segunda-feira, outubro 29, 2012

HORAS DE VERÃO (L'Heure d'Été)























Para um apreciador da obra de Olivier Assayas, até que eu tenho demorado a ver os seus filmes, mesmo tendo a oportunidade de vê-los em casa. Já adiei tantas vezes CARLOS (2010), que perdi a conta. Acho que foi a repercussão do nome do diretor com seu novo trabalho, APRÈS MAI (2012), que me chamou a atenção para ver outro filme dele que estava me esperando, em excelente qualidade de imagem: HORAS DE VERÃO (2008), que curiosamente foi o filme que eu menos gostei do cineasta até hoje, tendo visto apenas seis longas e mais dois segmentos em que ele participou – PARIS, TE AMO (2006) e CADA UM COM SEU CINEMA (2007).

Ainda assim, o diretor consegue prender a atenção num filme que trata de um assunto aparentemente pouco animador: discussões entre irmãos sobre o espólio deixado pela matriarca da família (Edith Scob), que já antecipa sua morte iminente em seu 85º aniversário e fala ao filho mais próximo (Charles Berling) para onde ela acha que deve ir os trabalhos artísticos de um membro da família já morto há algum tempo, entre outros objetos da casa.

Já se percebe que os demais filhos têm pouco interesse em "velharias" ou mesmo em questões da própria família. A personagem de Juliette Binoche (linda, loira, e sempre usando roupas casuais) se mostra um tanto indiferente ao que acontece naquela reunião bonita de família, em um lindo jardim. Ela é uma designer que segue a lógica do mercado - quer vender as pinturas do tio nos Estados Unidos. O outro irmão, que mora na China com a família (Jérémie Renier), também tem muito pouco interesse, até mesmo em ficar na França. Ele está entusiasmado com o crescimento econômico de seus negócios em Pequim. Apenas o personagem de Beling é mais idealista, mas não o suficiente para mudar a cabeça dos demais.

Assayas usa uma dramaturgia bem naturalista, que disfarça os ótimos e bem calculados diálogos. E sua característica globalizante, por assim dizer, é vista principalmente na família esfacelada, separada em lugares distantes do globo. O que não é muito diferente de outras famílias que moram no mesmo estado, mas em cidades distantes. Apenas as distâncias e o mundo em si parecem ter diminuído.

Um dos chamarizes, além de ser um filme do Assayas, pra mim, foi a presença de Binoche. Pena que, apesar de ela aparecer como a primeira nos créditos, ela não é exatamente a protagonista, mas o personagem de Berling. O que não deixa de ser um tanto desapontador para fãs da atriz, como eu. Ainda assim, foi mais do que válido conferir este filme, que lida com valores – sentimentais, de mercado, artísticos. Obras e objetos que são considerados valiosos são desconsiderados pelos filhos da matriarca, que só querem sua parte do capital e ir embora.

O final do filme, com uma mudança de ótica para os mais jovens da família, os adolescentes netos da matriarca, faz lembrar ÁGUA FRIA (1994), um filme que celebra a juventude. E o curioso é que é da boca de uma das garotas que sai uma impressão triste sobre a venda da casa, do quanto ela sentirá falta daquele lugar que tantas alegrias já trouxe em reuniões de família. Com a festa dos jovens, a vida está de volta àquele lugar. Impressionante como o futuro, representado pelas crianças e adolescentes, se conecta com a nostalgia do que é deixado para trás pelos adultos.

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