domingo, outubro 11, 2015

BATA ANTES DE ENTRAR (Knock Knock)



Depois das dificuldades enfrentadas durante o processo de trazer CANIBAIS (2013), seu filme-homenagem a CANIBAL HOLOCAUSTO, de Ruggero Deodato, para o circuito comercial, outro trabalho de Eli Roth, mais recente, e também contando com sua atual musa e esposa Lorenza Izzo, teve mais sorte em alcançar mais rápido e uma maior aceitação nas salas de cinema: BATA ANTES DE ENTRAR (2015). Muito provavelmente por ser um exemplar muito mais leve do que estamos acostumados a ver do cinema sempre perturbador e sangrento de Roth, o homem por trás de O ALBERGUE (2005).

Vale lembrar que O ALBERGUE nasceu durante um momento particularmente intenso dos filmes de horror com muito sangue e violência, os chamados torture porns. Na época de O ALBERGUE, filmes como o francês MÁRTIRES, a franquia JOGOS MORTAIS, o remake de HALLOWEEN, o remake A ÚLTIMA CASA, e até mesmo A PAIXÃO DE CRISTO, de Mel Gibson, são exemplares desse momento em que a humanidade parecia querer purgar os seus próprios pecados e/ou queria saciar sua sede de sangue. Essa tendência ainda não acabou, mas parece estar demonstrando sinais de cansaço.

Por isso BATA ANTES DE ENTRAR é um terror muito mais psicológico do que físico, que dialoga com VIOLÊNCIA GRATUITA, de Michael Haneke, em sua capacidade de intoxicar o sangue, com a tortura imposta pelas duas garotas ao protagonista. Pena que Eli Roth não tenha a classe de Haneke para compor essa história de um homem de família (Keanu Reeves) que é visitado por duas moças atraentes que começam um processo de sedução, para em seguida transformar a vida do sujeito em um inferno crescente.

O fato de Keanu Reeves estar exageradamente canastrão – como se fosse algo de propósito, ou como se ele não estivesse levando a sério em momento algum o filme – contribui para que a sensação de suspensão da descrença seja abalada. Sabemos que Reeves é um ator limitado, mas sabemos também que em muitas ocasiões suas atuações funcionam muito bem.

Assim, sobra para que as duas meninas, as chilenas Lorenza Izzo e Ana de Armas, tomem o filme para si. Elas são as dominadoras em todos os sentidos. Dominam quando usam a fraqueza masculina para benefício próprio e quando começam a perturbar a ordem do protagonista a partir do café da manhã.

Por mais que filmes de horror sejam obras que têm como uma característica recorrente o moralismo, Roth parece não ter a intenção aqui de criar um conto moral sobre alguém que cometeu um erro e está pagando por seus pecados, que surgem na figura daqueles dois anjos exterminadores. Seria mais algo como uma sátira desse tipo de horror moralista. A não ser que as supostas alegações de pedofilia que uma das moças reivindica para o personagem seja verdade, o que aproximaria o filme de MENINA MÁ.COM, de David Slade, sobre um pedófilo que recebe uma lição de uma jovem garota.

BATA ANTES DE ENTRAR é um remake de DEATH GAME (1977), de Peter S. Traynor, estrelado por Sondra Locke e Colleen Camp, que no filme de Roth aparecem como coprodutoras. Dizem que o original é bem interessante.

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