terça-feira, maio 24, 2016
DEMON
O fato de DEMON (2015) ser um filme dirigido por um cineasta que cometeu suicídio sete dias antes de sua estreia na Polônia faz com que esse triste evento jogue uma luz (negra) para esta obra sobre uma festa estranha com gente esquisita. A carreira de Marcin Wrona poderia ser gloriosa, se ele não tivesse cometido suicídio tão jovem, aos 42 anos, e com muito potencial para grandes filmes – o cinema polonês de horror tem ótimos exemplares, mas anda um tanto sumido do circuito.
O desaparecimento de Wrona, aliás, acaba encontrando paralelo com o destino do protagonista no terceiro ato do filme, que é o que mais deixa o espectador sem chão. Até lá, principalmente durante toda a sequência da festa de casamento, que representa mais da metade da duração do filme, haja loucura. DEMON, inclusive, pode ser visto como um dos mais divertidos filmes de casamento já feitos. Com o diferencial que entram em cena aqui elementos do cinema de horror, ainda que numa chave vez ou outra cômica.
Na trama, Piotr é um inglês que sai de sua terra natal, a Inglaterra, para se casar com a bela polonesa Zaneta. Ele parece ser um rapaz bastante simpático e interessado em abraçar aquela nova cultura, a cultura judaica de sua noiva. Ao chegar ao local, ele descobre uma ossada de restos humanos, o que o deixa bastante intrigado. Principalmente quando esta ossada desaparece quando ele tenta mostrá-la para outras pessoas.
Piotr também é assombrado pelo fantasma de uma mulher que aparece no casamento, somente para seus olhos. Não demora para que ele passe da inquietude para a possessão, quando seu corpo se debate pelo salão da festa. O pai da noiva, a essa altura, já quer cancelar o casamento, pois um noivo defeituoso daqueles, com epilepsia (que é inicialmente o que julgam ser o problema), não seria nada bom para sua filha.
Um dos pontos positivos de DEMON é o fato de ser um filme que foge às estruturas convencionais do gênero horror, ainda que não negue ao espectador alguns elementos familiares e até alívios cômicos bem-vindos, embora isso contribua ainda mais para sua estranheza, que é, na verdade, uma característica do cinema de horror produzido naquele país.
Em vários momentos, em especial no final, a trama parece um tanto confusa, mas é até bastante fácil se deixar levar pelo andamento louco que Wrona deseja conduzir, passando a impressão de que o filme quer perder-se e fazer com que o espectador o acompanhe. Quem está acostumado com o cinema de horror europeu, porém, que tem menor preocupação com enredo, pode aceitar o jogo imposto pelo diretor numa boa.
Já quem espera um filme de sustos, pode se decepcionar um pouco, assim como também pode achar no mínimo estranha a cena em que um homem conversa com o espírito da mulher que possuiu o corpo do protagonista, embora seja um dos momentos mais importantes. O fato de o filme ter um senso de humor todo próprio acaba fazendo com que o que seria ridículo torne-se bem-vindo, interessante, divertido, intrigante. Faz muito bem para o circuito receber obras tão singulares como esta de vez em quando.
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