terça-feira, abril 21, 2015

PROFISSÃO MULHER



Falecido nesta segunda-feira, dia 20, Claudio Cunha deixou saudades. Nos jornais, poucos lembraram os filmes com conteúdo erótico que ele dirigiu na época da Boca do Lixo. A grande maioria só mencionou a peça O Analista de Bagé, que ele vinha protagonizando sempre junto a uma mulher bonita ao longo de vários anos. Muitos anos, aliás. A peça entrou até no Guiness Book, como peça que ficou mais tempo em cartaz. Quanto aos filmes, o único que eu havia visto dirigido por Cunha era justamente o seu último, considerado sua obra-prima, OH! REBUCETEIO (1984), muito provavelmente o melhor filme de sexo explícito já feito no Brasil.

A escolha de PROFISSÃO MULHER (1982) como filme-homenagem a Cunha veio principalmente pelo fato de ele estar de mais fácil acesso em meu HD. Ter a presença da lindíssima Simone Carvalho encabeçando os créditos também incentiva. Ela foi, inclusive, esposa do felizardo Cunha, que a dirigiu quando ela tinha 18 anos no filme AMADA AMANTE (1978). Os dois fariam mais três filmes juntos, sendo os outros dois, SÁBADO ALUCINANTE (1979) e O GOSTO DO PECADO (1980). Mas ela é certamente mais conhecida do grande público por seu trabalho em telenovelas.

PROFISSÃO MULHER é baseado no livro O Animal dos Motéis, de Márcia Denser, sucesso de crítica lançado em 1981. O livro é dividido em episódios, mas Cunha resolveu fugir do padrão comum na época, de se fazer filmes em segmentos, e elaborou uma interessante, ainda que nem sempre feliz, ligação entre as histórias de quatro mulheres (ou cinco, se contarmos também a personagem de Márcia Porto).

O filme acompanha a jornada dessas quatro mulheres em momentos de frustração e busca por amor. São elas as modelos Sandra (Wilma Dias) e Luiza (Simone Carvalho), a diretora de criação Natália (Patrícia Scalvi) e a secretária Vera (Lady Francisco). A narrativa começa com uma festa de fim de ano em uma agência de publicidade no Rio de Janeiro.

A primeira mulher que conhecemos mais a fundo é Natália, que encontra no álcool o consolo para sua vida amarga. São dela os diálogos mais pessimistas do filme, embora ela também contribua com seu belo corpo em duas cenas de sexo bem fora dos padrões, ao lado de Otávio Augusto, que vive um representante de vendas que ela conhece em um bar. Destaque para o momento em que eles tentam transar em uma praça e ela precisa terminar sozinha o “trabalho”.

Luiza, porém, é que a menina dos olhos do filme. Principalmente por ser encarnada por Simone Carvalho. Sua história nem é das mais interessantes – ela é apaixonada por um rapaz bonito (Mário Cardoso), que não se esforça suficientemente por ela –, mas há um momento bem especial, que acontece no apartamento de uma mulher mais velha que acaba levando seu namorado para a cama. Luiza e Natália se encontrarão ao final, numa discreta cena lésbica, que acaba servindo mais para provar para elas que a felicidade das duas não está nos homens.

O filme completa o quarteto de protagonistas femininas com a secretária subserviente Vera, adepta do sexo solitário e da água quente; e com a modelo Sandra, que se sente velha aos 30 anos e é cantada por um rapaz de 19. A cena dos dois no motel é interessante. Vale destacar também a presença de Márcia Porto no papel da sobrinha de Vera. Ela aparece nua, exibindo um corpo exuberante, e contracena com Claudio Marzo (outro que a dona ceifadora tratou de levar recentemente) numa cena bem bonita na praia.

Por pouco, Cunha não faz um filme ótimo. Faltou saber fazer uma boa conclusão, que no papel talvez até fosse uma boa ideia, mas que na realização acabou resultando fraca. Mas isso acontece. Nossa filmografia é composta por centenas de filmes deliciosamente imperfeitos. PROFISSÃO MULHER é um desses.

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