segunda-feira, janeiro 10, 2011

ALÉM DA VIDA (Hereafter)



Quando ALÉM DA VIDA (2010) começa, com a impressionante sequência do tsunami, um espectador desconhecedor da obra de Clint Eastwood poderá imaginar que o filme continuará tão movimentado quanto o seu início. Aos poucos, porém, ele precisará entrar no ritmo do diretor, cuja sutileza e sensibilidade em seu ofício é algo cada vez mais admirável. O filme tinha tudo para se tornar um melodrama espírita desregrado, mas o diretor sabe compor cada cena com amor. É como se, à medida que ele fosse envelhecendo (agora com 80 anos), a vida se tornasse cada vez mais preciosa. Pois, por mais que a morte esteja presente na vida de cada um dos três protagonistas, é a vida o que mais importa no filme. Nesse sentido, o filme se liga a MENINA DE OURO (2004) e GRAN TORINO (2008), que também lidam com a morte, mas no caso de ALÉM DA VIDA, principalmente com a dor de quem fica, e de uma maneira bem menos sombria.

Em ALÉM DA VIDA, há três protagonistas vivendo em três lugares diferentes. Cécile de France é a jornalista francesa que tem uma experiência de quase morte depois de ter sobrevivido ao brutal tsunami que varreu a Indonésia. De volta à França, ela não consegue trabalhar tão bem, ainda impressionada com as visões que teve. Nos Estados Unidos, Matt Damon é um vidente que se recusa a praticar o seu dom, que considera uma maldição. Assim, ele busca uma vida normal, mesmo que tenha que se contentar com sub-empregos e com a solidão. Na Inglaterra, dois irmãos gêmeos bastante unidos tentam encobrir da assistência social os problemas que a mãe tem com o vício em heroína. Acontece uma fatalidade e um dos garotos morre.

Os que dizem que o filme é irregular até têm razão, afinal, Eastwood está costurando três historias distintas, ainda que no final elas se unifiquem. E é natural que uma ou outra história se sobressaia em relação à outra. No caso, o drama mais comovente pra mim envolveu a participação de Bryce Dallas Howard, na trama do personagem de Matt Damon. Ela está linda e há uma cena com ela experimentando comida com os olhos vendados num curso de culinária que é de dar água na boca, mas a sequência seguinte, no apartamento, é de causar dor no peito e lágrimas nos olhos. Talvez o problema do filme - se é que podemos chamar de problema - seja o fato de essa subtrama da Bryce se sobrepor às demais em força e em emoção, embora também considere um ponto alto do filme o episódio do menino no metrô.

Um detalhe curioso é o fato de que praticamente todos os personagens usam o Google para procurar alguma coisa. O Google simbolizando a globalização. Não no que ela tem de pior, já que o site de busca é responsável pela união de três pessoas fadadas a estarem juntas em algum momento de suas vidas. O filme é também uma mostra do quanto o mundo ficou pequeno, de quanto as distâncias se encurtaram. E quem sabe até o amor da sua vida esteja longe, mas num longe não tão longe assim.

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