terça-feira, janeiro 12, 2016

A FÊMEA DO MAR



A FÊMEA DO MAR (1981), de Ody Fraga, é uma obra que além de saber lidar muito bem com seu alto teor erótico, é muito bem construído e muito bem resolvido em sua narrativa fluida, que nos pega pela mão e não solta até que vejamos como termina a história. Não é o tipo de filme para ver para se aliviar (para isso existem os filmes pornôs), mas é muito bom ver o filme com a energia sexual relativamente alta, a fim de estar um pouco em sintonia com o sentimento de urgência, desejo e necessidade dos personagens, embora talvez isso nem seja assim tão necessário, já que o jogo se constrói mais em torno de um certo suspense e de um clima de tragédia no ar, que se instala a partir mesmo dos próprios nomes dos personagens jovens, Ulisses e Cassandra, essa interpretada pela jovem Aldine Müller.

Essa história que vai se tornando cada vez mais fascinante à medida que se delineia ganha ainda mais força quando surge o personagem de Jean Garrett (aqui, como ator), um marinheiro que chega para contar a notícia de que o marido de Jussara (Neide Ribeiro, linda e desafiando a gravidade) e pai dos meninos morrera. A primeira aparição desse personagem, chamado Roque, vem junto com os primeiros acordes da 5ª Sinfonia de Beethoven, já deixando claro que seu papel será de desestruturação daquela família que vive sozinha em uma casa afastada de uma vila. Para aumentar o clima de desolação, o ambiente ainda conta com casas em ruínas, o que funciona perfeitamente para dar um ar de tragédia grega à trama.

Mas antes de ser uma tragédia grega, é um filme erótico brasileiro, com direito a cenas de Cassandra tomando banho nua e sendo observada pelo irmão Ulisses, que, além de secar a própria irmã, costuma se aliviar com as cabritas. O começo do filme, portanto, já instala a ideia de que aquela família – inicialmente os mais jovens – estava precisando de uma válvula de escape para sua energia sexual e na falta de outras pessoas, eles mesmos acabavam desenvolvendo uma relação quase incestuosa.

Mas isso é uma rotina tranquila para aquela família que vive de trabalhos artesanais de renda. O que pega todo mundo de jeito é mesmo Roque, que dá logo em cima da nova viúva, cuja beleza ele logo percebe. Como se não bastasse, a confusão está feita quando a garota também quer transar com ele, deixando o irmão com ciúmes. Fraga constrói, então, uma obra carregada de sexualidade, mas que lida com uma temática até mesmo bíblica, no sentido de que no Antigo Testamento há vários casos de incesto e confusão.

Jean Garrett, em seu último dos poucos trabalhos como ator, encarna muito bem um personagem que muito se assemelha ao protagonista de TEOREMA, de Pier Paolo Pasolini. E Fraga, que já havia feito a alegria de muitos com um dos segmentos de A NOITE DAS TARAS (1980), entre outros trabalhos que preciso ver, se supera como artista que domina a gramática da narrativa e do erotismo e cria aqui também uma obra de proporções épicas.

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