sábado, setembro 03, 2011
O AMULETO DE OGUM
Um dos filmes mais divertidos de Nelson Pereira dos Santos, O AMULETO DE OGUM (1975) foi sua tentativa de se reaproximar do público, depois de ter feito vários filmes mais herméticos e dirigidos às classes mais intelectuais. O AMULETO DE OGUM é também responsável por tirar muito do preconceito que existia com relação às religiões afro-brasileiras, a umbanda e o candomblé, utilizando-se de seus mitos para contar a história de um rapaz que, depois de ter seu pai assassinado, ganha um poder e um amuleto: enquanto sua mãe estiver viva, ele terá "corpo fechado", bala nenhuma o matará. O rapaz é interpretado por Ney Sant'Anna, filho do diretor.
A montagem do filme é rápida, parecendo um pastiche de alguns filmes do início da Nouvelle Vague, mas com ênfase na violência e no crime. Ainda assim, há muito humor. Como o rapaz é levado para trabalhar com um bicheiro poderoso da região (Jofre Soares), ele comete alguns assassinatos a mando do patrão. Assim, algumas manchetes que aparecem nos jornais são superengraçadas, como "Mataram bicheiro no trem", "Mataram a mulher do promotor" e "A ONU exige a captura do assassino". Essa última é impagável. O que diabos a ONU teria a ver com um bandido de fundo de quintal? :D
A trilha sonora é de Jards Macalé, que interpreta o cego que conta a história do filme, mas também conta com algumas canções dos Rolling Stones, que aparecem no inferninho da cidade de Caxias e que funcionam bastante para situar o filme em sua época. Outra canção que aparece, mas na voz de um sujeito local, é "O show já terminou", de Roberto Carlos.
Das cenas de umbanda, a mais impressionante é a de quando uma entidade entra no corpo de Jofre Soares, no momento em que ele aceita os conselhos de um pai-de-santo autêntico, isso depois de ele ter se decepcionado com um pai-de-santo picareta. A figura da mulher forte, presente em grande parte dos filmes de NPS, aparece na personagem de Anecy Rocha, que trai o velho para ficar com o rapaz, e depois o trai também. Ela representaria a Pomba Gira, já que aparece uma estátua dessa entidade numa vinheta com o cego tocando violão.
Das informações contidas no livro "Nelson Pereira dos Santos – O sonho possível do cinema brasileiro", de Helena Salem, a que mais me chamou a atenção foi o depoimento de NPS sobre a organização do filme em ciclos de umbanda: o primeiro, do corpo fechado, é de Ogum; o segundo, da tentação da Pomba Gira; o terceiro, o ciclo de Exu, quando o protagonista se envolve com a cachaça; e depois vem a proteção de Oxum. Dá para notar que Erney José, o consultor para assuntos de umbanda, soube auxiliar direitinho o diretor para a construção da trama.
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