terça-feira, junho 08, 2010
FAÇA-ME FELIZ (Fais-Moi Plaisir!)
Sempre tive certa resistência às comédias francesas. Exceto AS FÉRIAS DO SR. HULOT, de Jacques Tati, até a tarde do último sábado, eu nunca tinha gargalhado com tanto prazer em um filme francês antes. Sempre achei o humor dos franceses muito estranho. Não me refiro a comédias para sorrir e refletir, como as maravilhosas dirigidas por Eric Rohmer, mas a filmes feitos para fazer uma plateia inteira rachar o bico, coisa rara ultimamente até mesmo entre as comédias americanas. E eis que FAÇA-ME FELIZ (2009), do ator e diretor Emmanuel Mouret, conquista de vez os espectadores presentes no Espaço Unibanco Dragão do Mar. Primeiro, ao vermos as tentativas de Mouret de transar com a esposa assim que acorda. E ela sempre arranjando uma desculpa. Nesses momentos, o primeiro comediante que vem à mente é Jerry Lewis. Vemos o quanto Mouret bebeu na fonte do gênio da comédia americana dos anos 50 e 60.
Além de Lewis, Mouret presta tributo às screwball comedies americanas. A cena do zíper na festa remete a LEVADA DA BRECA, de Howard Hawks. Mas também remete a Charles Chaplin e a Buster Keaton. E outras cenas até ao Woody Allen da primeira fase, já que eu também me lembrei de algumas presepadas de Kramer e George em SEINFELD, que por sua vez são herdeiros do humor de Allen. Mas é importante dizer que não se trata de uma mera colagem do que de melhor se fez na comédia ocidental nas últimas décadas. Mas de uma reinvenção. Afinal, não existe bem uma fórmula para se fazer rir. Não é fácil. E Mouret conseguiu fazer isso muito bem. Não à toa que já faz um bom tempo que ele é sucesso na França. E que bom que ele está sendo descoberto no Brasil.
A própria trama de FAÇA-ME FELIZ já é, por si, só bastante divertida. Desconfiando que o marido (o próprio Emmanuel Mouret) está à beira de traí-la, a esposa (a bela Frédérique Bel) prefere que ele, a fim de salvar o casamento, transe logo com a tal mulher com quem ele trocou telefones. O personagem de Mouret é meio bobão, vai sendo levado pela maré das circunstâncias, que o levam a locais que ele jamais iria imaginar, a partir do momento em que ele encontra Elisabeth (Judith Godrèche), que mora numa mansão e é filha de um dos homens mais importantes do cenário político francês. Mas é impressionante como Aneth, a empregada da mansão (Déborah François, que fez o seu début em A CRIANÇA, dos irmãos Dardenne), rouba a cena a cada aparição sua, por mais discreta que seja. Não por acaso, ela acaba desempenhando um papel bem maior do que o esperado lá pelo final do filme.
Depois de FAÇA-ME FELIZ, acho que é o caso de ir atrás dos filmes anteriores de Mouret. E pra quem ainda tem chance de ver o filme na Mostra Varilux, não perca! Pra quem prefere esperar pelo lançamento comercial, fique de olho, pois parece ser uma dessas pérolas que poucos têm ideia do valor e que não deve passar muito tempo em cartaz.
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