Tem um professor colega meu que tem umas opiniões bem controversas e ele é daqueles que procuram todos os dias o pior que está acontecendo na política brasileira e já amanhece o dia falando mal do PT, da Dilma, do quanto está torcendo pelo impeachment etc. Segundo ele, o Governo só quer saber de ajudar os gays e contribui com a impunidade, ao beneficiar os grupos de direitos humanos (coisa que eu nem sei se é verdade). Ele também é desses que é a favor da pena de morte e disse que aqui devia ser como a Indonésia. Já falei pra outros colegas que falar essas coisas todos os dias é meio que se autoenvenenar, provocar câncer em si mesmo etc.
Por outro lado, a questão do direito de matar (existe isso?) impregna até mesmo aqueles que assistem a um filme de ficção ou uma telenovela. Fui com uma amiga minha ver O LOBO ATRÁS DA PORTA, e ela achou justo a protagonista ter feito o que fez com a garotinha por causa do que foi feito com ela. Do mesmo modo, uma irmã minha, comentando o final da novela VERDADES SECRETAS, achou que a mocinha fez bem ao matar o sacana que a seduziu. A impressão que fica é que matar por vingança pode.
ORESTES (2015), o filme de Rodrigo Siqueira que está em cartaz em poucas salas do país, trata justamente desse tipo de discussão: até que ponto matar é justo ou aceitável? Matar o assassino de sua mãe, mesmo sendo ele o seu pai é algo que deve ser considerado? Essa pergunta é feita tanto a partir da peça grega Orestes, de Eurípedes (458 a.C.), quanto a partir da possibilidade de busca de justiça de uma jovem cuja mãe foi entregue pelo próprio amante/marido, o Cabo Anselmo, um militar que havia se infiltrado no grupo comunista de que fazia parte Soledad Barret Viedma, ao Delegado Fleury, do DOPS.
A filha de Soledad é uma das participantes e um dos casos que mais tornam ORESTES uma obra interessante e forte. Filha de uma tragédia, as fotos que ela possui dela com o pai ou a com a mãe foram muito provavelmente tiradas pelo Cabo Anselmo. Acabamos criando um ódio por esse indivíduo a partir de trechos de uma entrevista que ele deu ao Roda Viva. Inclusive, fiquei bem interessado em ver a entrevista completa, que está disponível no youtube.
O documentário ORESTES ainda apresenta outros casos dolorosos, como a de um dos sobreviventes da ditadura que visita um dos lugares em que foi torturado, ou a de uma mãe cujo filho foi morto e enterrado como indigente depois de uma ação da polícia. Há também um posicionamento que não poderia deixar de haver no filme, que é o de uma mulher que busca justiça e que põe tudo preto no branco, achando que a polícia tem sempre razão e que todo garoto que anda armado é merecedor do seu fim.
Embora eu goste mais da primeira parte do filme, que é a da apresentação dos “personagens” e principalmente dos casos relacionados à ditadura militar, não deixa de ser muito interessante tanto a encenação inspirada na peça de Eurípedes por um grupo de atores, quanto o psicodrama que leva todas aquelas pessoas para uma espécie de expurgo encenado das suas vidas. Um trabalho bem diferente do que costuma-se ver nos cinemas, ORESTES mereceria mais atenção do público.
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