Mais uma lacuna preenchida, depois de tanto tempo de apenas ouvir falar e ler a respeito, O GABINETE DO DR. CALIGARI (1920), de Robert Wiene, é daqueles filmes obrigatórios para estudiosos e entusiastas do cinema. Até por ser o filme-chave de um dos movimentos mais importantes do cinema mundial, o chamado Expressionismo Alemão, que também tem como outro grande título NOSFERATU, de F.W. Murnau. Mas O GABINETE DO DR. CALIGARI é mais representativo, pois trabalha de forma mais explícita os cenários disformes e tenebrosos e traz uma sensação de pesadelo que permeia todo o filme.
Desde o seu início, quando dois homens conversam e passa uma
mulher com aspecto zumbiesco - como a mulher zumbi de A MORTA-VIVA, de Jacques
Tourneur - e o mais jovem afirma que ela é sua noiva, que já se percebe que o
tom do filme será assim, sinistro. Em flashback, ele passa a contar a história
de quando ele foi com um amigo a uma feira de variedades, uma espécie de parque
de diversões, no qual um hipnotizador que se autodenomina Dr. Caligari diz
estar de posse de um sonâmbulo, um homem que está dormindo há 23 anos, mas que é
capaz de, quando acordado sob suas ordens, responder a qualquer pergunta da
audiência.
O amigo do protagonista faz então uma triste pergunta: "quanto
tempo eu vou viver?". A resposta do sonâmbulo é perturbadora e um close-up no olhar
assustado do pobre homem aumenta ainda mais o horror daquele momento. Tudo isso
é auxiliado pela fotografia que destaca os olhos fúnebres de Cezare, o
sonâmbulo, interpretado por Conrad Veidt, o homem que ainda interpretaria, anos
depois, outro tipo arrepiante do cinema mudo, em O HOMEM QUE RI.
O GABINETE DO DR. CALIGARI quase foi parar nas mãos de Fritz Lang,
mas como Lang estava ocupado com outro projeto, o filme passaria às mãos de
Robert Wiene. Mas trata-se de um trabalho conjunto, que partiu da ideia dos
roteiristas e que teve um desfecho modificado pelos produtores.