencimento, algo que de vez em quando (ou sempre) é sentida por nós.
O HOMEM QUE VIROU ARMÁRIO
Outro belo exemplar do cinema produzido no Ceará, O HOMEM QUE VIROU ARMÁRIO (2015), de Marcelo Ikeda, tem algo de kafkiano em sua ambientação e trama, envolvendo um funcionário obcecado pelas rotinas do trabalho em um escritório situado no Centro da cidade. Com o tempo, de tão misturado que fica com a geografia do espaço, acaba se transformando em um armário. A única pessoa que sente sua falta é uma colega de trabalho, que sempre foi apaixonada por ele. Ela tenta bolar uma maneira de trazê-lo de volta. Acho fantástico o trabalho da atriz (Andréia Pires).
AO VENTO
Exibido em uma edição da excelente mostra Cinema em Transe, este pequeno curta de Yuri Yamamoto acaba deixando a gente um pouco sem entender ou captar a história. Como ele é curtinho, seria o caso de rever. Confesso que não lembro de quase nada de AO VENTO (2015) e não consigo encontrar sinopses por aí. Na minha borrada memória, visualizo bonecos de vento em um estabelecimento.
QUANDO É LÁ FORA
Fazer ficção científica no Brasil, ainda mais dispondo de poucos recursos, é sempre uma tarefa arriscada, mas André Pádua e Leonardo Branco resolveram encarar e realizar este QUANDO É LÁ FORA (2016), que se passa em um futuro distópico em que todos se vestem, caminham e pensam de maneira igual. Mas, como é de se esperar, algo acontece para que esse padrão seja corrompido. Bem interessante.
USP 7%
USP 7% (2015), de Daniel Mello e Bruno Bacchini, vale mais por seu papel político do que por suas qualidades estéticas. O filme mostra a mobilização em favor de cotas raciais em uma das maiores universidades do país. É um filme que apresenta quatro relatos diferentes de pessoas que sofreram e que conseguiram chegar à universidade, apesar dos obstáculos. Em paralelo também se constata o quanto o preconceito ainda está presente em nossa sociedade. Por isso filmes como esse ainda são muito necessários. Foi bastante aplaudido durante a sessão do Cine Ceará.
MONSTRO
Este trabalho de Breno Baptista lembra um bocado VIRGINDADE, de Chico Lacerda, por conta da utilização de fotos e da abordagem homoafetiva. Mas MONSTRO (2015) prefere um registro mais confessional, sentimental. Se tivesse metade da duração seria melhor. Gosto da narração triste e apaixonada, mas chega uma hora que cansa. Há também um problema de depender das legendas em espanhol pra poder entender o áudio da narração. Muito disso também por causa da acústica ruim do Cine São Luiz.
JANAINA OVERDRIVE
Eu não entendi muito bem o fato de muita gente ter elogiado este filme. Acabou tendo um bom destaque na edição deste ano do Cine Ceará. JANAINA OVERDRIVE (2016), de Mozart Freire, é uma ficção cyberpunk dentro de um universo queer. Pode até ser cisma minha, mas sempre que alguém me diz que um filme brasileiro é uma ficção científica eu fico logo com um pé atrás. É até interessante em sua proposta visual, mas confesso que mais me aborreceu do que me deixou intrigado ou algo do tipo.
ANTES DA ENCANTERIA
Bem mais interessante é este ANTES DA ENCANTERIA (2016), produção coletiva dirigida por cinco pessoas: Elena Meirelles, Gabriela Pessoa, Jorge Polo, Lívia de Paiva e Paulo Victor Soares. Foi parar na Mostra Olhar do Ceará e faturou o prêmio da crítica. Está mais para uma coletânea de curtas do que para um curta homogêneo. Gosto dos dois primeiros, especialmente dos irmãos do chá das cinco. Os outros pegam carona e servem mais para cansar uma experiência que poderia ser mais interessante. Quem quiser ver, o filme vai ser novamente exibido, desta vez na próxima edição do For Rainbow.
AQUELE CÉU DE AZUL PETRÓLEO
Exibido na mesma sessão do filme anterior, AQUELE CÉU DE AZUL PETRÓLEO (2016), de Fernanda Brasileiro, me agradou muito mais. Envolvente, o filme possui um belo trabalho de câmera e que chama a atenção também para a intensidade das interpretações das meninas. É o caso de se prestar atenção nos próximos trabalhos da diretora e de rever este filme aqui, que peca também por querer se exceder na duração. Mas nada de grave. Suas qualidades superam os problemas.
OS OLHOS DE ARTHUR
Desde o primeiro filme, DOCE DE COCO (2010), que a gente percebe o olhar delicado e sutil de Allan Deberton. E aqui a gente tem a oportunidade de ver mais um trabalho seu, até mais arriscado, por lidar com um personagem autista. As cenas debaixo d'água são bem bonitas, mas o legal mesmo é como o sentimento do protagonista é tratado, primeiro meio que como um desespero, depois com sentimento misto de saudade antecipada, de conforto ou de qualquer outra coisa que a gente não sabe bem dizer o que é, que varia muito de acordo com a apreciação do espectador. Ainda gosto mais do curta de estreia de Deberton, mas não dá para dizer que OS OLHOS DE ARTHUR (2016) não tem um brilho todo próprio.
TARÂNTULA
Uma beleza de conto sinistro de horror que mexe com criança, maldade e mutilação. Aly Muritiba codirigiu este curta no mesmo ano de PARA MINHA AMADA MORTA (2015). Em TARÂNTULA (2015), feito a quatro mãos por Muritiba e Marja Calafange, acompanhamos uma mãe e duas filhas isoladas em uma casa velha. A rotina das três muda com a visita constante de um homem, que chega com a intenção de namorar a mãe. As duas filhas, então, armam uma maneira bem macabra de expulsar o intruso. Um dos melhores exemplares do cinema de horror recente produzido no Brasil.
AQUELA RUA TÃO TRIUMPHO
Eu já havia gostado bastante de BATCHAN (2013), homenagem sensível que Gabriel Carneiro faz ao cinema de Yasujiro Ozu. Novamente em tom de homenagem carinhosa, Carneiro se supera com AQUELA RUA TÃO TRIUMPHO (2016), que nos leva para o universo da Boca do Lixo, com participação de atores e diretores célebres interpretando eles mesmos, além do protagonismo de Walter Portella no papel de um diretor de cinema que sente saudade dos velhos tempos. Difícil não se arrepiar ou não ficar com os olhos marejados, especialmente quem tem uma queda especial pelo cinema paulista dos anos 70 e 80. O filme conta também com a participação de Júlio Calasso, Alfredo Sternheim, Clery Cunha, Nicole Puzzi, Virgílio Roveda, Vanessa Alves e do próprio Gabriel, no papel de um jornalista.
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