sexta-feira, agosto 15, 2014

NÃO PARE NA PISTA – A MELHOR HISTÓRIA DE PAULO COELHO



Quando lemos O Mago, a biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Moraes, a imagem que criamos do escritor e letrista de algumas das melhores canções de Raul Seixas é de que se trata de um sujeito mesquinho, covarde, mentiroso, enganador, entre outros adjetivos ruins que surgem ao longo da leitura. O livro pode ter sido pensado para beneficiar o escritor de O Alquimista, mas foi um tiro no pé em sua imagem, já que Moraes, além de entrevistar outras pessoas, não comprou as histórias escabrosas envolvendo magia e que são contadas no livro de uma maneira que passam a impressão nítida de que o biógrafo estava fazendo questão de dizer que aquilo não era verdade.

Curiosamente, no filme chapa-branca NÃO PARE NA PISTA – A MELHOR HISTÓRIA DE PAULO COELHO (2014), de Daniel Augusto, em sua estreia como diretor de longas-metragens de ficção, toda essa questão mística é mostrada de maneira muito esquiva. É possível que a roteirista Carolina Kotscho tenha preferido esse caminho para dar ao espectador possibilidades de que muito do que é visto como místico seja fruto da imaginação e da paranoia de Coelho.

E é curioso como as cenas em que o protagonista se mostra cheio de verdades e palavras de autoajuda são constrangedoras, ao passo que sua fase mais louca, nos anos 1970, parecem tão mais interessantes. Não resta dúvida de que se isso se deve ao fato de Raul Seixas ter cruzado a sua vida. E o curioso é que o filme ainda tenta queimar o filme de Raul, ao mostrar uma cena em que o cantor apresenta "Gita" como sendo uma música que ele criou, não mencionando o parceiro em um programa da Rede Globo.

A estrutura de idas e vindas no tempo da narrativa até que funciona bem e não dá para culpar a montadora pelo insucesso do filme. Não dava mesmo para salvá-lo com o material gravado, mesmo com as canções sensacionais de Raul Seixas que às vezes nos fazem gostar do filme (a cena em que toca "Meu Amigo Pedro" no carro do pai de Paulo Coelho é especialmente emocionante). E olha que Júlio Andrade é um grande ator e não faz feio na pele do escritor, assim como havia feito um Gonzaguinha admirável em GONZAGA – DE PAI PRA FILHO, de Breno Silveira.

O problema está principalmente no roteiro, nas intenções em homenagear o protagonista, escondendo seus defeitos – ele aparece, por exemplo, como um sujeito esperto e inteligente, na cena em que é pego pelos militares para explicar o que é a tal Sociedade Alternativa, enquanto no livro de Moraes ele é visto como um covarde. A maquiagem também não ajuda em nada ao compor o Paulo Coelho velho. Fica ridícula, assim como todas as cenas que se passam em 2013.

Sem falar que ainda fica a sensação (o que é até natural, nesse caso) de que o filme é curto demais para descrever uma vida. Obviamente não é essa a intenção, e o recurso de hiatos e mudanças temporais serve muito bem a essa narrativa fragmentada, que ao menos consegue contar a história e entreter, embora não consiga agradar por completo.

NÃO PARE NA PISTA deve atrair não apenas os fãs do escritor, mas também os do "Maluco Beleza". Aliás, é ele quem salva boa parte do filme. Outra coisa: como se trata de uma coprodução Brasil/Espanha, a presença da bela Paz Vega como uma de suas namoradas dos anos 1970 é também bem-vinda, ainda que numa personagem mal aproveitada e mal escrita. 

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