quinta-feira, fevereiro 06, 2014

EU E VOCÊ (Io e Te)























Depois do suntuoso O PEQUENO BUDA (1993), Bernardo Bertolucci cansou um pouco de histórias complicadas de se filmar e preferiu entrar num caminho mais introvertido, com poucos personagens e com destaque para cenas em interiores. Dessa fase vieram BELEZA ROUBADA (1996), ASSÉDIO (1998), OS SONHADORES (2003) e este mais recente EU E VOCÊ (2012).

Essa fase também é dedicada a personagens mais jovens, que paradoxalmente devem entrar em sintonia com o estado de espírito do cineasta, um dos mais importantes da cinematografia italiana, e atualmente fazendo bem menos filmes e já tendo passado o seu auge criativo. Cada novo trabalho seu parece ser o último. E depois de OS SONHADORES, que é um filme ao mesmo tempo saudosista mas também cheio de vitalidade, parecia que não veríamos mais um novo trabalho do autor de O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (1972).

Adepto do minimalismo, EU E VOCÊ centra-se basicamente em um pequeno lugar escondido no subsolo do prédio em que o garoto Lorenzo (Jacopo Olmo Antineri) mora. O lugar, ele escolhe estrategicamente para ficar sozinho e enganar a mãe, que acreditará que ele foi para um passeio da escola. A ideia é ficar os sete dias longe de todos, trancado naquele lugar, já tendo preparado o estoque de comida, o computador e a música para ouvir e se desligar do mundo.

O que ele não esperava é que sua meia-irmã, Olivia (Tea Falco), fosse aparecer por lá, intoxicada com álcool e drogas, e pronta para passar por um período de abstinência. De início, Lorenzo não quer que ela fique, mas depois ele começa a querer a sua presença, admirando sua beleza, como se sentindo um amor proibido pela própria irmã, que ele mal conhece. Não chega a ser uma relação tão próxima sexualmente quanto em OS SONHADORES, mas há uma carga de tensão sexual leve entre os dois.

EU E VOCÊ está longe de ser um dos melhores trabalhos de Bertolucci, especialmente quando ele subestima a memória dos espectador, na cena do tatu dando voltas dentro de uma redoma de vidro, mas ainda assim é um belo filme. Talvez o momento mais bonito seja o que toca uma versão italiana de "Space Oddity", de David Bowie. A mesma canção que também é ouvida em um momento bem especial de A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY, de Ben Stiller.

A letra da versão italiana não tem muito a ver com a original, mas é bem bonita e representativa daquele momento dos dois. Quando a canção toca e Olivia canta, sob teor alcoólico, num misto de alegria e tristeza, nos sentimos cúmplices dos dois, sozinhos ali naquele bunker, longe do mundo, mas sabendo que é necessário se fortalecer e voltar para ele. Por mais que a tentação de se esquivar e curtir a solidão seja grande. Os introvertidos entenderão; os extrovertidos, não sei.

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