segunda-feira, abril 27, 2015

MAIS CINCO CURTAS



Mais uma série de curtas-metragens para descarregar um pouco a minha listagem de filmes a comentar. Dessa vez, há até filme mudo da primeira década de existência do cinema. Além, claro, dos tradicionais filmes brasileiros contemporâneos, reveladores de novos talentos e que passeiam por festivais, mas que só alguns poucos têm a sorte de vê-los.

CELIA

Faz parte de uma série de curtas-metragens para o canal exclusivo do youtube Wigs que apresenta recortes da vida de algumas mulheres. Fiquei interessado em CELIA (2012) por causa da direção de Rodrigo García e vi este pequeno filme no ano passado e revi agora para escrever um pouco a respeito. Trata do dilema de uma médica ao lidar com a filha de uma amiga pedindo que ela lhe faça um aborto. A garota é Dakota Fanning, a médica é Allison Janey. Embora não seja tão especial, a boa mão de García para tratar de assuntos da intimidade faz a diferença. Seu trabalho com a série EM TERAPIA (2008-2011) foi louvável, assim como outros filmes dele que acabam ficando injustamente esquecidos, como DESTINOS CRUZADOS (2009), QUESTÃO DE VIDA (2005), COISAS QUE VOCÊ PODE DIZER SÓ DE OLHAR PARA ELA (2000) e CONFISSÕES AMOROSAS (2002). Nos últimos anos ele vem se dedicando a trabalhos menores, intimistas e protagonizados por mulheres, como as séries CHRISTINE (2012) e BLUE (2012-2014).

LE DIABLE NOIR

Surgiu uma oportunidade de eu dar aulas sobre cinema numa disciplina de projetos da escola, e por mais que a turma dê muito trabalho, venho tentando tornar o fardo menos difícil. Assim acabei vendo um desses trabalhos de Georges Méliès, o grande pai do cinema de ficção fantástico. LE DIABLE NOIR (1905) é apenas divertido, embora seja um grande documento histórico de uma época em que o cinema estava engatinhando, mas que já tinha uma figura tão notável e disposta a fazer as mais diversas experimentações que contribuíram bastante para a evolução da sétima arte. Na trama, o diabo aparece no quarto de um homem apenas para perturbar o seu juízo, fazendo desaparecer e aparecer coisas. Méliès adorava brincar com isso.

GERU

Atualmente há uma série de curtas que trafegam pela vida de determinada pessoa ou comunidade e se estrutura como algo parecido com um filme de ficção. Daí que as fronteiras entre ficção e documentário estão cada vez mais borradas, o que eu vejo como algo positivo. GERU (2014) faz parte dessa leva e nos apresenta a Zé Dias, um senhor que perdeu a habilidade de falar depois que lhes arrancaram suas cordas vocais. Provavelmente por causa de um câncer na garganta. O filme tem uma luz muito bonita e valoriza o prazer de viver, apesar das circunstâncias do personagem. Imagens de O CANTOR DE JAZZ e o som de uma sequência-chave de O SÉTIMO SELO, de Bergman, ajudam a compor a poesia desse filme dos diretores Fábio Baldo e Tico Dias.

ATÉ O CÉU LEVA MAIS OU MENOS 15 MINUTOS

Visto em um dos vários festivais que o Cinema do Dragão promoveu no ano passado, ATÉ O CÉU LEVA MAIS OU MENOS 15 MINUTOS (2013) é um trabalho que talvez deva muito ao acaso, mas que se não fosse pela ideia ótima da diretora Camila Battistetti não teríamos o prazer de testemunhar esse divertido curta que também mistura ficção com documentário. Vemos duas mães levando três crianças em um carro. A câmera registra principalmente as crianças, muito pequenas ainda, e difíceis de domar e se acalmar, no banco traseiro de um carro. No meio do trânsito, essas crianças brigam, esbravejam, dormem. E ao final uma paz impera em nosso coração, por mais que em algum momento choro de criança no ouvido não seja algo que você curta tanto assim.

LOJA DE RÉPTEIS

Quando alguém fala que atualmente o melhor cinema do Brasil é produzido em Pernambuco eu costumo achar que é exagero, mesmo admirando várias produções vindas de lá. Mas ao ver um filme como LOJA DE RÉPTEIS (2014, foto), de Pedro Severien, eu começo a acreditar que essa afirmativa possa mesmo ser verdadeira. E nem é porque eu sou admirador do gênero horror, mas é de como o diretor consegue passar beleza e terror nas imagens, fotografadas em belíssimo scope. Na trama, Maeve Jinkings (sempre bem-vinda) e Fransérgio Araújo são um casal que mora em uma loja de répteis, mas por algum motivo surge a ideia de se mudarem. O marido não quer se desfazer de sua tão querida loja, mas a esposa sofre um acidente com o jacaré da casa. Outros acontecimentos, não necessariamente tão bem ligados (há uma impressão de grandes elipses entre uma cena e outra), surgem e elevam o filme a um patamar bastante elevado. Destaque para os travellings dentro da casa. De uma elegância e beleza admiráveis. A se ficar de olho nos próximos trabalhos de Severien.

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