segunda-feira, agosto 24, 2015
TRUE DETECTIVE – A SEGUNDA TEMPORADA COMPLETA (True Detective – The Complete Second Season)
Se a primeira temporada de TRUE DETECTIVE (2014) não tivesse sido tão boa e tão marcante, muito provavelmente as pessoas teriam desistido da série/antologia por causa dos deslizes desta segunda temporada (2015), que traz o mesmo roteirista em todos os episódios, o criador Nic Pizzolatto, mas que muda de parceiro na direção – os primeiros episódios são dirigidos por Justin Lin, responsável por vários filmes da franquia VELOZES E FURIOSOS.
O que animou desde o início foi o elenco, formado por Colin Farrell, Rachel McAdams, Vince Vaughn, Taylor Kitsch e Kelly Reilly. Tanta gente boa numa série que havia se destacado por trazer uma trama cheia de mistério não podia dar errado. Acontece que deu. Pelo menos em boa parte. Ainda assim, há muitas qualidades nesta segunda temporada, que não conta mais com diálogos tão marcantes quanto os de Rust Cohle (Matthew McConaughey) nem elementos sobrenaturais, ainda que Pizzolatto tenha optado por um registro lynchiano, com espaçamento entre os diálogos para dar um ar de estranhamento.
Isso acaba deixando a série um tanto pesada e é um elemento que cansa quando vai chegando perto do final da temporada. O que mais conta mesmo é a construção dos personagens, principalmente o do Detetive Ray Velcoro (Farrell), um homem atormentado por uma tragédia do passado: sua esposa foi violentamente estuprada e agredida, ele supostamente matou o responsável e ela engravidou nove meses depois do ocorrido. Agora ele é um homem de comportamento violento e errático, capaz de dar uma surra no pai do garoto que praticou bullying em seu filho, enquanto se embebeda frequentemente.
Sua trajetória se une à de outros dois oficiais da lei, a detetive Ani Bezzerides (McAdams) e um policial rodoviário, Paul Woodrugh (Kitsch), enquanto encontra-se com frequência com um homem com ligações com a máfia, Frank Semyon (Vaughn). Isso acontece por causa da morte de um poderoso homem de negócios, Caspere, cujo corpo é encontrado com os olhos vazados por ácido. O mistério envolvendo a morte de Caspere e o número absurdo de personagens secundários que a gente acaba esquecendo quem são no meio de tanta confusão faz dessa segunda temporada de TRUE DETECTIVE um jogo tão confuso quanto À BEIRA DO ABISMO, de Howard Hawks, o que seria um elogio se não percebêssemos no final que a trama era confusa assim para esconder suas próprias fragilidades.
Ainda assim, alguns momentos são particularmente empolgantes, como a cena em que os três detetives invadem um clube de luxo em que playboys fazem a festa com jovens mulheres que se prostituem e são obrigadas a se drogarem. Ani se infiltra no grupo enquanto os outros dois abordam o local, do lado de fora da mansão. Pode-se dizer que este é o grande momento da série. O episódio é intitulado "Church in Ruins".
A história também da trata de vidas esfaceladas e nisso há uma falha na falta de aprofundamento dos personagens Ani (queria saber mais sobre o seu passado, sua relação com a família e com o pai) e Woodrugh, um rapaz que tenta esconder o seu passado, em que manteve relações homossexuais. Ele daria um interessante personagem atormentado se houvesse tempo e intenção para tal. Mas o próprio Kitsch está um pouco apagado no papel. Quanto a Semyon, é um personagem que vai crescendo ao longo da temporada. É bem chato no começo, mas vai se tornando mais interessante à medida que a trama se encaminha para o final.
Resta saber se tudo não seria melhor se Pizzolatto não tivesse brigado com o diretor da primeira temporada, Cary Joji Fukunaga, ou se os problemas são mesmo mais relativos a falhas no roteiro. De um modo ou de outro, saber que uma terceira temporada trará uma história totalmente nova faz com que ainda tenhamos esperança no futuro desta antologia.
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