sábado, maio 31, 2014
NO LIMITE DO AMANHÃ (Edge of Tomorrow)
Não deixa de ser admirável a força de vontade de Tom Cruise mesmo diante de uma fase em que ele deixou de ser um astro tão forte em termos de popularidade. A não ser pelos da franquia MISSÃO: IMPOSSÍVEL, seus filmes não conseguem bater outros blockbusters, especialmente os de super-heróis, nem ele está mais trabalhando com cineastas de primeiro escalão, como na década de 1990 até mais ou menos a metade dos anos 2000.
Em vez disso, tem trabalhado com bons artesãos, cineastas respeitáveis, mas não exatamente autores. Será que isso se deve ao fato de ele ser bastante controlador? De todo modo, seus filmes continuam sendo cinema de entretenimento de primeira qualidade e NO LIMITE DO AMANHÃ (2014) não foge à regra. E Doug Liman pode ser considerado um diretor de respeito, tendo no currículo filmes como VAMOS NESSA (1999) e A IDENTIDADE BOURNE (2002).
Como alguns críticos já disseram, NO LIMITE DO AMANHÃ é uma espécie de cruzamento entre TROPAS ESTELARES, de Paul Verhoeven, com O FEITIÇO DO TEMPO, de Harold Ramis. Lembrando também que o tema do looping temporal também foi explorado em CONTRA O TEMPO, de Duncan Jones. Porém, o filme de Liman é melhor do que o de Jones, tanto na produção de saltar os olhos quanto no bom roteiro, baseado no romance de Hiroshi Sakurazaka.
O filme se passa num futuro em que a Terra é invadida por formas de vida extra-terrestres que já tomaram praticamente toda a Europa. O personagem de Cruise é um oficial de alta patente que é convocado para estar junto com o grupo que servirá de ponta de lança num ataque aos monstros na costa da França, como ocorreu na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial e foi tão bem retratado em O RESGATE DO SOLDADO RYAN, de Steven Spielberg.
Porém, a violência de sangue e tripas de SOLDADO RYAN e principalmente de TROPAS ESTELARES parece quase impossível de se ver na Hollywood dos dias de hoje. Há que se fazer muitas concessões. Felizmente, o filme é suficientemente bom e impactante para compensar essas faltas. Além do mais, a primeira cena do "desembarque" dos soldados na praia para enfrentar os monstros é sensacional. Uma das melhores cenas de ação dos últimos anos em blockbusters.
As forças da Terra não são páreo para os invasores. E Cruise morre praticamente de cara. Para voltar ao começo do filme. E repetir tudo o que lhe aconteceu. Ele se descobre num looping, sem entender o que acontece, até encontrar alguém que passou pela mesma situação.
Outro ponto positivo está no fato de Cruise abandonar neste filme a persona invencível e supercool de outros trabalhos para fazer brilhar sua parceira, a super-guerreira vivida pela bela Emily Blunt. Por que ela é tão boa em ação, descobriremos mais à frente, ao mesmo tempo em que aumenta a tensão sexual entre os dois a cada vez que eles se encontram. Se bem que esse elemento é bem sutil, em virtude da preocupação em salvar o planeta e as descargas de adrenalina. Ainda assim, torcemos para que o herói fique com a mocinha. Ainda mais depois do tanto que sofre.
Talvez o filme só perca um pouco de fôlego perto do final, quando o excesso de repetições acaba tirando um pouco o impacto de sua primeira metade. Ainda assim, a conclusão é belíssima, no estilo "agora se morrer, não tem mais jeito", ficando no ar um clima de excitação e quase desespero. São raros os blockbusters atuais que conseguem dar ao público a satisfação de ter visto um filmão.
sexta-feira, maio 30, 2014
A CANÇÃO DA ESPERANÇA (Too Late Blues)
Entre duas de suas obras mais incensadas – SOMBRAS (1959) e FACES (1968) –, o mestre dos cineastas independentes americanos John Cassavetes dirigiu dois filmes em Hollywood, A CANÇÃO DA ESPERANÇA (1961) e MINHA ESPERANÇA É VOCÊ (1963), dois trabalhos que não foram experiências agradáveis para o realizador. Tanto que depois da traumática experiência com MINHA EXPERANÇA É VOCÊ, ele resolveu dar um tempo na direção e trabalhar mais como ator.
A CANÇÃO DA ESPERANÇA, embora seja bem inferior ao impactante filme de estreia de Cassavetes, traz a marca do autor. E até guarda semelhanças com SOMBRAS, tanto no uso do preto e branco, quanto no fato de explorar a noite, o jazz e a dificuldade nos relacionamentos.
No filme, esse último elemento, inclusive, até ganha contornos shakespeareanos, com o personagem do agente musical (Everett Chambers) envenenando o protagonista John "Ghost" Wakefield (Bobby Darin) como o Iago da peça Otelo. No caso, "Ghost" estaria apaixonado pela aspirante a cantora Jess Polanski, vivida por Stella Stevens, e acaba se deixando influenciar pelas maquinações do ciumento agente musical.
Tanto Bobby Darin quanto Stella Stevens não eram as escolhas de Cassavetes para o elenco principal. Houve, no caso, uma imposição da Paramount. O diretor pensava em Montgomery Clift e sua esposa Gena Rowlands para os papeis, o que seria ótimo. Ainda assim, Darin, em sua estreia em um papel que não fosse cantando e Stella, um símbolo sexual que seria mais lembrada por sua participação em O PROFESSOR ALOPRADO, de Jerry Lewis, não fizeram feio. Ela, inclusive, lembra Marilyn Monroe, só que um pouco mais frágil e triste. Até porque a personagem exige.
O filme lida com personagens fracassados, ou que dizem preferir uma vida independente, embora necessitados do dinheiro para se sobreviver. Por isso, acabam se submetendo a trabalhos que não os agradam. O caso mais dramático seria justamente o de Jess, embora o filme siga o ponto de vista do amargurado "Ghost", que perde o que mais tem de importante em sua vida (a namorada, os amigos, a banda), por ter seu espírito envenenado.
Um dos problemas do filme é que "Ghost" não é um sujeito dos mais agradáveis, o que dificulta um pouco tanto uma possível identificação com o personagem quanto um sentimento de solidariedade com sua situação de arrependimento e amargura. E esse problema acaba contaminando o filme como um todo.
A caracterização de Stella também parece muito vinculada ao estilo hollywoodiano de interpretar da época, e acaba destoando do estilo livre e jazzístico de Cassavetes, por mais que saibamos que se trata de uma produção de um grande estúdio. Ainda assim, quem quer conhecer a filmografia de um dos mais importantes diretores do século é bom passar por essas obras tortas de sua carreira também.
quinta-feira, maio 29, 2014
PELO MALO
Alguns filmes têm a capacidade de ficar conosco durante dias e até meses, com imagens fortes e penetrantes. Isso acontece quando afeta de alguma maneira nossos sentimentos. E PELO MALO (2013), essa pequena produção venezuelana, de enredo aparentemente simples, já pode ser considerada uma das melhores surpresas do ano. Os inúmeros prêmios que o filme ganhou em diversos festivais fazem sentido depois que o assistimos.
No caso de PELO MALO, os principais sentimentos que o filme reserva para o espectador não são tão agradáveis. É ver o filme e sair do cinema com um gosto amargo na boca. Mas ainda assim admirado com a obra que se acabou de ver, que carrega muitas influências dos filmes iranianos protagonizados por crianças, como ONDE FICA A CASA DE MEU AMIGO?, de Abbas Kiarostami, O BALÃO BRANCO, de Jafar Panahi, e FILHOS DO PARAÍSO, de Majid Majid.
