quinta-feira, janeiro 19, 2012
O GAROTO DA BICICLETA (Le Gamin au Vélo)
Para quem teve como cartão de apresentação dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne um filme "difícil" como O FILHO (2002), com sua câmera incômoda na nuca do protagonista, ver O GAROTO DA BICICLETA (2011) é como experimentar algo refrescante. Trata-se do filme mais acessível da dupla, por mais que se assemelhe a uma obra de Robert Bresson, o que não deixa de ser uma contradição. O filme narra, pelo menos inicialmente, a busca de um garoto por seu pai, que o deixou num internato e não deu mais notícia. O garoto não quer admitir que o ato do pai, de ter vendido a sua bicicleta e de ter dado um chá de sumiço, foi puramente por falta de caráter.
O garoto, com seu jeito por vezes selvagem e ao mesmo tempo capaz de despertar instintos maternais – que o diga Samantha, a personagem de Cécile De France -, lembra bastante o jovem Antoine Doinel, de OS INCOMPREENDIDOS, que se pode dizer que seja a principal influência do filme. Como os Dardenne costumam expor o lado mais sórdido do ser humano, aqui podemos ver esse mal representado na figura do pai do garoto e na do jovem traficante.
A opção por um registro seco numa história com tons dramáticos, mas com pouca utilização de música, faz a diferença e não transforma o filme em um melodrama lacrimoso, como um outro título que guarda parentesco com o dos Dardenne: LADRÕES DE BICICLETA, de Vittorio De Sica. Diferente desse marco do neorrealismo italiano, O GAROTO DA BICICLETA só de vez em quando se utiliza da música (de Beethoven), mas apenas para fechar alguma cena triste, dando-lhe um ar quase fúnebre ou ameaçador.
A busca da figura masculina para suprir a falta do pai e a figura maternal em Samantha, que em um dos momentos mais bonitos do filme é obrigada a escolher entre o namorado e o garoto, são elementos que fazem com que O GAROTO DA BICICLETA desperte sentimentos fortes no espectador. O garoto que faz Cyril, o estreante Thomas Doret, tem um desempenho espetacular, como se tivesse nascido para o papel. E não é à toa que o filme tenha figurado em tantas listas de melhores do ano passado. É mesmo um dos mais belos trabalhos dos brilhantes irmãos belgas.
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