sexta-feira, março 04, 2011
O AMIGO AMERICANO (Der Amerikanische Freund)
Houve uma época em que Wim Wenders era um grande diretor. Alguma coisa aconteceu com ele nos anos 90 que fez com que ele nunca mais se reerguesse. O AMIGO AMERICANO (1977) é um exemplar de um grande momento do diretor. Aliás, foi este o filme que o tornou mundialmente famoso. E neste trabalho Wenders já apresentava seu fascínio pelos Estados Unidos, ao trazer Dennis Hopper como coprotagonista e participações especiais de dois monstros sagrados do cinema americano: os diretores Samuel Fuller e Nicholas Ray, em participações carinhosas neste thriller que mostra um Tom Ripley, o personagem sociopata de Patricia Highsmith, num momento mais maduro de sua vida.
Neste sentido, o filme que mais se aproxima de O AMIGO AMERICANO é O RETORNO DO TALENTOSO RIPLEY, de Liliana Cavani, lançado em 2002. Os outros filmes que mostram o personagem o apresentam como um assassino odioso - O SOL POR TESTEMUNHA (1959), de René Clément, e O TALENTOSO RIPLEY (1999), de Anthony Minghella. Curioso notar que os quatro filmes foram dirigidos por cineastas de diferentes nacionalidades: um alemão, uma italiana, um francês e um inglês.
No filme de Wenders, Ripley mostra-se até um sujeito companheiro, amigável. Vendo o filme sem saber nada sobre as outras encarnações do personagem, inclusive na literatura, ficamos com a impressão de que o personagem é relativamente um bom homem. Por mais que esteja inserida nas entrelinhas o conceito da redenção de seu personagem. Na trama, Zimmermann (Bruno Ganz) é um homem que confecciona molduras para quadros e que está doente de leucemia, com pouco tempo de vida. O destino faz com que ele encontre pelo caminho Ripley, que lida com quadros falsos de pintores famosos. É assim que ele ganha a vida. Além do mais, está envolvido numa conspiração para utilizar Zimmermann como assassino. Em troca, o homem doente ganharia uma boa soma em dinheiro para deixar para sua família. Até lembrei na hora da série BREAKING BAD, que tem um protagonista que também está com uma doença terminal e começa a se envolver com atividades criminosas.
Se o filme já começa muito bem, com o titulo grande em vermelho e um andamento agradável e instigante, torna-se ainda mais interessante quando inicia-se a relação de amizade entre os dois homens. A obra de Wenders também pode ser uma espécie de estudo sobre o fascínio do homem pelo mal. No caso, um homem correto e honesto se envolvendo com o crime e depois tornando-se indiferente à morte, perdendo a inocência. Curiosamente, Bruno Ganz apareceria como um anjo caído em outro grande filme de Wenders, ASAS DO DESEJO (1987). O AMIGO AMERICANO também trabalha bastante com a cor vermelha, desde os créditos iniciais, passando pela decoração até pela coloração avermelhada do céu. Outro detalhe interessante é uma referência a um outro romance de Patricia Highsmith, que serviu de adaptação para um filme de Hitchcock, PACTO SINISTRO. Refiro-me à cena do trem, quando é oferecido a Zimmermann a proposta para matar um homem.
Ainda pretendo adentrar melhor a obra de Wim Wenders. Talvez ainda este ano. O AMIGO AMERICANO acabou funcionando como aperitivo para uma futura peregrinação pela obra do diretor. Mas tenho vontade antes de conhecer melhor a obra de Nicholas Ray, que serviu não apenas de coadjuvante para este filme, mas também foi homenageado por Wenders em UM FILME PARA NICK (1979).
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