sábado, maio 10, 2014

O LOBO ATRÁS DA PORTA



Ver O LOBO ATRÁS DA PORTA (2013) é uma experiência e tanto. Trata-se de um filme admirável para um diretor que está debutando em longas-metragens, Fernando Coimbra. O mais recomendável, para que se possa se beneficiar inclusive da impactante conclusão da trama, é o espectador assistir o filme sem ter lido nada a respeito, embora algumas informações já estejam soltas por aí, como o fato de a trama ter sido baseada em fatos reais.

A história gira em torno do desaparecimento de uma garotinha de uma escola infantil. A mãe, Sylvia (Fabíula Nascimento), vai pegar a garota na creche quando fica sabendo que outra mulher foi pegar a menina. Desesperada e culpando a funcionária, o incidente vai parar na delegacia de polícia. O marido, Bernardo (Milhem Cortaz) é chamado também para depor. Com o interrogatório, descobre-se que Bernardo tem/teve uma amante, Rosa (Leandra Leal).

A estrutura narrativa é formada a partir de flashbacks dos depoimentos dos envolvidos, num formato já clássico, mas que é desenvolvido com extremo rigor por Coimbra, que prende a atenção do espectador até o fim que chega num clímax perturbador, auxiliado pelo excelente som, que ajuda a criar uma atmosfera opressiva muito bem-vinda para este tipo de filme.

Lembrando alguns filmes noir americanos dos anos 40 e 50, Coimbra nos presenteia com um atordoante thriller de suspense carregado de intrigas, sedução e sexo. O desaparecimento da menina é até de certa forma esquecido com a excelente condução narrativa, que mostra em especial a história do envolvimento entre Bernardo e Rosa.

Ambos os atores estão ótimos em seus papéis, mas há que se dar especial atenção a Leandra Leal por compor uma personagem tão intrigante. Leandra, com seu rosto angelical e agora com seu corpo de mulherão (há uma cena de nu da atriz que é impróprio para cardíacos), é também uma atriz especial que se entrega às personagens, não importando como deve aparecer em cena – lembrando, em especial, de NOME PRÓPRIO, de Murilo Salles. No papel da amante obsessiva de um homem casado, que chega até mesmo a invadir o domicílio de Bernardo para conversar com sua esposa, ela se aproxima de uma assustadora femme fatale. O papel de "lobo" pode estar, porém, na figura de Bernardo, um homem capaz de atos impensáveis para atingir o que deseja.

Além da direção bem conduzida, de um excelente elenco, de um som marcadamente presente e da linda fotografia granulada, em scope, do talentoso Lula Carvalho (TROPA DE ELITE, TROPA DE ELITE 2, ROBOCOP, BUDAPESTE, entre outros), há uma naturalidade nos diálogos que acentua o caráter realista da trama, embora toda a experiência para o espectador se assemelhe às vezes a uma fábula de horror que o convida a uma imersão. E o convite é tentador. Quando mal percebemos já estamos na toca do lobo. E aí já é tarde. O impacto final para o espectador se junta também a um sentimento de orgulho e alegria por presenciarmos um cinema de gênero tão ricamente construído em nosso país.

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