quarta-feira, fevereiro 03, 2016

DIVERTIDA MENTE (Inside Out)



Já estava cogitando escrever sobre DIVERTIDA MENTE (2015), que vi no ano passado nos cinemas, somente em uma postagem junto com outras animações que também vi e demorei demais a escrever a respeito. Na verdade, já faz algum tempo que animações não me animam. Mas não deixo passar as produções da Pixar, por serem exemplos do que há de melhor na indústria de animações nos Estados Unidos. E DIVERTIDA MENTE é, definitivamente, um dos trabalhos mais marcantes da companhia.

O filme da dupla Pete Docter e Ronnie Del Carmen é mais um passo a frente no processo de sofisticação e amadurecimento dos filmes da Pixar. Por ser um pouco mais complexo, não chega a ter tanto apelo com as crianças menores, como é o caso do mais recente, O BOM DINOSSAURO (2015), que dialoga melhor com os pequenos. DIVERTIDA MENTE, por sua vez, parece uma evolução natural da companhia desde TOY STORY (1995), que também envelheceu bem com o seu público quando chegou a TOY STORY 3 (2010).

DIVERTIDA MENTE, apesar de ser bastante engenhoso e inteligente, também é um filme que se permite o delírio, o perder-se dentro de um universo, que é a mente de um ser humano, no caso, de uma garotinha na pré-adolescência. A premissa é por si só bastante divertida: mostra sentimentos personificados trabalhando numa espécie de espaço que mais parece uma nave espacial de filmes como STAR TREK. Quem mantém tudo em ordem e lidera o grupo é a Alegria, o que tem sua razão de ser. Afinal, deixar o controle para as personificações da Tristeza ou da Raiva não seria uma boa ideia para a saúde mental da garota.

O filme trabalha também com a questão das memórias, e do quanto elas são importantes para a constituição da personalidade. Algumas delas precisam permanecer para que a pessoa se torne de bem com a vida; outras, negativas, porém, podem ficar marcadas e deixar alguns traumas, e por isso é preciso que a maior parte dessas memórias seja enviada para uma espécie de arquivo morto.

A ideia de personificar emoções veio de Peter Docter, diretor também de MONSTROS S.A. (2001) e UP – ALTAS AVENTURAS (2009). Ele, na época, estava muito interessado em compreender o que se passava com sua filha, que era antes uma menina feliz e tranquila mas que de uma hora para a outra passou a ficar mais introspectiva. O que teria ocasionado isso? A partir desse brainstorming inicial foi-se criando as ideias para a trama de DIVERTIDA MENTE.

Não sei se por ter encontrado pessoalmente Fernanda Takai na época em que vi o filme, mas achei a personagem Alegria muito parecida com ela, tanto no jeito de se comportar, como em passar, mesmo que com muito esforço, uma visão otimista da vida. Curiosamente, a filha de Takai também achou a personagem parecida com a cantora, conforme ela disse. Na versão original, Amy Poehler é quem dubla Alegria, mas na versão brasileira Miá Mello faz o trabalho muito bem, passando a simpatia e também o jeito relativamente mandão da personagem.

Os outros personagens da mente da pequena Riley são Tristeza, Nojo e Raiva. Talvez sejam poucos para uma mente humana, mas complicar ainda mais isso tornaria o filme bem pouco palatável até mesmo para plateias adultas. Além do mais, é interessante que Alegria e Tristeza estejam juntas numa missão e que a personagem de Tristeza ganhe mais destaque e força, até por ser também importante para a formação humana. Afinal, existe alguém que vive o tempo todo alegre?

Além do mais, na trajetória de busca de um arquivo essencial para o restabelecimento da saúde mental de Riley, e no modo como Tristeza e Alegria se perdem num universo mais parecido com um labirinto gigante, elas encontram um personagem que responderia por um dos momentos mais tocantes do filme, o do Elefante rosa, o amigo imaginário dos tempos de infância de Riley, e que vive agora sozinho e esquecido.

E é assim que a Pixar chegou a um filme que abraça o caos, o delírio, e uma gama de sentimentos que tornam DIVERTIDA MENTE uma das mais importantes e criativas obras da história da animação americana.

DIVERTIDA MENTE concorre ao Oscar nas categorias de melhor roteiro original e melhor animação.

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