segunda-feira, maio 31, 2010

O ESCRITOR FANTASMA (The Ghost Writer)























É um prazer poder estar numa sala de cinema com pessoas interessadas no novo trabalho de um dos diretores mais importantes surgidos na geração da contracultura. Roman Polanski, apesar de ter começado a carreira em seu país natal, a Polônia, tornou-se um cidadão do mundo. O fato de não poder pisar em solo americano não impede que seu filme se passe nos Estados Unidos, em particular numa ilha próxima de Nova York, numa luxuosa casa de praia do ex-primeiro ministro britânico inspirado em Tony Blair, odiado por muitos, por sua participação, junto com o presidente americano, na invasão ao Iraque, levando à morte muitos soldados ingleses e americanos.

Polanski volta a flertar com o film noir, território que lhe é familiar, como podemos lembrar em trabalhos memoráveis como CHINATOWN (1974) e BUSCA FRENÉTICA (1988). O ESCRITOR FANTASMA (2010) foi realizado em circunstâncias bem especiais. Devido ao fato de o cineasta estar preso, ele deu as instruções finais de pós-produção da prisão na Suíça.

Como um bom exemplar do gênero, a trama funciona como um labirinto, com o protagonista (Ewan McGregor) sendo arrastado para situações estranhas e perigosas. O filme começa com um carro sendo rebocado no meio de uma avenida. Logo depois, vemos um corpo morto na praia. É do ghost writer (a expressão em português ainda me é estranha) do Primeiro Ministro. Entra em cena o personagem de McGregor, um homem que ganhou fama por terminar suas obras rápida e eficientemente. Precisando do dinheiro, ele aceita a oferta tentadora de dar continuidade ao trabalho iniciado pelo escritor recém falecido: escrever as memórias do ex-Primeiro Ministro Britânico, vivido por Pierce Brosnan. Achando tudo muito estranho, o escritor vai em busca de detalhes da vida do controverso político. É quando entram em cena coadjuvantes de luxo, como Tom Wilkinson e Eli Wallach. Completando o elenco estelar, Kim Cattrall, como a secretária e amante do político, e Olivia Williams como a esposa.

Curiosamente, o personagem de McGregor não tem nome. Aliás, o seu nome nunca é citado, o que pode passar desapercebido pelo espectador. Há uma sensação de desorientação geográfica e psicológica, o que talvez seja proposital. Outra curiosidade diz respeito à construção da Nova York. Não chegou a ser tão bem cuidada quanto a de Stanley Kubrick em DE OLHOS BEM FECHADOS, em Londres. Aqui, o cuidado foi mais com coisas menos complicadas, como carros americanos, fios de telefone e casas de madeira, que pelo que li não são tão comuns na Alemanha, o verdadeiro local das filmagens.

Ainda no terreno das curiosidades, embora goste de Hugh Grant, creio que ele não faria o personagem tão bem quanto McGregor. E não deixa de ser curioso e triste o fato de Polanski não ter podido receber um prêmio pela segunda vez por causa de um caso de polícia: o Oscar de direção por O PIANISTA (2002) e agora o prêmio na última edição do Festival de Berlim, quando ele já estava em prisão domiciliar. A prisão, porém, meio que pôs Polanski novamente sob os holofotes e talvez isso signifique mais dinheiro no caixa, já que o filme passa longe de ser uma produção luxuosa como seus trabalhos anteriores.

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