Na trama de PELO MALO, cujo título em espanhol sabiamente não foi traduzido para o português no Brasil, um jovem garoto está prestes a voltar às aulas, mas antes precisa tirar uma fotografia para a escola. Ele tem cabelos cacheados, mas deseja tirar uma foto com cabelo liso e roupa de cantor. A situação de sua família não é das melhores: a mãe, que antes trabalhava como vigilante noturna, foi demitida, e vive à procura de emprego, sem poder nem mesmo pagar a foto do menino.
Mas o que parece uma trama envolvendo preconceito racial (por causa do "cabelo ruim" do título) revela-se outra bem diferente, quando a mãe começa a achar que o comportamento de seu filho está um pouco estranho e que ele pode vir a ser gay. Assim, o filme segue dois núcleos: o do garoto e seu desejo inocente de conseguir algo simples, e da mãe, que passa por situações de humilhação para conseguir o emprego de volta. Entre os dois polos, um sentimento negativo se instala a ponto de intoxicar não apenas os personagens, mas a nós, espectadores, também.
Afinal, como lembrar das duas últimas cenas finais e não ficar com um nó na garganta diante do que nos é apresentado? Seja relativo às palavras duras que ouvimos, seja relativo à imagem que antecede os créditos. É quando percebemos a força imensa desse pequeno filme. Confesso que até agora meu coração ainda pesa.
quarta-feira, maio 28, 2014
X-MEN – DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO (X-Men – Days of a Future Past)
Quem acompanhou quadrinhos de super-heróis no Brasil na década de 1980 certamente deve lembrar com carinho de um arco de histórias dos X-Men chamado Dias de um Futuro Esquecido, escrito por Chris Claremont e desenhado por John Byrne. Trata-se de um dos mais memoráveis momentos dos heróis mutantes e uma história que se passa num futuro distópico que pegou muitos leitores de surpresa pela mudança de tempo e espaço e pela inteligência com que foi criada. Pouco dessa história foi aproveitado no longa X-MEN – DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO (2014), o que não quer dizer que o filme de Bryan Singer seja um tropeço.
Na verdade, o diretor faz uma ligação muito boa entre a "trilogia original", por assim dizer, e o excelente X-MEN – PRIMEIRA CLASSE (2011), dirigido por Matthew Vaughn, mas produzido por Singer. Assim, é uma chance de ver praticamente todos os heróis que participaram tanto dos primeiros filmes quanto de sua classuda versão sessentista. Logo, quem gostou de PRIMEIRA CLASSE certamente gostará de DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO, já que ambos têm um pano de fundo político. No novo filme, por exemplo, Wolverine viaja no tempo até 1973, um ano particularmente atribulado para os Estados Unidos, com o país saindo com o rabo entre as pernas do Vietnã.
Incluir uma trama envolvendo os mutantes dentro deste período histórico e destacar mais uma vez a questão do preconceito, que certamente encontra relação estreita com a homofobia e pode ser visto como um posicionamento político por parte de Singer, são mais dois acertos para a franquia, que por enquanto só encontra pontos fracos nos dois filmes solos do Wolverine.
A história começa no futuro, com Charles Xavier, Magneto, Tempestade, Wolverine, Kitty Pryde e outros mutantes sobreviventes tentando um modo de reverter a situação terrível em que eles e a população mundial em geral se encontram: em um mundo dominado pelos Sentinelas, robôs gigantes programados para encontrar e destruir mutantes (além de escravizar os simpatizantes). A ideia que o grupo encontra é levar o único mutante que teria condições físicas de fazer uma viagem no tempo em várias décadas sem ter seu corpo e mente destruídos no trajeto: Wolverine.
Seu objetivo é impedir que a então rebelde Mística (Jennifer Lawrence) mate o homem que idealizou os Sentinelas, Dr. Bolivar Trask, vivido por Peter Dinklage (GAME OF THRONES). Para isso ele precisará lidar também com as versões jovens de Charles Xavier e Magneto, agora inimigos mortais, como ainda seriam por muitos anos. E assim o filme deixa o soturno e pouco interessante visual do futuro para adentrar os coloridos anos 70, com uma direção de arte caprichada.
No meio do caminho, Logan encontra um jovem mutante que rouba a cena quando aparece: Mercúrio (Evan Peters). Nem nos quadrinhos o personagem é tão bem tratado. Há uma cena, em especial, que acaba fazendo dele o mais poderoso do grupo. Talvez tenha sido por isso que tiraram o rapaz de cena depois que ele ajuda o time numa missão.
O curioso é que mesmo com a sempre divertida questão da viagem no tempo e o fato de ter mais ação o novo filme não consegue atingir a excelência do trabalho dirigido por Vaughn. Talvez por falha de Singer, ou por falta de um roteiro melhor. Ninguém explica, por exemplo, como Kitty Pryde adquiriu o poder de fazer alguém viajar no tempo, já que nem nos quadrinhos isso existe. Ainda assim, não é um filme para deixar passar e é melhor que a maioria dos títulos produzidos pelos estúdios Marvel.
Depois da breve parada de Singer com a franquia, o cineasta tomou gosto com PRIMEIRA CLASSE e com este novo trabalho. Assim, já está agendado para 2016 mais um capítulo da cinessérie: X-MEN – APOCALYPSE. Certamente, a cena que aparece após os créditos de DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO estabelece uma ligação com o próximo filme dos mutantes.
domingo, maio 25, 2014
SEIS CURTAS BRASILEIROS
Acabei perdendo os três primeiros dias da VI Mostra Outros Cinemas, que este ano está acontecendo no ambiente aconchegante da Caixa Cultural. As presenças dos amigos Gabriel Carneiro (que apresentou seu curta BATCHAN na quarta-feira) e Camila Vieira me fizeram comparecer a essa quarta noite. Uma pena que mais pessoas não estejam prestigiando o evento. E nem vejo motivo para tal, já que é gratuito e os curtas, em sua maioria, são muito interessantes. Ainda assim, comecei o dia não muito bem, com um documentário em longa muito ruim, mas falaremos disso em outra oportunidade. Vale lembrar que também foi apresentado na noite JESSY, mas sobre este adorável filme, eu já havia comentado no ano passado, por ocasião de sua passagem pelo Cine Ceará. Na revisão, continua uma graça. Vamos aos outros curtas, todos de 2013.
MULTIDÕES
No começo demora um pouco a se acostumar com a estranheza da dramaturgia deste segundo trabalho de Camila Vieira. Houve uma bela evolução do seu primeiro trabalho (O COMEÇO, 2010) para este, que até remete, talvez sem querer, a alguns trabalhos de David Lynch (lembrei do velhinho do episódio final de TWIN PEAKS e do outro velhinho, o de HISTÓRIA REAL). A opção pela lentidão extrema no falar e no agir parece ser um problema no começo, mas, uma vez que aceitamos sua proposta, tudo parece fazer sentido. Especialmente quando percebemos uma espécie de crítica à velocidade com que a sociedade contemporânea quer que o mundo se comporte. O filme de Camila é uma obra de resistência, nesse sentido, e também por tratar da questão da violência, utilizando a dança e o teatro como adjuvantes. Destaque também para a ótima fotografia, que em alguns momentos utiliza cores lindas, como a de uma cena em particular, com a protagonista na banheira. 20’.
