sábado, maio 23, 2015
O VENDEDOR DE PASSADOS
Uma pena que um filme cuja premissa tão interessante, como se pode evidenciar pelo trailer, possa ser tão decepcionante quanto este O VENDEDOR DE PASSADOS (2015), de Lula Buarque de Hollanda, baseado no romance homônimo do angolano José Eduardo Agualusa.
Poderia atribuir a culpa à pouca experiência do diretor em lidar com trabalhos de ficção – é o seu primeiro longa do tipo, numa carreira pontuada por documentários, especialmente musicais –, mas há tantos cineastas de ficção que vieram de documentários, que isso não chega a ser exatamente uma desculpa.
Na trama, Vicente (Lázaro Ramos) é um falsificador especialista em reconstruir o passado de pessoas problemáticas. Atualmente tem cuidado no caso de um ex-gordo que nunca teve nenhuma relação sexual ou afetiva e que agora que fez a cirurgia bariátrica e passou por muitas plásticas está pronto para se reinventar, inclusive no passado, e finalmente conseguir uma noiva. Ele tem fé que com isso conseguirá mudar a sua vida da noite para o dia.
Em meio a casos do tipo, surge alguém que nem mesmo quer dizer seu verdadeiro nome, quanto mais seu passado real. A intenção da depois nomeada Clara (Alline Moraes) é criar um passado a partir do pouco que tem marcado em seu corpo. Trata-se de uma bela mulher que atrai a atenção do solitário Vicente, mas que depois acaba por surpreendê-lo.
Curioso como há uma série de elementos interessantes, como a questão da mãe do ex-gordo, ou da mentira tão comum nos dias atuais, que graças às tecnologias de computação pode criar algo que não existe e fazer com que todos acreditam. Esse tipo de discussão até poderia ser aprofundada se o filme não deixasse tudo na superfície e se os seus personagens não fossem tão frágeis.
Dá pra notar o esforço de Lázaro Ramos, grande ator que começou no cinema antes de começar a ficar famoso também na televisão, e ele acaba quase carregando o filme nas costas, já que Alline Moraes, por mais bela que seja, não tem boas referências no cinema, apesar de estar em bons filmes como O HOMEM DO FUTURO, HELENO e TIM MAIA. Seu trunfo está apenas na beleza, no físico, e precisaria de um bom diretor de atores ou de um preparador de elenco que a tornasse melhor do que seus personagens ruins das telenovelas globais.
Lula Buarque também não consegue trazer a solidão de Vicente para o lado de cá da tela, por mais que seja essa a intenção, e um dos elementos mais importantes da narrativa. Em nenhum momento nos sentimos solidários ao seu drama, algo que poderia elevar o filme a uma estatura de pretenso thriller para um também interessante drama familiar.
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