terça-feira, setembro 15, 2015
CANIBAL HOLOCAUSTO (Cannibal Holocaust)
Não sou exatamente um fã de CANIBAL HOLOCAUSTO (1980), mas tenho um carinho especial por este filme de Ruggero Deodato por uma razão bem pessoal: é o nome de uma lista de discussão de que participei e que abriu meus olhos para determinado tipo de cinema que eu sequer sonhava existir. A turma que participava e comandava a lista era exímia conhecedora de cinema de horror europeu e afins, e eu aprendi muito com eles ao longo dos anos. Sem falar nos amigos que fiz.
Quanto ao mais famoso e chocante filme do ciclo canibal italiano, trata-se de uma obra que merece o respeito, mesmo não se gostando. Afinal, é um trabalho que fez história. Se não é tão gostoso de ver quanto O ÚLTIMO MUNDO CANIBAL (1977), é bem mais original ao misturar ficção com um falso documentário, junto a uma estratégia de marketing corajosa – o diretor afirmava que os atores presentes no filme dentro do filme morreram de fato e por causa disso ele acabou tendo que se justificar diante da lei.
O elenco que "morreu" havia assinado um contrato para que tomasse um chá de sumiço depois das filmagens. Tiveram que provar que estavam vivos depois para que Deodato não fosse preso. Mesmo assim, se os atores não foram mortos, o mesmo não pode ser dito dos animais. Esses sim foram realmente sacrificados para a realização do filme, como uma tartaruga marinha enorme e um macaquinho. Isso é muito mais chocante que qualquer efeito especial. E olha que eles também são bons nos efeitos especiais. A imagem icônica da índia empalada, por exemplo, é difícil de esquecer. Até porque a usam como capa da maioria das versões existentes por aí do filme.
Uma das coisas que é estranhamente bela em CANIBAL HOLOCAUSTO é a trilha sonora de Riz Ortolani, que chama atenção logo nos créditos iniciais. E é utilizada mais adiante em uma sequência perturbadora. Ficamos pensando: por que diabos Deodato usa essa música tão bonita para emoldurar algo tão feio e perturbador? Lembrando que não estamos falando aqui apenas de um culto à violência com finalidade puramente estética, misturando, por exemplo, a beleza plástica de uma cena sanguinolenta com uma música de rara beleza, como podemos ver em alguns gialli de Dario Argento. Vai ver isso está no espírito dos italianos mesmo.
De todo modo, CANIBAL HOLOCAUSTO não é um filme para causar prazer – embora seja até fácil encontrar alguém que discorde de mim sobre isso –, mas com a intenção mesmo de causar mal estar. E ainda hoje segue sendo um exemplar de respeito nesse sentido. Afinal, é difícil ficar indiferente a algo tão desnorteador quanto a festa dos canibais em torno dos corpos dos documentaristas americanos.
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