PARQUE SOVIÉTICO
Falando em fotografia, a primeira coisa que chama a atenção em PARQUE SOVIÉTICO, de Karen Black, é seu preto e branco, que valoriza as pedras e estátuas da praça onde dois ex-namorados se encontram para falar sobre um relacionamento mal resolvido. Todo falado em alemão, o filme se passa em uma praça na Alemanha que conta com uma estátua de Stalin. Trata-se de um belo filme, que conta com diálogos divertidos sobre a dicotomia capitalismo-comunismo, mas sua preocupação maior parece ser com a forma. Mesmo não apresentando tantas novidades estéticas assim, é bem prazeroso de assistir e não me incomodaria se tivesse uma duração maior. 10’.
DEIXEM DIANA EM PAZ
Com desenhos lindíssimos de Cavani Rosas e uma animação muito discreta, mas também bem elegante, DEIXEM DIANA EM PAZ (foto) ganha mais força com a narração em tom de fábula de Irandhir Santos. O filme de Júlio Cavani conta a história de uma mulher que, cansada da vida dura de dormir apenas cinco horas por dia, quando completa 30 anos, passa a querer dormir cada vez mais. Talvez falte ao filme mais impacto na condução da história, mas o visual é tão bonito, valorizando, inclusive, o corpo nu de Diana, que chega a compensar. 10’.
NO INTERIOR DA MINHA MÃE
Certamente foi o curta que mais encantou a audiência esta noite. NO INTERIOR DA MINHA MÃE, de Lucas Sá, é um delicioso documentário sobre a ida do cineasta à casa dos familiares de sua mãe em uma cidadezinha do interior do Maranhão. Sua visão sobre a cidade é como a de um moleque que engana os mais velhos para ganhar um doce. Detalhes como o comportamento da família, algumas cenas engraçadas (como o chiclete no guarda-roupa), imagens de programas de televisão e até de um trecho de A HORA DA ESTRELA, além da encantadora menina sapeca, irmã do documentarista, são elementos que parecem carecer de uma coesão. Mas o filme é tão agradável e simpático que seus supostos problemas podem ser relevados tranquilamente. É um curta para querer ver de novo e ter, para mostrar aos amigos. No debate, o diretor Lucas Sá se mostrou bastante simpático e divertido quanto o seu filme. De quebra, ainda confessou que todas as pessoas na ficha técnica do filme foram inventadas por ele. Sensacional. 17’.
CONTOS DA MARÉ
Um filme que tem vários admiradores e é tido por muitos como um dos melhores a despontar em festivais no ano passado, CONTOS DA MARÉ, de Douglas Soares, não teve o mesmo efeito sobre mim. A ideia é até interessante: pegar histórias fantásticas antigas dos familiares mais velhos e explorar ao longo do documentário, com direito a pessoas com cabeças de porco, de cobra e de lobo. A divisão por capítulos é interessante e cada começo de história promete algo que não é cumprido. Talvez a melhor história seja a do sujeito que criava porcos e praticava zoofilia com os bichos. Um dia nasceu um porquinho com a sua cara. 17’.
FERNANDO QUE GANHOU UM PÁSSARO DO MAR
O estraga-prazeres da noite, FERNANDO QUE GANHOU UM PÁSSARO DO MAR é o tipo de filme longo, aborrecido, desconjuntado e parece não ir a lugar nenhum, mesmo se passando em dois países diferentes: Brasil e Portugal. Um dos diretores, Felipe Bragança, não compareceu ao debate, mas enviou um bilhete informando que seu filme foi finalizado antes das grandes manifestações de junho de 2013. Mesmo tendo isso a seu favor, com a cena do índio manifestando sua insatisfação com a chegada da Copa e a falta de atenção das autoridades às comunidades carentes do Rio de Janeiro, a imagem que mais representa o filme é a de um sujeito defecando e limpando a bunda. Até parece uma autocrítica dos diretores (o outro é Helvécio Marins Jr.) à própria produção. Lembrando que Felipe Bragança é autor de um dos filmes mais chatos do cinema brasileiro recente, o longa A ALEGRIA (2010). Como roteirista, porém, ele tem oferecido algumas contribuições valiosas para o nosso cinema. 20’.
sábado, maio 24, 2014
SOB A PELE (Under the Skin)
Um dos cartazes mais famosos de SOB A PELE (2013) é o que mostra as pernas de Scarlett Johansson com as roupas íntimas caídas no chão. Tudo bem que Scarlett é um dos maiores símbolos sexuais da atualidade e ela resistiu muito em tirar a roupa nos filmes – nem Brian De Palma conseguiu. Aí chega um sujeito que dirigiu apenas dois longas-metragens (três com SOB A PELE) e faz com que ela aceite o papel desafiador de interpretar uma alienígena predadora em busca de presas humanas atraídos pelo corpo bonito de uma mulher. Mesmo a atriz não estando tão bela quanto em outros filmes, ninguém é de ferro para rejeitar a sua proposta e acabar caindo em sua armadilha.
O fato de ela ser uma alienígena e de o filme explorar a nudez e a sexualidade pode remeter um pouco a FORÇA SINISTRA, de Tobe Hooper, que apresentava uma mulher pelada andando por aí e sugando a energia dos incautos. Diferente do filme de Hooper, porém, SOB A PELE é mais enigmático, mais desafiador, traz mais perguntas do que respostas. É possível que o romance em que o filme é baseado ofereça algumas respostas, mas aí seriam as respostas do romance e não de sua adaptação.
Jonathan Glazer aposta pouco no enredo e mais na atmosfera. Embora haja momentos fantásticos, o fato de ele valorizar a natureza nas localidades duras da Escócia também torna o filme com um pé fincado no chão, contrastando com sequências próximas de um sonho, e fazendo com que algumas cenas sejam visualmente admiráveis como a de uma família correndo perigo em um rio revolto.
SOB A PELE começa com uma homenagem a 2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick. A tela preta, algo que parece ser um planeta cobrindo outro, o alvorecer de um novo ser surgindo. Depois, numa estrada, um misterioso homem leva o cadáver de uma mulher assassinada para que ela seja usada como imagem da nova predadora. Não há nomes de personagens, há apenas Scarlett dentro de uma van procurando pessoas solitárias e que vivem sozinhas. O aspecto de filme de horror se materializa na escuridão do espaço onírico em que as vítimas, totalmente excitadas, no sentido erótico mesmo, e hipnotizadas com aquela mulher, mergulham numa espécie de líquido viscoso. As imagens são impressionantes. Mas o melhor estaria por vir.
Que é quando a protagonista oferece carona a um homem com um rosto deformado. Neste momento, é até possível lembrar David Lynch. Não apenas o Lynch de O HOMEM-ELEFANTE, mas o de suas tradicionais e estranhas obras de horror mesmo, com uma trilha sonora que auxilia em diversos momentos a construção desse universo. A aparição desse homem deformado marca o momento em que a personagem começa a perceber dentro de si uma espécie de humanidade.
Aliás, hoje em dia a palavra "humanidade" é também carregada de conotações negativas, já que ser humano é também ser capaz de atos extremamente vis. Mas, no filme, a reviravolta se dá com essa consciência da personagem, que a tira do pedestal e faz com que ela mude de predadora para presa, sentindo-se confusa naquele mundo que pra ela passa a ser de descoberta espiritual.
Essa segunda parte do filme é um tanto mais arrastada em seu ritmo, mas ao mesmo tempo é também mais cheia de mistérios. Abre-se para mais perguntas. E mesmo que as perguntas sejam respondidas na superfície, resta saber também os significados por trás dos símbolos, por trás de cada ato da personagem. E também pensar nas intenções do cineasta.
