quarta-feira, abril 27, 2011

TURNÊ (Tournée)



Eis um filme que vai conquistando aos poucos o espectador, com seu jeito todo próprio, mas que muitos consideram herdeiro do estilo de John Cassavetes, cineasta de quem eu sou ainda muito devedor. TURNÊ (2010), de Mathieu Amalric, transparece um clima de improvisação do início ao fim, muito embora esse aspecto possa ter sido muito bem pensado e tratado até com certo rigor pelo diretor/ator.

Amalric, mais conhecido por sua notável interpretação em O ESCAFANDRO E A BORBOLETA, interpreta um ex-produtor de televisão de Paris que mudou de vida e anda com um grupo de strippers americanas itinerantes, fazendo aqueles espetáculos burlescos. O detalhe é que as garotas não são exatamente modelos, algumas delas estão bem acima do peso e a vida na estrada não é fácil. Ele, como diretor do espetáculo, costuma se mostrar sempre amável e isso passa um sentimento de afabilidade aos personagens, todos meio losers.

O fato de as mulheres andarem praticamente nuas com frequência não quer dizer que o filme seja erótico. A nudez delas é vista quase como uma nudez espiritual, como se elas estivessem também despidas de dignidade ou algo do tipo. Talvez essa impressão que eu tive se deva ao fato de que elas despertam mais tristeza do que excitação. E, provavelmente, essa seja a intenção de Amalric.

Ao voltar para sua terra, a França, para rever os filhos e a mulher, e procurar casas de espetáculo para que as meninas possam se apresentar, vamos conhecendo um pouco mais do personagem, seu passado, como ele é visto por aqueles a quem deixou, suas falhas, dando a ele uma proximidade com o espectador tal que quando o filme se aproxima do fim é justamente quando mais estamos gostando. E é melhor que seja assim.

TURNÊ ganhou o prêmio de direção em Cannes no ano passado.

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