domingo, dezembro 20, 2015
NORTE, O FIM DA HISTÓRIA (Norte, Hangganan ng Kasaysayan)
Certos filmes requerem uma predisposição por parte do espectador. E, no caso de NORTE, O FIM DA HISTÓRIA (2013), nem é tanto pelo andamento ou pelos chamados "tempos mortos", que até são poucos neste filme de Laz Diaz, primeiro do celebrado cineasta filipino a ser lançado comercialmente no Brasil, o que constitui um ato nobre e político por parte dos exibidores, num momento em que a força do dinheiro se mostra mais importante do que a arte.
O filme é uma adaptação livre do romance Crime e Castigo, de Dostoiévski, e tem uma narrativa bem intrigante que une três personagens. Temos Fabian, o sujeito que se orgulha de suas ideias pouco ortodoxas com relação à sociedade e à ética; Eliza, a mulher que, com muito sacrifício, procura sobreviver à pobreza e à maldade de uma agiota local; e o seu marido Joaquin, homem que é preso por um crime que não cometeu.
O trabalho de composição e rigor visual de Diaz é admirável, com uma tela larga que valoriza os planos médios e gerais, sendo assim um convite para que seja melhor apreciado no cinema, o que infelizmente é uma tarefa um tanto complicada para grande parte do público brasileiro, já que poucas salas ousaram exibi-lo.
O que pode pesar um pouco são os 250 minutos de duração e é isso que tem impedido que o filme alcance um público maior – no dia da estreia nacional, apenas Fortaleza e Niterói receberam o filme, ainda que já se previsse uma audiência pequena.
O que é uma pena, pois, NORTE, além de grande cinema que é, ainda se revela vitrine para uma cultura pouco conhecida no Brasil: a das Filipinas, país que ainda tenta se reerguer de um duro período de ditadura e cuja cultura se mostra bastante dominada pelo inglês no idioma local. Isso porque, depois de vários séculos de dominação espanhola, o arquipélago passou a ser território dos Estados Unidos durante algum tempo. Isso explica, em parte, o papo filosófico em inglês em um cyber cafe que abre o filme.
Os três personagens principais possuem seu rincão de cenas admiráveis: Fabian e o último encontro com a agiota e depois os momentos em que ele contracena com a irmã, ambos refletindo aspectos bastante trágicos de sua existência; Eliza e as tentativas de vender objetos e animais para sair da miséria, e logo depois seu posicionamento heróico frente à crise e ao fato de o marido estar preso; e Joaquin e sua redenção pela bondade durante a prisão, o que torna a curva de sua vida o extremo oposto do que ocorre com Fabian. Enquanto Fabian tem o espírito corroído pela culpa, Joaquin aceita a injustiça e mostra o espírito puro que chega, inclusive, a comover um presidiário extremamente cheio de maldade na alma.
Apesar disso, NORTE, O FIM DA HISTÓRIA não é bem um filme com uma mensagem do tipo faça o bem que você será recompensado e vice-versa. Os destinos dos personagens são diversos e apresentam a vida como uma sucessão de eventos que tendem a seguir um caminho totalmente diverso do que se veria em narrativas mais convencionais e arquetípicas sobre causa e efeito. Aqui todos são vítimas, sejam culpados ou não por seus atos.
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