Sobre o que é o filme, afinal? Sobre a vingança das mulheres contra os homens? Sobre abrir os olhos para o mundo? Sobre a beleza da natureza presente tanto nos homens quanto nas coisas? Ou sobre tudo ou nada disso? Eis a vantagem de ver um filme que levamos conosco ao voltarmos pra casa. Além de carregar também a memória fotográfica do corpo nu de Scarlett Johansson.
quarta-feira, maio 21, 2014
GETÚLIO
O cinema nacional este ano está indo muito bem, obrigado. Com a carência de filmes que retratem os momentos históricos mais importantes do Brasil, um trabalho como GETÚLIO (2014) é muito bem-vindo. Ter João Jardim no comando, que fez documentários tão bons como JANELA DA ALMA (2001) e PRO DIA NASCER FELIZ (2006), ajuda a imprimir um aspecto realista ao drama do homem que governou durante mais tempo o nosso país e que ficou ainda mais famoso com sua saída trágica "desta vida para entrar na História", conforme consta na carta de suicídio deixada por Vargas.
Assim, trata-se de um filme cujo final já é conhecido. Mas talvez por isso mesmo, e pela opção por um registro de thriller político e policial, que GETÚLIO é um filme tão tenso. Com a preocupação com o realismo por Jardim – e de seu parceiro e diretor de fotografia Walter Carvalho –, a figura de Vargas, representada no filme por Tony Ramos, é muito bem trabalhada, com detalhes, inclusive, da respiração ofegante do Presidente. A direção de fotografia de Carvalho, aliás, é mais uma vez um grande acerto, com os tons de marrom que predominam no ambiente do Palácio do Catete. Inclusive, o próprio Palácio foi usado como locação. E Jardim conta que tentou fazer o máximo possível para que a aura daquele lugar não eclipsasse o seu trabalho de dramaturgia.
No terreno policial, o filme também começa bem movimentado, com a tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), o inimigo número um de Getúlio Vargas, e que acabou vitimando o segurança do jornalista. As investigações apontam para Gregório Fortunato (Thiago Justino), chefe da guarda pessoal do Presidente. E sendo ele seu braço direito, fica fácil acreditar que o mandante do atentado foi Vargas. Quem leu o romance Agosto, de Rubem Fonseca, deve ficar o tempo todo pensando nas várias sequências de violência relacionadas a Fortunato.
Agora, é impressionante o quanto o filme é atual, remetendo a muitos momentos da atualidade: a crise no governa da Dilma, as pressões que ela tem sofrido, as manifestações contra o Governo pelo povo apesar do populismo, os vários indícios de corrupção saindo do alto escalão etc. E como só vemos um velho presidente em seus últimos 19 dias de vida, é muito fácil sentir-se solidarizado com sua situação e sofrer um pouco com seu fim trágico mas honrado. Mais uma vez a arte nos ensina que nem tudo é preto no branco.
Talvez o que possa atrapalhar um pouco a seriedade do filme seja um elemento extra-fílmico: há uma cena em que o Presidente está com um bife na mesa e está sem vontade de comer. Perguntam a ele por que ele não quer comer e ele diz que em São Paulo a carne é melhor. Qualquer semelhança com uma propaganda de carne por aí não é mera coincidência.
segunda-feira, maio 19, 2014
A ILHA DA MORTE (Island of Death / Ta Paidia tou Diavolou)
Certamente não haveria um filme como o horror grego A ILHA DA MORTE (1976) se não tivesse existido LARANJA MECÂNICA, de Stanley Kubrick. Foi a principal referência que vi neste exploitation grego, embora no livro Cemitério Perdido dos Filmes B, conta-se que o diretor, produtor, roteirista, fotógrafo e ator Nico Mastorakis tenha tido a ideia de fazer o seu "opus" depois de ter visto O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA, de Tobe Hooper.
Ainda assim, o protagonista do filme, Christopher, lembra, tanto na aparência quanto no comportamento agressivo, Malcolm MacDowell no filme de Kubrick. Porém, há um abismo enorme entre os dois filmes. Apesar de ambos terem a intenção de chocar com a violência, o trabalho de Kubrick é feito com esmero e cuidado por um cineasta genial, enquanto A ILHA DA MORTE é só um filme um tanto tosco que atira por todos os lados. O que não quer dizer que merece ser desprezado.
Pra começar, o casal de psicopatas, Christopher e Celia, são irmãos e mantém uma relação incestuosa. No começo do filme nem dá pra entender por que ele liga para a mãe de uma cabine telefônica dizendo que está transando com Celia, e a mulher fica horrorizada. Depois é que ficamos sabendo desse detalhe. Ela segue o irmão na trilha de morte numa pequena ilha da Grécia, enquanto são perseguidos por um detetive particular.
As principais motivações de Christopher são de natureza moral. Ele acha, por exemplo, que um casal de lésbicas ou um casal de dois homens são dignos de desprezo e merecem morrer por fazerem algo tão imoral. Em outra cena, depois de ter se aliviado com uma cabra, ele mata o animal, como se ela fosse a culpada pela zoofilia.
Também merece destaque (e é uma cena usada num dos melhores cartazes do filme) o momento em que Christopher, depois de ver sua irmã seduzir e transar com um pintor de paredes, mata-o com requintes de crueldade: pregando suas mãos com prego no cimento e fazendo-o beber a tinta até morrer.
Porém, falta algo que torne essas cenas grotescas realmente chocantes. Do jeito que são mostradas, tudo parece um cartum de mau gosto, sem ofender de fato. Na verdade, tive até que ver o filme em pedaços, de tão chato que achei depois de 20 minutos de duração. Pode ser visto como uma comédia de humor negro e ser degustado como tal para certo nicho de público. E sei que tem quem o admire. Porém, mesmo gostando de algumas bizarrices de vez em quando, elas não são o único elemento a tornar um filme suficientemente bom.
sábado, maio 17, 2014
BIG BANG: A TEORIA – A SÉTIMA TEMPORADA COMPLETA (The Big Bang Theory – The Complete Seventh Season)
Essas séries com muitos episódios por temporada (24, no caso) só confunde a cabeça da gente. Até porque não há tanta diferença assim entre esta sétima temporada (2013-2014) e a anterior, por exemplo. Ainda assim, sem precisar dar uma pesquisada nas sinopses de cada episódio, nota-se que a série segue mostrando os personagens evoluindo. Assim, passou de uma espécie de SEINFELD para nerds (estrelado por três homens e uma mulher) para se aproximar mais de FRIENDS, com os interesses românticos se sobressaindo cada vez mais.
Nesta temporada, por exemplo, tivemos o prazer de conhecer a nova namorada do mais antissocial do grupo, o Raj, que deixou de ser antissocial depois que ficou curado do bloqueio de falar com mulheres (atraentes). De certa forma, isso podava bastante o personagem nas cenas. Agora ele está mais livre para ser o mais amável da turma. Quanto às mulheres, ainda não aprendi a gostar de Amy, a namorada de Sheldon.
Por outro lado, Penny nunca esteve tão linda e brilhante. A atriz está em seu auge – o casamento parece lhe ter feito muito bem – e sua personagem está bem sintonizada com o grupo, admirada, por exemplo, em saber detalhes de STAR WARS. Agora apareceu uma personagem que pode competir em beleza com ela, a nova namorada de Raj, Emily, vivida por Laura Spencer. Espero que ela fique no elenco fixo.
O último episódio também aponta para novas mudanças para Leonard e Penny e, o mais importante, para Sheldon, que talvez volte diferente na próxima temporada. Resta saber se isso não vai estragar a série. Aliás, esse negócio de arranjar namorada pra todo mundo é bem coisa de novelinha. Se antes algum espectador nerd solitário se identificava com a turma, agora que eles estão todos seguros de si, esse espectador vai se sentir ainda mais infeliz com sua condição.
