sexta-feira, maio 04, 2012
O CIRCO (The Circus)
O ano de 1928 pode ser considerado o ano de ouro para a história do cinema. Justo quando a técnica cinematográfica havia atingido o seu auge, surge o cinema falado para romper com a curva ascendente e ter que começar tudo outra vez, com obras próximas do teatral por causa dos equipamentos pesados e de outros entraves das primeiras produções da década de 1930. Não estou reclamando do som, longe disso. Até acho que ele sempre foi necessário, mas dentro do pouco que eu vi dos filmes produzidos nos anos 1920, foi possível perceber o quanto havia de precioso e mágico naqueles trabalhos.
O cineasta mais conhecido do cinema mudo é, sem dúvida, Charles Chaplin, que com seu Carlitos, o vagabundo de bom coração, conquistou o mundo, fazendo muita gente rir com seus curtas e longas-metragens feitos com esmero e perfeccionismo. O CIRCO (1928) é uma de suas obras mais perfeitas. Embora perca em ternura, por exemplo, para O GAROTO (1921), é um filme bem mais redondo, sem gorduras. Em O GAROTO, há, por exemplo, a cena do sonho, que passa a impressão de que foi incluída apenas para completar a duração de um longa-metragem. Em O CIRCO nenhuma cena parece ser descartável. E o que é mais importante: é o mais engraçado dos longas de Chaplin.
Impossível não dar boas gargalhadas a cada momento que Carlitos é perseguido por um jumento, entre outras sequências geniais. O filme já começa muito ágil, com um batedor de carteiras que é pego e acaba deixando a carteira no bolso do vagabundo. Ele, sem saber como aquela carteira veio parar ali, acaba aproveitando o dinheiro. Mas por pouco tempo. A fuga da polícia o leva a entrar em um circo decadente, no qual os palhaços não têm graça. Enquanto isso, ele mal chega lá e faz todo mundo rir, sem querer.
Diferente de muitos outros filmes de Chaplin, O CIRCO procura se esquivar do melodrama. Há o fato de o protagonista ficar apaixonado pela filha do dono do circo, mas o diretor/ator desta vez não usa isso para transformar a sua comédia em um drama, evitando que seja um filme de lágrimas, diferente, por exemplo, de O GAROTO, LUZES DA CIDADE (1931) e, principalmente, LUZES DA RIBALTA (1952). O CIRCO é todo alegria, ainda que o espectador sinta uma pontinha de amargo. É que o amargo serve aqui para tornar o doce mais refinado.
P.S. Fiz uma matéria para o blog do Diário do Nordeste sobre os filmes do verão americano. Confiram AQUI e AQUI.