domingo, agosto 17, 2014

CINCO DOCUMENTÁRIOS BRASILEIROS



Sei que cada um destes filmes mereceria uma postagem exclusiva, mas nem sempre isso é possível e o passar dos dias faz com que a gente esqueça coisas que seriam fundamentais mesmo na mais simples das resenhas. Então, vamos de tentar resgatar da memória e do velho texto curto e grosso, mas com todo o respeito por esses trabalhos. Vale dizer que todos foram exibidos no Cinema do Dragão, lugar que tem valorizado e trazido obras que raramente outro traria. Não importando se esses filmes durariam apenas uma semana em cartaz, o serviço de utilidade pública da curadoria das salas tem sido feito com muito amor ao cinema e ao exercício de pensar e sentir. E muitas vezes com a presença do realizador para debate! Vamos aos filmes.

DOMINGUINHOS

Com o passar do tempo este documentário foi perdendo um pouco a força em minha memória afetiva, mas o trabalho realizado em seis mãos por Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e a cantora Mariana Aydar funciona como um belo tributo a esse músico que, para muitos, ficou à sombra de seu mentor Luiz Gonzaga, já que, mesmo tendo optado muitas vezes pelo jazz em seu sofisticado trabalho, foi no baião que ele nasceu e se tornou mundialmente conhecido. DOMINGUINHOS (2014) traz algumas imagens de arquivo de arrepiar, com a parceria do músico com medalhões da música brasileira, além de nos contar de maneira bonita e clara sua trajetória desde criança.

EM BUSCA DE UM LUGAR COMUM 

Quem diria que visitar as comunidades pobres do Rio de Janeiro, que se tornaram conhecidas no mundo todo graças aos favela movies e aos noticiários de jornais, se tornaria um negócio lucrativo para várias empresas de turismo. EM BUSCA DE UM LUGAR COMUM (2012), de Felippe Schultz Mussel, aproveita esse fato curioso para acompanhar esses turistas, de modo que nós sejamos também turistas nessa viagem, ainda que com um tipo de distanciamento e proximidade bem diferentes, já que fazemos parte do país, ainda que não necessariamente das comunidades. O que mais chama a atenção no filme é uma sequência perto do final, quando um grupo de crianças cresce sendo ensinada a obedecer cegamente à polícia, parecendo um trabalho de lavagem cerebral. Talvez esse seja o grande achado do filme de Mussel.

JÁ VISTO JAMAIS VISTO 

Se não fosse o nome de Andrea Tonacci dificilmente eu veria este média-metragem em que o cineasta de BANG BANG (1971) faz uma colagem de vários filmes não finalizados e filmagens caseiras e de viagens, de modo a encontrar um ponto em comum. De certo modo, naquele quebra-cabeças de pedaços de filmes das mais diversas bitolas é possível sim sentir uma unidade, ainda que de maneira um tanto difícil de dizer em palavras. Há algo muito parecido com um sonho em JÁ VISTO JAMAIS VISTO (2013), como alguém chegou a dizer na palestra com o realizador, ocorrida no cinema após a exibição desta obra rara e inédita no circuito. O filme foi exibido na Mostra Cinema de Garagem.

HÉLIO OITICICA 

Ainda que eu não tenha embarcado na viagem de HÉLIO OITICICA (2012), a ideia é muito boa. E vale destacar que o diretor César Oiticica Filho soube não apenas honrar a memória do tio, um dos mais conceituados artistas plásticos do Brasil, como também procurou emular o trabalho dele através do cinema. Tudo isso através de imagens de arquivo e de áudio, sendo que não há praticamente nenhuma intervenção ou entrevista que não seja do próprio Hélio Oiticica. Há, inclusive, algumas imagens que seriam secretas, com o artista utilizando cocaína em fotografias icônicas, como a de Luis Buñuel. O filme de montagem experimental também presta um tributo a alguns heróis de Hélio, como Jimmi Hendrix, o amigo Neville D’Almeida, Caetano Veloso, entre outros. É um filme que interessa não apenas aos estudiosos das artes plásticas, mas também aos cinéfilos e quem se interessa por arte no sentido mais amplo. As ideias de Oiticica eram de fato revolucionárias e estavam em sintonia com as décadas de 1960-70. O filme ganhou o prêmio de melhor longa-metragem em documentário no Festival do Rio de 2012.

O MERCADO DE NOTÍCIAS 

Um pouco mais próximo da memória, já que é um filme que ainda está em cartaz, O MERCADO DE NOTÍCIAS (2014, foto), de Jorge Furtado, não deixa de ser um trabalho desafiador para quem se presta a escrever a respeito. Já confesso minha ignorância ao desconhecer a grande maioria dos jornalistas presentes para compor esse que é um dos mais interessantes estudos sobre o jornalismo feitos no Brasil em cinema e que se utiliza também de uma peça do dramaturgo inglês Ben Johnson para compor um trabalho que une espirituosidade e intelectualidade. Como o próprio Furtado disse em debate ocorrido após a sessão, seu trabalho já será de muita utilidade se for um objeto de pesquisa para as gerações futuras. Foi um trabalho que demandou muitos anos e que será visto por poucas pessoas, diferente do que ele tem feito na Rede Globo, por exemplo, mas é um documentário agradável e com momentos incrivelmente divertidos. Vale lembrar que o gosto de Furtado por uma linguagem diferente da ficção e próxima do jornalismo, de certa maneira, já se mostrava presente em obras tão diferentes como o curta-metragem ILHA DAS FLORES (1989) e a minissérie A INVENÇÃO DO BRASIL (2000).

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