quarta-feira, agosto 13, 2014

O MELHOR PAI DO MUNDO (World's Greatest Dad)



Robin Williams foi um dos meus grandes heróis do início de minha cinefilia. Culpa disso foi seu desempenho em SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, o único filme que eu vi três vezes no cinema. E foi aplaudido de pé pela audiência emocionada nessas três vezes, no extinto Cine Fortaleza. Aquele final é covardia, de tanta emoção que gera. Williams interpreta um professor que muda a vida das pessoas através da poesia. Por causa de seus métodos pouco ortodoxos, acaba ganhando inimigos na tradicional escola e sua influência é vista como nociva para os alunos. Principalmente depois que um deles se suicida.

Em O MELHOR PAI DO MUNDO (2009), filme que só fui descobrir que existia recentemente, poucos dias antes de sua morte, ele interpreta novamente um professor. E novamente o suicídio está presente. Não deixa de ser uma coincidência mórbida, levando em consideração sua partida desse mundo através de autoenforcamento, depois de não aguentar os tormentos da depressão. Por isso O MELHOR PAI DO MUNDO é o filme que mais dialoga com os últimos momentos do ator, com seu último gesto.

No filme, não é ele quem se suicida, mas ele é alguém tipicamente deprimido. Se ser professor já é uma atividade solitária, imagina ser professor sem ser minimamente apreciado pelos alunos. Suas aulas de poesia estão cada vez mais esvaziadas, principalmente depois de ter chegado um professor novo e cheio de energia, mais parecido com um atleta e de mais fácil identificação com os jovens. Pra completar, o diretor da escola ainda faz pressão, falando da possibilidade de ter que encerrar sua disciplina.

Como se não bastasse, o seu filho é um tremendo de um pé no saco. Um adolescente estúpido que só fala de sexo sem ter transado com ninguém, que é pego se masturbando usando aquele "método" de enforcamento pelo próprio pai, que diz que odeia tudo, que odeia música, que acha que tudo é coisa de gay etc. É um garoto tão chato que possui apenas um único e devotado amigo, colega de escola.

Apesar de tudo, seu pai se esforça para agradá-lo, sendo recebido com patadas por ele todo o tempo. Enfim, o garoto é tão insuportável que quando ele se suicida acidentalmente enquanto se masturba nem chega a fazer falta ou causar comoção. A interpretação de Williams, aliás, nem está tão convincente assim ao mostrar sua dor no momento da morte. Mas esse é um grande momento para o filme, o momento em que seu personagem tem a ideia de, para diminuir a vergonha do filho, limpá-lo, esconder a verdade, e escrever uma nota de suicídio. Uma nota que faz muito sucesso na escola, de tão profunda que fica para um garoto tão superficial.

Entra então outra grande sacada do filme, que é trabalhar em cima da questão da necrofilia da arte. É mais ou menos como acontece quando algum artista morre e muitos passam a lamentar, quando na verdade não estavam nem aí para a pessoa quando ela era viva. Na escola, o garoto passa a ser visto como um rebelde incompreendido e seu pai, por tabela, acaba ganhando popularidade. E mais ainda quando tem a ideia de escrever um diário para o garoto.

O MELHOR PAI DO MUNDO trata isso tudo num registro agridoce misturado com uma dose de humor negro, já que as situações ocorrem como numa comédia, mas no fundo sabemos a dor e a solidão daquele professor, apesar de ter como parceira sexual uma professora bonita e simpática. Talvez o filme só não alcance a excelência por ter um final pouco impactante, apesar de libertador. É um belo e um tanto obscuro trabalho, que não passou nos cinemas brasileiros e foi direto para DVD sem muito alarde. Ainda assim, pode ser lembrado como um dos títulos mais importantes da carreira de Robin Williams.

Meus filmes favoritos com o ator: O MUNDO SEGUNDO GARP (1982), BOM DIA VIETNÃ (1987), SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (1989), TEMPO DE DESPERTAR (1990), VOLTAR A MORRER (1991), O PESCADOR DE ILUSÕES (1991), JUMANJI (1995), HAMLET (1996), DESCONSTRUINDO HARRY (1997), GÊNIO INDOMÁVEL (1997), PATCH ADAMS – O AMOR É CONTAGIOSO (1998), O HOMEM BICENTENÁRIO (1999), A.I. – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (2001), RETRATOS DE UMA OBSESSÃO (2002), INSÔNIA (2002) e agora O MELHOR PAI DO MUNDO.

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