quinta-feira, abril 28, 2011
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (Wuthering Heights)
Nem tinha a intenção de rever este filme tão cedo. Mas era uma daquelas obras que eu guardava com carinho, vistas no início de minha cinefilia e digno representante do ultrarromantismo. Clássico em quase todos os sentidos, exceto no de ser romântico, desvairado; diferente do clássico, racional. Mas é clássico no sentido de ser um dos filmes mais lembrados do ano de 1939, considerado por muitos como o ano de ouro de Hollywood. Talvez até haja um pouco de exagero nessa afirmação, mas não deixa de ter já se tornado usual.
A revisão de O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (1939) se deveu à leitura do romance de Emily Brontë para uma disciplina que estou ministrando de literatura inglesa. Tinha dois meses para terminar de lê-lo, mas – shame on me – não estou nem na metade. E fiquei logo curioso para ver como William Wyler fez para traduzir a obra para o cinema. O que ele teve que cortar para deixar o filme redondinho para os padrões hollywoodianos da época. E realmente ele fez um belo trabalho, cortando sem piedade personagens pouco importantes para que o filme fluísse bem. As quase duas horas de filme passam como se fossem apenas trinta minutos. (Diferente do livro, que está demorando dias e depende muito da boa vontade do leitor para a finalização.)
Em O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, o herói (ou antiherói), Heathcliff, é vivido pelo shakesperiano Laurence Olivier, que dá a dramaticidade necessária para tornar o personagem ao mesmo tempo puro de amor e envenenado por sentimentos de vingança e ressentimento. O personagem surge como um garotinho de aspecto cigano que foi adotado por uma família e que é o xodó do patriarca. Isso, até o velho bater as botas e ele ser transformado em criado, humilhado pelo irmão de criação, enquanto morre de amores por Catherine (Merle Oberon), que desde criança brincava com ele nos campos e com o tempo essa amizade foi se transformando em paixão.
Acontece que Catherine é uma garota que também sente atração pelo luxo, pela riqueza, e sente-se tentada a aceitar o pedido de casamento de um rapaz rico, Edgar (David Niven), não apenas maltratando o coração de Heathcliff, mas humilhando-o. É quando ele sai do vilarejo e volta rico, disposto a se vingar daqueles que o maltrataram. A sua presença repercute como um veneno para os habitantes daquele lugar.
O estilo discreto na direção do canceriano William Wyler contribui para que esqueçamos que estamos vendo um filme. Ainda que seja pouco valorizado dentre os adeptos da "política do autor", Wyler possui uma filmografia rica em títulos interessantes e memoráveis. O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, sem dúvida, é uma de suas obras mais notáveis.
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