sexta-feira, maio 22, 2015

LOS HERMANOS – ESSE É SÓ O COMEÇO DO FIM DA NOSSA VIDA



Em certo momento de LOS HERMANOS – ESSE É SÓ O COMEÇO DO FIM DA NOSSA VIDA (2014), Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante ensaiam "Nunca diga", canção de Frank Jorge (também conhecida em versão do Pato Fu) que fala sobre a questão dos gostos musicais e do quanto alguém que ama uma música ou artista pode ficar chateado quando o seu gostar (o seu amar, na verdade) é questionado, já que se trata de algo tão pessoal e de natureza tão emocional.

Foi bem essa a realidade dos brasileiros em relação ao Los Hermanos até uns anos atrás. Quem odiava, fazia questão de bradar aos quatro ventos e dizer o quanto achava ridículo aquele universo de fãs devotados. Mas, como ridículas são também as cartas de amor, como dizia Pessoa, são também os sentimentos exacerbados que as canções da banda transmitem e contagiam os corações mais românticos. Na década de 2000, não houve outra banda no Brasil que pegou tão forte uma juventude.

Se voltarmos no tempo, na época do lançamento de Ventura (2003), possivelmente a obra-prima da banda, logo nos shows de estreia os fãs cantavam a plenos pulmões as novas músicas de um disco lançado havia poucos dias. Em especial "O vencedor", uma espécie de hino de uma geração, que Camelo gostava de deixar o público cantando sozinho os primeiros versos. Isso é captado também em um momento arrepiante do documentário de Maria Ribeiro, sobre a turnê que a banda fez em 2012, depois de um hiato de cinco anos sem gravar discos ou fazer turnês.

A diretora conseguiu, depois de certa resistência, a autorização dos músicos para acompanhá-los naquele período, não apenas durante os shows, mas também nos camarins e nos intervalos, como no passeio que eles fazem por Brasília ou dentro dos ônibus. Destaque também para a ao mesmo tempo discreta e brilhante presença de Mallu Magalhães, sempre ali perto, como uma espécie de Yoko Ono jovem e bela. O distanciamento de Camelo e Amarante, apesar do forte sentimento de amizade que ainda persiste entre os dois, dá pra se notar em cena em que o ruivo ensaia a então inédita "Tardei", de seu disco solo.

É num desses momentos mais intimistas, dentro de um ônibus, que o filme consegue um depoimento comovente de Marcelo Camelo sobre uma mãe que pede o autógrafo a ele, informando que o filho dela, falecido, amava a banda. Como se a situação em si já não fosse de muita emoção, ela lhe dá um abraço apertado e depois vai embora, apontando o disco autografado para o céu, como se estivesse mostrando ao filho. Camelo fica comovido. Quem não ficaria?

Aliás, tão belas quanto as poucas cenas de canções ao vivo são as reações apaixonadas do público durante o catártico evento registrado em algumas cidades. Quanto às músicas, destaque para "Além do que se vê", "De onde vem a calma" e "A flor", todas bastante sujeitas a respostas performáticas dos fãs, alguns deles, flagrados em lágrimas.

O que pode depor um pouco contra o filme é o quanto Maria Ribeiro tateia pra encontrar um rumo para o seu documentário, muitas vezes até forçando a barra ao rodar a câmera dentro de um ambiente fechado e apertado em que os músicos estão ensaiando.

Documentário é um gênero que muito deve ao acaso para que sejam especiais. Isso acontece até mesmo com mestres como Eduardo Coutinho. No caso deste sobre o Los Hermanos, o ponto de partida lembra o de OS DOCES BÁRBAROS, de Jom Tob Azulay, que naturalmente foi muito mais feliz em seu resultado, tanto pelo ineditismo dos registros, quanto pelas performances, quanto pelas surpresas que surgiram ao longo das filmagens.

O que acaba mais importando em LOS HERMANOS – ESSE É SÓ O COMEÇO DO FIM DA NOSSA VIDA é a chance dos fãs em poder ver na telona do cinema um filme sobre e dedicado a uma banda que também é querida pela diretora. Quando termina, dá um gostinho de quero mais. Por isso, pode-se dizer que Maria Ribeiro foi bem-sucedida em sua difícil empreitada. Os fãs agradecem o presente.

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