De todo modo, apesar de conter episódios que raramente são muito engraçados, THE BIG BANG THEORY continua sendo uma série agradável de ver, além de ser também de fácil compreensão para quem não entende nada de Física, de Biologia ou até mesmo quem não é nenhum especialista em quadrinhos de super-herói. Uma estratégia muito inteligente para conquistar uma fatia cada vez maior da audiência. Que está tão grande que renovaram a série por mais três temporadas.
Meus cinco episódios favoritos da temporada, não necessariamente nessa ordem:
1. "The Thanksgiven Decoupling". A turma passa o dia de ação de graças na casa dos pais de Bernadette e Howard se vê tendo que confrontar o sogro. Para sua surpresa, é Sheldon quem mais consegue conversar tranquilamente com o velho.
2. "The Locomotive Manipulation". Amy consegue convencer Sheldon a viajar com ele e o casal Howard e Bernadette dentro de uma locomotiva antiga no Valentine's Day. A viagem acaba sendo mais divertida para Sheldon do que ele esperava. Enquanto isso, Leonard e Penny se veem às voltas com o cachorrinho de Raj, que comeu algo que não devia e foi parar no veterinário.
3. "The Indecision Amalgamation". Raj fica na dúvida se fica com Lucy ou com a nova namorada, Emily. A conversa franca com Emily sobre a situação só deixou a moça ainda mais interessada no indiano.
4. "The Anything Can Happen Recurrence". Leonard, Sheldon e Penny saem pela cidade e têm uma noite de descobertas e surpresas. Enquanto isso, Raj pede uma ajudinha a Howard para se preparar para um encontro com Emily.
5. "The Status Quo Combustion". A season finale não poderia ser diferente: cheia de elementos mais ternos relacionados aos relacionamentos dos personagens. Quem rouba a cena, porém, é Sheldon, que se vê diante do aterrador monstro das mudanças.
sexta-feira, maio 16, 2014
GODZILLA
A comemoração dos 60 anos do primeiro filme de Godzilla foi em grande estilo. A começar pelos créditos iniciais, que emulam noticiários sobre desastres nucleares da década de 50, e que trazem no elenco gente como Aaron Taylor-Johnson (KICK-ASS - QUEBRANDO TUDO), Elizabeth Olsen (MARTHA MARCY MAY MARLENE), Bryan Cranston (série BREAKING BAD), Ken Watanebe (A ORIGEM), David Strathairn (BOA NOITE E BOA SORTE) e até mesmo a querida musa Juliette Binoche. Só esse cartão de apresentação já promete mais do que uma mera produção feita para entreter e ser esquecida logo após a sessão.
GODZILLA (2014), de Gareth Edwards, tem muito em comum com o filme japonês original de 1954 (como o fato de privilegiar bastante os personagens) e quase nada em comum com a equivocada versão de Roland Emmerich (1998). E o curioso é que, apesar de o filme conter outros monstros brigando com o Godzilla, trata-se de uma obra em que tudo é levado muito a sério. É até possível que alguém reclame que o filme não tem senso de humor. Mas certamente isso contribui a seu favor.
O prólogo nos apresenta ao personagem de Cranston e Binoche. Aliás, é de dar gosto vê-la no elenco. Valoriza muito o produto final, ainda que sua participação seja pequena. Depois de 15 anos, com o filho dos dois crescido (Taylor-Johnson) e agora também já casado (com a personagem de Olsen) e com um filho pequeno, o agora jovem marine recebe uma ligação de que o pai está preso no Japão. O motivo: ele invadiu uma área em quarentena, o local da tragédia da primeira parte do filme e que supostamente está contaminada com radiação. O filho segue, então, para o Japão, lugar que ele quer deixar para trás, a fim de esquecer as memórias ruins da infância.
Assim como dois filmes de Steven Spielberg – TUBARÃO e JURASSIC PARK –, um dos acertos de GODZILLA é saber valorizar os monstros, apresentando-os em poucos momentos de sua duração. E muitas vezes debaixo de muita escuridão, já que a maioria das cenas acontece à noite e sem luz artificial. E apesar de a câmera não ser subjetiva e não ter nada de found footage, o filme lembra CLOVERFIELD – MONSTRO, ao optar por não dar ao espectador uma visão ampla do que está acontecendo, até para passar a ideia de que o monstro é grande demais para caber numa tela de cinema. Mesmo numa tela IMAX.
Apesar de o filme ter o seu nome, Godzilla é uma espécie de coadjuvante de luxo na narrativa. Um monstro do bem, mesmo destruindo tudo por onde passa. O diretor, aliás, parece mesmo fascinado por monstros, já que criou dois adversários para o Godzilla muito interessantes. Não à toa seu filme de apresentação foi a produção inglesa MONSTROS (2010). De um orçamento modesto de 800 mil dólares, ele saltou para um de 200 milhões e com resultado artístico satisfatório. Muito bom quando Hollywood traz cineastas talentosos e esses artistas conseguem fazer um belo trabalho.
quarta-feira, maio 14, 2014
PRAIA DO FUTURO
A trajetória de Karim Aïnouz, ao mesmo tempo que se mostra cada vez mais coerente com sua temática, aos poucos parece perder a força em construir uma atmosfera que propicie uma emoção genuína. Já em O ABISMO PRATEADO (2013), esse cansaço transparecia. Em PRAIA DO FUTURO (2014), isso se torna ainda mais evidente. Ambos são, de certa forma, trabalhos de encomenda. O primeiro foi para compor uma série de homenagens a Chico Buarque (no caso, ele usou como inspiração a canção "Olhos nos Olhos"). O segundo foi feito mediante pressão de Wagner Moura, que queria de qualquer jeito trabalhar com Karim, admirador que é de seu trabalho. Ambos os filmes, se por um lado tem a coragem de nadar contra a corrente da linguagem cinematográfica mais convencional, alargando a duração dos planos, por outro, sua tentativa de parecer tão vanguardista quanto os melhores autores da atualidade acaba resultando em uma obra vazia.
Há, claro, uma intenção de trabalhar com a beleza dos corpos masculinos e isso pode ser valorizado do ponto de vista visual por boa parte da plateia, mas o problema de PRAIA DO FUTURO está longe de ser esse. Entre os vários problemas estão: a falta de uma história substancial (o fiapo de enredo até serviria se a direção fosse bem-sucedida); de uma dramaturgia e um texto de diálogos que não funcionam; de uma tentativa de parecer poético com imagens bonitas de Fortaleza e Berlim.
A beleza melancólica tão certeira em obras como O CÉU DE SUELY (2006), a minissérie ALICE (2008) e o filme experimental em parceria com Marcelo Gomes VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO (2010) parece esgotada nos dois últimos longas, por mais que o cineasta tente. Aliás, diria até que dá pra sentir saudade de O ABISMO PRATEADO, que pelo menos contava com a beleza e a graça de Alessandra Negrini rodando pelo Rio de Janeiro o filme inteiro.
Além do mais, é possível notar uma irregularidade no ritmo do filme, que até começa interessante, com a tentativa de o personagem de Wagner Moura tentar salvar dois turistas alemães de um afogamento. O salva-vidas só consegue salvar um deles do mar bravio da Praia do Futuro. Mas o outro acaba se tornando seu amante. O segundo ato, com a presença do personagem de Moura em Berlim, já procurando morar com o amigo/amante, é o mais problemático e anticlimático do filme, que só vai se recuperar um pouco com a entrada em cena de Jesuíta Barbosa, o jovem que vai à procura daquele irmão ingrato que o abandonou sem nem mesmo mandar notícias durante vários anos. Mas aí já é tarde demais. A massa já havia desandado.
