terça-feira, maio 22, 2012
RAUL SEIXAS – O INÍCIO, O FIM E O MEIO
"Quem não tem presente, se conforma com o futuro."
Não precisou de muito esforço da parte do diretor Walter Carvalho e de seus colaboradores para que RAUL SEIXAS – O INÍCIO, O FIM E O MEIO (2012) se tornasse um belo documentário, por mais tradicional que seja na forma. O cantor e compositor baiano, considerado o nosso "rei do rock", é mostrado através de imagens de arquivo e ilustrado com depoimentos de gente como o irmão Plínio Seixas, as ex-esposas, filhas e companheiras de Raul, Nelson Motta (ele está em todas, mesmo), Pedro Bial, Paulo Coelho, Cláudio Roberto, Caetano Veloso, Marcelo Nova, entre outros.
O filme inicia com uma imagem de SEM DESTINO, filme de Dennis Hopper que foi precursor da "nova Hollywood" e um exemplar importante da chegada da contracultura em Hollywood. Dos filmes americanos, aparece também trecho de BALADA SANGRENTA, um dos vários filmes que Elvis Presley protagonizou e que foi uma obra que mexeu com a cabeça do jovem Raul, que se espelhou no "rei do rock" para construir a sua carreira de músico. No documentário, há, inclusive, depoimento de um dos colegas de infância que fez parte do fã clube de Elvis.
Como quase todo documentário ligado a uma pessoa que já morreu, é praticamente inevitável não encerrar com certa melancolia. A morte, que foi tema de uma das canções mais mórbidas de Raul, sempre nos leva a pensar sobre o sentido da vida e a mexer com nossas emoções. Há sempre o começo, com a personalidade a se formar e um futuro quase sempre brilhante pela frente; o meio, com o artista em seu auge de criatividade e popularidade; e o fim, no caso, a decadência física representada pelo uso abusivo das drogas e da bebida, que gera complicações em sua saúde já debilitada e que repercute nas apresentações tristes de fim de carreira, mal podendo ficar em pé, ao lado de Marcelo Nova.
Entre os depoimentos mais importantes, os de Paulo Coelho são talvez os mais curiosos. Por ser um escritor que não é exatamente uma unanimidade no Brasil, ele quase sempre não é bem visto. Ele lava as mãos quando diz que não se sente culpado por ter levado o então "careta" Raul para o caminho das drogas e da magia negra, que aquela era a sua filosofia de vida e que o cantor já tinha idade suficiente para decidir o que fazer da vida. Na biografia "O Mago", de Fernando Morais, é possível saber muito mais detalhes da parceria dos dois, inclusive o momento em que Coelho resolve deixar a magia negra e a vida que levava – ainda que no livro essa seja uma das várias histórias difíceis de acreditar.
Falando em magia, interessante também o depoimento de dois membros de um culto que os dois participavam, que comentam de maneira rápida acerca da ideia de demônio que a Igreja Católica construiu a partir dos mitos gregos. O fato é que esse esoterismo acabou se tornando a principal marca de Raul Seixas. Sem essa marca, o cantor não seria tão cultuado até hoje e suas canções, ainda que tão diretas que chegavam a todas as classes sociais, não seriam objeto de admiração, reflexão ou mesmo repulsa ou medo, por causa das letras ousadas (boa parte delas do Paulo Coelho) ou heréticas para os mais dogmáticos.
Talvez o que falte ao filme seja mais profundidade, já que há tanto a se falar sobre o cantor, mas isso seria impossível de se fazer com menos de duas horas de duração. Do jeito que ficou, é o suficiente para deixar o espectador emocionado, olhando para a tela do cinema em respeito, por alguns minutos, enquanto os créditos sobem. As imagens finais do documentário são de arrepiar, assim como o trecho escolhido para congelar a imagem e encerrar o filme.