sábado, abril 06, 2013

NA TERRA DE AMOR E ÓDIO (In the Land of Blood and Honey)























Não dá para dizer que a estreia na direção de Angelina Jolie foi um desastre. Ela pegou um tema difícil e todo mundo sabe como nem sempre os norte-americanos conseguem se aproximar das realidades dos países de que eles ousam falar, gerando muitas vezes desconforto e até indignação nas nações. Quantas vezes eles conseguiram, por exemplo, mostrar o Brasil que não fosse através de uma visão estereotipada? Imagina o que não é, portanto, falar sobre uma região tão dividida e tão complexa como é a ex-Ioguslávia.

Mas Jolie teve coragem de enfrentar a empreitada com o seu NA TERRA DE AMOR E ÓDIO (2011), preferindo falar contar uma trágica história de amor em tempos de guerra. Se é que dá para chamar o massacre dos bósnios pelo exército sérvio de guerra, de tão covarde que foi. A guerra da Bósnia é considerada a pior e mais sangrenta guerra acontecida desde a Segunda Guerra Mundial. Mulheres foram levadas para satisfazer as necessidades práticas e sexuais dos soldados, sendo maltratadas e estupradas. Os poucos homens bósnios membros da resistência procuravam atingir os sérvios, mas seu poderio de ataque era muito pequeno e eles foram executados e enterrados, depois de terem passado algum tempo em campos de concentração. Parecia uma reprise dos tempos do Holocausto.

NA TERRA DE AMOR E ÓDIO procura simplificar um pouco a situação, para fins de dramaturgia. Assim, o filme começa com o primeiro encontro em uma festa amistosa entre Ajla (Zana Marzanovic), uma bela moça bósnia mulçumana, e Daniel (Goran Kostic), um soldado sérvio. A dança romântica dos dois é interrompida por um bombardeio. A partir daí tudo muda: os sérvios passam a dominar a situação, levando embora incialmente mulheres para servi-los. E, por conveniência do roteiro, ela é levada justamente para o campo militar em que ele serve. Não demora para que ele tente ajudá-la, de alguma maneira.

Obviamente, é muito mais fácil o espectador ficar do lado dos oprimidos. Até porque os opressores são pintados como monstros. E na verdade não deveriam ser tão diferentes assim, para fazer o que fizeram. Assim, pequenos gestos de resistência dos bósnios são encarados como heroicos, embora quase vãos. Depois de mais de três anos da chamada limpeza étnica, as forças das Nações Unidas conseguem deter os soldados sérvios, que foram mortos ou presos como criminosos de guerra. Mas o estrago já estava feito.

Curiosamente, quando o filme foi lançado internacionalmente, a dublagem conservava as línguas sérvia e bósnia. Mas a versão que chegou ao Brasil e que talvez seja a mesma distribuída nos Estados Unidos e em diversos outros países foi a versão em língua inglesa. Porém, o inglês sincroniza bem com a fala dos atores, o que dá para entender que o filme foi de fato rodado em inglês, mas depois dublado para as línguas originais, possivelmente pelos próprios atores, quase todos nascidos na Bósnia, com exceção de Rade Serbedzija, croata, e rosto conhecido de filmes como X-MEN – PRIMEIRA CLASSE e BUSCA IMPLACÁVEL 2 e de séries como 24 HORAS e a recente RED WIDOW. Com a indicação que o filme de Jolie recebeu no Globo de Ouro para a categoria de melhor filme em língua estrangeira, fica a leve impressão de que a opção pelas línguas originais foi pura estratégia de marketing.

O filme também ofendeu a muitos bósnios por mostrar a guerra de maneira cruel, mas ainda assim de forma bastante limpa, com uma fotografia com filtros que atenuam a violência e cenas de guerra com a preferência pelo uso dos close-ups, muito provavelmente pela falta de experiência de Jolie na direção. Ainda mais de um filme de guerra. A seu favor, NA TERRA DE AMOR E ÓDIO tem um bom par de protagonistas, especialmente a bela atriz Zana Marzanovic, a que mais convence no papel.

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