quinta-feira, maio 17, 2012

O ENCOURAÇADO POTEMKIN (Bronenosets Potyomkin)



Entre os filmes mudos que me perseguiam e eu sempre fugia estava O ENCOURAÇADO POTEMKIN (1925), de Sergei Eisenstein. O motivo de eu ter fugido durante tanto tempo do filme está no fato de ele ser uma obra carregada de uma aura muito pesada. Além do mais, eu já havia tentado vê-lo uma vez, numa exibição na TV Cultura, mas não tinha conseguido passar do segundo ato. É aquele tipo de filme que é mais citado do que visto. Quem nunca viu a homenagem feita por Brian De Palma em OS INTOCÁVEIS da famosa cena das escadarias de Odessa? Viram a homenagem, mas dificilmente viram o original. E eu estava nesse grupo até bem pouco tempo.

De todo modo, O ENCOURAÇADO POTEMKIN está na minha lista de filmes que eu mais respeito do que exatamente gosto. Como CIDADÃO KANE, por exemplo. Ou CASABLANCA. Ainda assim, valeu a pena ter visto o filme e me senti preparado para ver outros trabalhos famosos de Eisenstein, como OUTUBRO (1928), ALEXANDRE NEVSKY (1938) e as duas partes de IVAN, O TERRÍVEL (1944, 1958). Até porque, no caso de OUTUBRO, é um filme que me interessa mais pelo contexto histórico e os demais por já serem filmes falados. Sim, apesar de toda essa maratona e de ter descoberto pérolas preciosas no caminho, ainda sou um pouco resistente ao cinema silencioso.

Mas como não dá para ignorar a importância de Eisenstein para a história do cinema, é preciso ver os seus trabalhos. E O ENCOURAÇADO POTEMKIN é comumente visto em listas de melhores filmes de todos os tempos e muitas vezes encabeçando a lista de melhor filme da década de 1920. Em eleição recente da Liga dos Blogues Cinematográficos, ele ficou na quinta posição. Além do mais, Eisenstein já pensava em cinema antes mesmo de existir cinema. Quer dizer, sua teoria da montagem já era utilizada antes no teatro, mas foi adaptada com o surgimento do cinema, caindo como uma luva.

A montagem do filme é realmente um caso à parte. Admirável. Algumas tomadas gerais, como a dos marinheiros fazendo uma espécie de mosaico com sua formação é impressionante. Mas é a sequência de 11 minutos da escadaria a mais memorável, quando vemos o povo sendo massacrado pelos guardas do Czar russo. Na época, após a Revolução de 1917, toda a arte soviética estava impregnada de propaganda política. E com o cinema não seria diferente. A trama, apesar de se passar em 1905, já é uma mostra à nova nação de que o caminho era aquele. De que o movimento socialista veio para ficar e salvar a população dos antigos dominadores. Ainda assim, nos tempos atuais, o filme pode ser visto de maneira independente de seu contexto histórico: como um exemplar da união do povo diante da crueldade dos poderosos para construção de um novo modelo de vida.

P.S.: Vejam o resultado final da eleição da Liga AQUI. O trabalho conjunto ficou superbonito, com textos da turma e novamente a arte espetacular do Egidio La Pasta Jr.