No entanto, há uma sequência perto do final, "a carta de Aquaman para Speed Racer", que mostra um pouco desse Aïnouz poeta das imagens e das palavras de seus melhores trabalhos. Por isso, é mais do que válido continuar acompanhando a carreira do cineasta.
segunda-feira, maio 12, 2014
TRÊS FILMES FRACOS
Em dias em que ando irritadiço, o melhor é escrever sobre filmes que não me agradaram. São filmes de diferentes nacionalidades, mas que me provocaram sentimentos de tédio e sensação de tempo perdido, por mais que haja um ou outro momento de destaque. Então, comentários rápidos e rasteiros, pois o tempo urge.
DAISY DIAMOND
A curiosidade para ver esta produção dinamarquesa vem da presença de Noomi Rapace, revelada na primeira adaptação de OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES, e hoje alçada à estrela de Hollywood. Gosto muito da atriz e ver este filme anterior ao seu sucesso mundial não deixa de ser interessante, embora para mim tenha sido uma experiência cansativa. DAISY DIAMOND (2007) tem seus admiradores e talvez até seja considerada pela maioria um bom filme, mas não suportei o drama da mãe que mata a filhinha pequena e depois vai à procura de redenção e também de sucesso na vida profissional, levando muito de sua própria experiência dolorosa para as audições, já que a personagem é uma atriz à procura de emprego. O filme tem algo que pode ser visto como uma vantagem mas também como uma desvantagem: ele desmitifica o corpo da atriz para os seus novos fãs.
JULIO SUMIU
Não existe coisa mais triste do que uma comédia sem graça. Claro que há exceções. E nem sempre uma comédia precisa fazer você rir ou gargalhar. Há casos e casos. Mas não seria o caso de JULIO SUMIU (2014), de Roberto Berliner. O diretor, conhecido por documentários como A PESSOA É PARA O QUE NASCE (2003) e HERBERT DE PERTO (2009), estreia na ficção com esta comédia estrelada por Lilia Cabral, que faz o papel de uma dona de casa que acredita que seu filho Julio foi sequestrado por um traficante da região, o Tião Demônio (Leandro Firmino). Depois de uma reviravolta, o tal traficante entrega a ela várias sacolas contendo pacotes de cocaína para que ela os guarde em sua casa por uns dias. O problema é que o seu outro filho (Fiuk), devendo dinheiro aos mesmos traficantes, descobre os tais pacotes e acaba pegando uma parte para conseguir pagá-los. A falta de timing do diretor para comédias fica evidente, especialmente nas vezes em que entra em cena a personagem de Carolina Dieckmann, como a mulher "dadeira" da delegacia. Se eu fosse ela, teria vergonha do papel. Aliás, eu mesmo saí do cinema um tanto envergonhado.
MULHERES AO ATAQUE (The Other Woman)
Comparar a carreira de Nick Cassavetes com a do pai, o gigante John, é até covardia. Ainda mais quando ele vem com uma comédia tão boba quanto esta MULHERES AO ATAQUE (2014). Engraçado que a Cameron Diaz até que parece se esforçar para que o filme seja bom, mas é impressionante o papel ruim dado a Leslie Mann. Na trama, Cameron é uma moça namoradeira que acredita que finalmente encontrou o seu par ideal, na pele de Nicolaj Coster-Waldau, mais conhecido como o Jaime Lannister da série GAME OF THRONES. Acontece que ela descobre que ele é casado. E a mulher também acaba descobrindo e fica amiga da ex-amante. As duas procuram armar um jeito de se vingar do sacana. Ou as piadas são muito ruins ou eu ando mesmo muito ranzinza. De todo modo, dei boas risadas na cena escatológica. Vai ver é saudade dos irmãos Farrelly.
sábado, maio 10, 2014
O LOBO ATRÁS DA PORTA
Ver O LOBO ATRÁS DA PORTA (2013) é uma experiência e tanto. Trata-se de um filme admirável para um diretor que está debutando em longas-metragens, Fernando Coimbra. O mais recomendável, para que se possa se beneficiar inclusive da impactante conclusão da trama, é o espectador assistir o filme sem ter lido nada a respeito, embora algumas informações já estejam soltas por aí, como o fato de a trama ter sido baseada em fatos reais.
A história gira em torno do desaparecimento de uma garotinha de uma escola infantil. A mãe, Sylvia (Fabíula Nascimento), vai pegar a garota na creche quando fica sabendo que outra mulher foi pegar a menina. Desesperada e culpando a funcionária, o incidente vai parar na delegacia de polícia. O marido, Bernardo (Milhem Cortaz) é chamado também para depor. Com o interrogatório, descobre-se que Bernardo tem/teve uma amante, Rosa (Leandra Leal).
A estrutura narrativa é formada a partir de flashbacks dos depoimentos dos envolvidos, num formato já clássico, mas que é desenvolvido com extremo rigor por Coimbra, que prende a atenção do espectador até o fim que chega num clímax perturbador, auxiliado pelo excelente som, que ajuda a criar uma atmosfera opressiva muito bem-vinda para este tipo de filme.
Lembrando alguns filmes noir americanos dos anos 40 e 50, Coimbra nos presenteia com um atordoante thriller de suspense carregado de intrigas, sedução e sexo. O desaparecimento da menina é até de certa forma esquecido com a excelente condução narrativa, que mostra em especial a história do envolvimento entre Bernardo e Rosa.
Ambos os atores estão ótimos em seus papéis, mas há que se dar especial atenção a Leandra Leal por compor uma personagem tão intrigante. Leandra, com seu rosto angelical e agora com seu corpo de mulherão (há uma cena de nu da atriz que é impróprio para cardíacos), é também uma atriz especial que se entrega às personagens, não importando como deve aparecer em cena – lembrando, em especial, de NOME PRÓPRIO, de Murilo Salles. No papel da amante obsessiva de um homem casado, que chega até mesmo a invadir o domicílio de Bernardo para conversar com sua esposa, ela se aproxima de uma assustadora femme fatale. O papel de "lobo" pode estar, porém, na figura de Bernardo, um homem capaz de atos impensáveis para atingir o que deseja.
Além da direção bem conduzida, de um excelente elenco, de um som marcadamente presente e da linda fotografia granulada, em scope, do talentoso Lula Carvalho (TROPA DE ELITE, TROPA DE ELITE 2, ROBOCOP, BUDAPESTE, entre outros), há uma naturalidade nos diálogos que acentua o caráter realista da trama, embora toda a experiência para o espectador se assemelhe às vezes a uma fábula de horror que o convida a uma imersão. E o convite é tentador. Quando mal percebemos já estamos na toca do lobo. E aí já é tarde. O impacto final para o espectador se junta também a um sentimento de orgulho e alegria por presenciarmos um cinema de gênero tão ricamente construído em nosso país.
quarta-feira, maio 07, 2014
BATES MOTEL – SEGUNDA TEMPORADA (Bates Motel – Season 2)
Eis o tipo de série que pode até ter os seus defeitos, mas que é tão prazerosa de ver que a gente lamenta quando termina cada episódio. E lamenta ainda mais quando termina a temporada, que tem apenas 10 episódios. A segunda temporada de BATES MOTEL (2014), se não mantém o mesmo frescor e o impacto inicial da primeira, conserva o interesse e a empolgação, com roteiros e direção certeiros, além de uma capacidade de remeter fortemente à obra-prima de Alfred Hitchcock em vários momentos. Destaque também para a bela trilha sonora que emula Bernard Herrmann.
