quinta-feira, dezembro 25, 2014

O ABUTRE (Nightcrawler)























Um dos últimos grandes títulos a entrar em cartaz no circuito brasileiro em 2014, O ABUTRE (2014), estreia do roteirista Dan Gilroy na direção, é desses filmes que nos deixam com os olhos grudados na tela do início ao fim, e que traz um protagonista que está longe de ser um exemplo de ética e dignidade, mesmo que possa ser um exemplo de determinação e criatividade. Jake Gyllenhaal, indicado ao Globo de Ouro 2015 pelo papel, encarna um dos personagens mais memoráveis e sombrios de sua carreira, depois de ter flertado com as sombras em OS SUSPEITOS e O HOMEM DUPLICADO, ambos de Dennis Villeneuve.

O ABUTRE nos leva ao mundo das pessoas que ganham dinheiro com a desgraça alheia: as pessoas que trabalham em noticiários policiais sensacionalistas do tipo "quanto mais sangue melhor" e aqueles que saem à noite à procura de acidentes fatais, roubos, assassinatos etc. Quanto mais impactantes as imagens, melhor o cachê. E é assim que Lou Bloom, o personagem de Gyllenhaal, começa a ganhar sua vida. De ladrão barato, ele salta para dono de uma empresa captadora de notícias.

Lou Bloom é um exemplo de personagem que conquista a plateia, apesar de suas ações terríveis e no modo como ele trata seu empregado (Riz Ahmed, ótimo) e a editora-chefe de noticiários sensacionalistas de uma rede pequena de televisão, vivida por Rene Russo. Em nenhum momento Bloom tem qualquer sentimento de culpa ou escrúpulos. Ele não sabe lidar com pessoas e sua obstinação é tão doentia que para ter uma mulher ele é capaz de agir como um criminoso, revelando mais ainda o seu caráter de sociopata. A atuação de Gyllenhaal é auxiliada por sua magreza, conseguida especialmente para deixar o personagem com o rosto anguloso e os olhos esbugalhados.

Como exemplo de absorção entre personagem e narrativa, o filme se mostra tão cínico quanto o protagonista quando ele, dentro da rede de televisão, começa um discurso de homem trabalhador e exemplo do que há de melhor na sociedade americana e uma trilha sonora solene é ouvida ao fundo. Em sua maior parte, porém, a trilha de James Newton Howard, colaborador habitual de M. Night Shyamalan, está a serviço do suspense.

Outro grande destaque na parte técnica é o diretor de fotografia Robert Elswit, colaborador dos filmes de Paul Thomas Anderson. Se em SANGUE NEGRO ele havia imprimido as trevas na tela por meio da pouca luz e do simbolismo do petróleo, Elswit faz isso novamente: o sangue também é negro nessa Los Angeles noturna, fria e desprovida de amor.

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