Esta temporada em especial, ainda que tenha seguido por um caminho do thriller de ação em muitas vezes, principalmente quando trata da subtrama de Dylan e sua relação com o tráfico de maconha na cidadezinha, há também uma tendência em se encaminhar para o melodrama clássico, especialmente nos episódios finais, nas cenas envolvendo Norma (Vera Farmiga) e Norman (Freddie Highmoore) juntos. Mas não sem deixar no ar o seu teor mórbido e um relacionamento edipiano.
A segunda temporada é também mais um passo rumo ao destino final dos referidos personagens. Só resta saber como se dará, na temporada ou nas temporadas seguintes. Até o momento a mão boa de Carlton Cuse (LOST, 2005-2010) tem ajudado bastante nos roteiros cheios de drama e suspense. Dos 20 episódios da série, 19 são assinados por ele.
Há um episódio em especial que merece ser citado: aquele em que a doce Emma (Olivia Cooke) quase morre ao tentar ultrapassar os seus limites físicos pulando de uma altura considerável para um rio. Trata-se de uma personagem adorável. Muito mais do que Bradley (Nicola Peltz), por quem Norman era apaixonado, mas que foi logo descartada no começo da temporada, por não ter muita relevância. Temo pela vida de Emma com o desequilibrado Norman por perto.
A nova temporada também dá mais espaço para o Xerife Romero (Nestor Carbonell), que com seus olhos expressivos e seu rosto sempre sério representa um homem da lei heroico e clássico. Também poderíamos dizer o mesmo para o irmão de Norman, Dylan (Max Thierrot), que ganhou contornos trágicos ao saber de suas origens, ao ser apresentado ao pai. Pelo visto, a sina de Norma é mesmo viver sempre em situações sombrias. No passado, no presente e no futuro. Vamos ver o que nos aguarda nos próximos capítulos. Agora, infelizmente, só em 2015.
terça-feira, maio 06, 2014
BYE BYE BRASIL
É impressionante o quanto a revisão de um filme faz a diferença. Especialmente quando há uma distância temporal bem grande entre a primeira vez e a mais recente em que o vemos. Atualmente, por exemplo, até por estar com muitas obrigações a cumprir, não estou conseguindo me concentrar em ver muitos filmes em casa. Acabo ficando com complexo de culpa e não finalizando nem mesmo longas de curta duração. Porém, dentro de uma sala de cinema, isso é diferente. Há uma imersão que dentro de casa é um pouco mais difícil, em especial quando estou com esse espírito mais inquieto.
Por isso, foi de um prazer até difícil de narrar poder rever BYE BYE BRASIL (1980), de Carlos Diegues, no cinema, em cópia restaurada, em 35 mm. A sessão foi dedicada a José Wilker, que neste filme está em um de seus melhores papéis. O filme é de uma fase de ouro para Cacá Diegues. Nem parece o cineasta medíocre que foi se tornando a partir dos anos seguintes.
Ver BYE BYE BRASIL é como penetrar no Brasil profundo. No sertão onde a televisão ainda não chegou (ou que chegou recentemente), na Amazônia, e até, muito rapidamente, em praias desertas de nosso extenso litoral. Trata-se, portanto, de uma experiência semelhante a de uma viagem, ao mesmo tempo em que é uma viagem, no sentido espiritual, pela alma dos personagens enquanto eles vivenciam suas experiências.
Os personagens principais são o casal que participa de uma pequena caravana circense, o Lorde Cigano, vivido por José Wilker, líder do bando; e Salomé (Betty Faria), mulher que, além de fazer performances "exóticas" no circo, também ganha algum dinheiro como garota de programa transando com políticos do interior. Junta-se ao bando o sanfoneiro Ciço, vivido por Fábio Jr., e a esposa grávida Dasdô, vivida por Zaira Zambelli. Aliás, cá pra nós, há um momento em que Zaira tira a roupa e se revela muito mais bela do que a Betty Faria. Naquele vestidinho de sertaneja humilde, difícil prever.
Com a união dos dois casais, Ciço se apaixona por Salomé. Ela, mulher experiente e amarga, rejeita seus convites loucos de fugir com ele para viver juntos para sempre. Cego de paixão, ele sequer tem planos de como administraria a vida a dois. Quanto ao personagem de Wilker, por trás de uma figura enganadora e cafajeste, há uma pessoa generosa e é talvez o personagem mais fácil de se gostar da história.
Mas o interessante é que BYE BYE BRASIL é um filme que não se prende ao enredo. Flui como um rio, sem muita preocupação de chegar a algum lugar. Se há uma pressa, que é especialmente da parte do personagem de Ciço, devido à sua paixão, ela é vista com lucidez por nossos olhos.
Com música de Chico Buarque, é uma pletora de temas que são convites a reflexão, como a chegada da televisão e a facilidade de deixar os espectadores feito zumbis; a tentativa de resistência do grupo, até como um símbolo daquele momento político; a pobreza do povo brasileiro; a busca de uma espécie de terra prometida; a verificação dos vários traços de composição de nossa diversa etnia etc. Filmaço.
segunda-feira, maio 05, 2014
O HOMEM DAS MULTIDÕES
Foi com muito prazer e um sentimento misto de alegria (por ter visto um filme tão bonito) e de melancolia (porque o filme lida com o tema da solidão com tanta sensibilidade) que saí da sessão de O HOMEM DAS MULTIDÕES (2013), de Cao Guimarães e Marcelo Gomes. O filme contou com a presença de Gomes e do produtor João Vieira Jr. para um debate após a sessão. Gomes trouxe sua simpatia e uma facilidade na comunicação que fez com que o espectador se sentisse, além de tudo, um privilegiado por estar ali. Meus agradecimentos, desde já, à turma do Cine Dragão do Mar por nos ter concedido essa graça.
O HOMEM DAS MULTIDÕES é um filme único em sua forma. Sua janela, como a de um retrato 3x4 em polaroide ou do Instagram, causa estranheza e um sentimento de sufocamento dentro daquele pequeno quadro no início, mas depois é só curtir aquele jeito diferente de fazer cinema, que valoriza também o que está fora do quadro, que fica, na maior parte das vezes, por conta da imaginação do espectador.
Baseado livremente no conto homônimo do escritor americano Edgar Allan Poe, o filme mostra o cotidiano de um maquinista de trem de uma cidade grande – no caso, Belo Horizonte. Juvenal (Paulo André) é um homem só, mas que de certa forma curte a sua solidão. Ele adora ficar anônimo no meio da multidão, ouvindo as conversas das pessoas ou vendo alguma coisa que lhe chama atenção nas ruas.
De poucas palavras, Juvenal passa a se aproximar de sua colega de trabalho, Margo (Sílvia Lourenço), cujo trabalho é ficar em uma sala fechada com televisões que mostram as várias estações ferroviárias. Ela também fica sabendo se acontece alguma irregularidade técnica durante as idas e vindas dos trens.
Margo também é uma solitária. Porém, bem mais afinada com os novos tempos. Não tem nenhum amigo no mundo "real" e ficou noiva de um sujeito que conheceu pela internet. Convida a única pessoa próxima do que seria um amigo, o calado Juvenal, para ser seu padrinho, mas este fica intimidado com o convite e a princípio diz "não".
A fotografia com filtros de imagens esmaecidas de Ivo Lopes Araújo, presente em vários ótimos filmes da safra recente, dá o tom desse sentimento que os diretores querem passar para o espectador. Há também uma excelente utilização de espelhos, que acabam por remeter aos próprios personagens e suas semelhanças e diferenças. Ou ao tom reflexivo que o filme provoca.
O HOMEM DAS MULTIDÕES, apesar de ter uma narrativa lenta e um formato bem fora do comum, não possui planos longos e isso contribui para um dinamismo na narrativa. Vale destacar os momentos em que os dois protagonistas estão na casa de Juvenal e a câmera não tem pressa para seguir os personagens. Em outra ocasião, durante a conversa para o convite do casamento, a câmera, em vez de usar o corte habitual do campo-contracampo, prefere o balé lento e elegante ao redor dos personagens, mostrando a tensão em seus rostos.
Os sentimentos dos dois são mostrados principalmente por imagens. Muito pouco por palavras. A não ser por Margo, que é capaz de se expressar bem por palavras mas também sabe lidar com silêncios que seriam constrangedores para outros, mas ela mora com o velho pai caladão vivido por Jean-Claude Bernadet. No entanto, fica no ar sempre a impressão de que Juvenal e Margo nutrem algum sentimento um pelo outro, embora talvez não saibam, e isso torna O HOMEM DAS MULTIDÕES também um filme sobre o encontro com o amor.
Trata-se de um trabalho de dois cineastas que entraram em sintonia. Marcelo Gomes, como ele mesmo disse no debate pós-sessão, já havia trabalhado com personagens solitários, mesmo sem perceber, em CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS (2005), VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO (2009) e ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA (2012). Cao Guimarães, também, principalmente em seus documentários, A ALMA DO OSSO (2004) e ANDARILHO (2007). Esse ar documental está presente em O HOMEM DAS MULTIDÕES, esse que é um dos melhores filmes deste ano.
domingo, maio 04, 2014
A NOITE DAS TARAS Nº 2
Há muito sobre o que escrever e muito para estudar e trabalhar e por isso mesmo acabo ficando angustiado ao parar para escrever para o blog e não ter condições físicas e intelectuais para fazer txtos sobre determinados filmes. Há, por exemplo, os filmes interessantes da Mostra de Cinema Brasileiro no Dragão, que está rolando atualmente. Mas, como hoje é domingo e estou sem inspiração, vamos de um texto sobre um filme visto há algum tempo, A NOITE DAS TARAS Nº 2 (1982), de Ody Fraga e Cláudio Portioli, "continuação" do superior A NOITE DAS TARAS (1980), de David Cardoso, John Doo e Ody Fraga.
Em comum, está o fato de ambos os filmes contarem com roteiros de Ody Fraga, um mestre no quesito sacanagem no cinema. Sei que não sou apenas eu que sente uma falta tremenda de homens como Fraga no cinema atual. Ele faz parte de uma geração que aparentemente não deixou herdeiros.
Quanto ao A NOITE DAS TARAS Nº 2, o curioso é que o filme dialoga mais com outro filme em segmentos, PORNÔ! (1981), de Luiz Castellini, David Cardoso e John Doo. Principalmente o segmento "O Prazer da Virtude", em que Matilde Mastrangi aparece deliciosamente vestida de freira, fazendo uma brincadeira metalinguística que também ocorre com o fato de a trupe de mulheres ladras assaltarem a luxuosa casa do astro do cinema David Cardoso, representando sua própria persona. O tal segmento se chama "A Guerra da Malvina", sendo que Malvina é o nome da personagem de Mastrangi, a líder da gangue. No fim das contas, elas não resistem ao charme de Cardoso, que acaba por transar com todas. No grupo, está a lindíssima Vanessa Alves, outro belo chamariz para o filme.
Curiosamente, o primeiro segmento não traz muitos elementos eróticos. Mas é muito mais interessante dramaturgicamente falando. Chama-se "Solo de Violino" e nos apresenta a um psicopata que costuma matar mulheres na rua e depois volta pra casa para tocar seu violino. Mora com a mãe, que sabe de seus problemas e pede que ele não saia com a vizinha, que está encantada com ele e seus solos. O problema é que começa a se estabelecer uma relação de amor entre os dois e resta saber como tudo isso vai acabar, tendo em vista o comportamento do protagonista.
No fim das contas, se A NOITE DAS TARAS Nº 2 fica atrás de outros ótimos filmes eróticos de segmentos, como os já citados A NOITE DAS TARAS e PORNÔ!, assim como outros como AQUI, TARADOS! (1981), AS SAFADAS e CONTOS ERÓTICOS, pelo menos tem uma primeira história interessante e que pende para o suspense e uma segunda história que traz Maltide Mastrangi e Vanessa Alves juntas. Não dá pra reclamar.
sexta-feira, maio 02, 2014
O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2 – A AMEAÇA DE ELECTRO (The Amazing Spider-Man 2)
Quem tinha reclamado de HOMEM-ARANHA 3, de Sam Raimi, já tem motivos para ter saudades do maltratado terceiro capítulo da primeira trilogia do "amigão da vizinhança" nos cinemas. Não que Marc Webb não tenha feito um bom trabalho no reboot O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA (2012), que reintroduziu o personagem com direito à presença da primeira namorada realmente importante de Peter Parker, Gwen Stacy, muito bem representada por Emma Stone, que pode não ser linda como imaginamos a personagem nos quadrinhos, mas é adorável.
E é justamente a atriz que faz valer a ida aos cinemas para ver este segundo filme do "cabeça-de-teia" dirigido por Webb. O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2 – A AMEAÇA DE ELECTRO (2014) só vale mesmo pelos momentos que exploram a história de amor de Peter e Gwen, e o peso que ele carrega na consciência por ter prometido, no final do filme anterior, a um moribundo Capitão Stacy, que ficaria longe de Gwen para que ela não corresse perigo. Como ele não consegue, alguma tragédia pode acontecer, até porque nos quadrinhos a morte de Gwen é um dos eventos mais trágicos e antológicos não só da Marvel mas de toda a mídia.
Outra coisa que vale a pena no filme é acompanhar a história de Harry Osborn, que aqui não é só o filho de Norman Osborn, conhecido nos quadrinhos como o Duende Verde. Interpretado por Dane DeHaan, o ator só não está melhor porque praticamente tudo no filme está desandado. A começar pelo principal eixo narrativo, que é a história envolvendo o Electro (Jamie Foxx), que no filme aparece como um João Ninguém que de repente se vê com super-poderes obtidos por um acidente nas Indústrias Oscorp.
Percebemos de cara quando a coisa não vai bem como atores tão bons quanto Jamie Foxx e Dane DeHaan ficam ridículos em seus personagens. Ao que parece, Marc Webb não teve, dessa vez, o auxílio de alguém que o ajudasse nas cenas de ação, como aconteceu no primeiro filme. Ou então foi muito mal assessorado. O que vemos é que ele até cobre bem os momentos que lembram (500) DIAS COM ELA (2009), o seu melhor trabalho, mas que são rápidos e fugazes. Há uma preocupação muito grande com o barulho, com a ação, como se isso fosse tornar, por si só, o filme melhor. Em muitos casos, esse tipo de coisa faz com que um filme de ação se torne mais chato do que qualquer filme considerado "parado" pelo público médio.
Não dá pra dizer mais muita coisa para não estragar o filme, embora "estragar" não seja um verbo que se aplique bem aqui. Porém, ficou um caminho aberto para que uma nova e importante personagem surja na vida de Parker no próximo filme. Quem sabe isso não ajuda, hein?
No mais, a experiência com o IMAX 3D, diferente do que aconteceu com NOÉ, não foi das mais prazerosas. Os óculos estavam demasiado escuros ou havia algo errado com a projeção. Sem falar que a cópia IMAX não vem com a cena pós-créditos do novo filme dos X-Men e a gente fica lá esperando feito besta por algo que foi noticiado na imprensa e que está presente nas cópias em 3D normal e em 2D.